Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
SESSENTA ANOS DO PLEBISCITO QUE MOSTROU A FORÇA DO POVO
Publicado em 8 de janeiro de 2023Nada mudou. O povo pensa de uma forma, é iludido pela demagogia da classe política. Vai às urnas eleger seus representantes – que após conquistarem seus mandatos – trocam de figurino e personagem para interpretarem papel de vilão, esquecendo que suas posturas foram de “mocinhos”, nos palanques das campanhas.
Nas eleições de 1960, Jânio Quadros venceu o Marechal Henrique Teixeira Lott, apoiado por Juscelino Kubistchek que concluía sua brilhante gestão, em sintonia com o slogan de sua campanha, cinquenta anos em cinco. Kubitschek Construiu a nova Capital do Brasil (Brasília), a primeira grande rodovia que uniu o norte ao centro oeste (Belém/Brasília). Trouxe a indústria automobilística para o país, criou a SUDENE e o BNB para tirar o nordeste da extrema pobreza; modernizou o país.
A Constituição de 1946, foi promulgada com três equívocos, que provavelmente tenham sido responsáveis por todas as crises políticas vividas até 1998: não permitia reeleição, o eleitor votava separadamente no vice, e não havia segundo turno. Em 1960, Kubitschek teria sido reeleito. Todavia, cinco anos antes (1955) provavelmente não teria vencido o pleito em segundo turno. Foi o primeiro, entre os quatro candidatos, apenas com 36% dos votos válidos, razão que motivou a tentativa de Golpe de Estado em 11/11/55 – movimento liderado por Carlos Lacerda e Carlos Luz presidente da Câmara – apoiado pela maioria do Senado e Suprema Corte. O Ministro da Guerra Teixeira Lott, fechou Câmara, Senado e Suprema corte, impôs o impeachment de Carlos Luz e do vice-presidente licenciado Café Filho. Decretou o Estado de Sítio, e o Senador Nereu Ramos comandou o país entre 12/11/55 até 31/01/1956 data da posse de Juscelino.
Jânio (1960) se elegeu através de uma coligação com pequenos partidos, chancelada pela grande UDN. Obteve 48% dos votos válidos, abrindo uma maioria ampla sobre Lott, que disputou pelo PTB/PSD, além de mais três pequenas legendas. A UDN tinha indicado o vice de Jânio, o Senador Milton Campos. Lott tinha como vice João Goulart. O povão atropelou a vontade dos “Caciques”, e brigavam nas ruas pela chapa “Jan-Jan”, que era Jânio Quadros e João Goulart, popularmente conhecido como Jango. João Goulart venceu com aperto: 41,63% contra 38,80% de Milton Campos. O presidente tomou posse e tinha como seu principal adversário, o vice (?).
Após seis meses de governo, Jânio renunciou. O Congresso não o deixou governar. Se o vice não fosse votado, o eleito teria sido Milton Campos da UDN. Jamais teria havido 1964. No dia da renúncia de Jânio, seu vice João Goulart (PTB) estava em visita oficial à China. Militares e maioria do Congresso tentaram impedir sua volta ao Brasil. Brizola através da cadeia da legalidade e com apoio de Lott – mesmo na reserva – um líder Militar, conseguiu seu retorno e posse em 07/09/1961, como Presidente Chefe de Estado, governado pelo Parlamento. Uma emenda Constitucional votada às pressas, implantou provisoriamente o Parlamentarismo no Brasil até 1965, quando seria realizado um Plebiscito para decidir se o regime permaneceria Parlamentarista ou voltaria ao Presidencialismo. Casuísmo para impedir João Goulart de governar.
O Parlamentarismo trouxe a primeira grande crise econômica do Brasil, com a carestia (inflação) desenfreada, e desvalorização da moeda. O povo culpava o Congresso. Três grandes greves gerais abalaram o país. A saída foi antecipar o Plebiscito para 06/01/1963. O voto foi obrigatório e a abstenção foi considerada crime eleitoral. Nas urnas, 78% da população optou pelo presidencialismo, com João Goulart à frente do governo. Porém, tarde demais. João Goulart apoiado pelo Sindicalismo, tornou-se refém do CGT- Comando Geral dos Trabalhadores, controlado pelos comunistas, que queriam assumir o governo a qualquer custo, deixando Goulart como “Rainha da Inglaterra”. O mesmo povo que o elegeu vice, foi às ruas para defenestrar o Parlamentarismo e lhes devolver os poderes de presidente, sentiu-se traído, voltou à praça pública para pedir sua renúncia, num amplo movimento com apoio da Igreja, da família brasileira, alcançando as Forças Armadas. Sessenta anos depois, a “Juristocracia” dos dias de hoje deveria olhar no retrovisor da história: o poder emana do povo.