

Emir Gurjão
Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.
Ressuscitar o passado: avanço da ciência ou brincadeira de Deus?
Publicado em 9 de abril de 2025A Colossal Biosciences acaba de realizar um feito que mistura ficção científica, tecnologia de ponta e polêmica: trouxe de volta à vida o lobo-terrível, uma espécie extinta há mais de 10 mil anos. Os filhotes nasceram em laboratório, graças à combinação de engenharia genética e inteligência artificial. Um marco histórico para a ciência – mas também um alerta para a humanidade.
Estamos, afinal, reparando danos causados pela ação humana ou cruzando uma linha perigosa da qual não há volta? Espécie extinta, ecossistema extinto O Aenocyon dirus habitava um mundo que já não existe. Era parte de um ecossistema selvagem, repleto de presas e predadores gigantes, com um clima e uma geografia muito diferentes dos atuais. Hoje, os ambientes estão urbanizados, os ciclos ecológicos foram alterados, e o ser humano domina praticamente todos os espaços. Colocar esse animal novamente em cena é como tirar um guerreiro medieval do passado e jogá-lo no meio de uma metrópole moderna – as regras mudaram, os perigos são outros e ele não sabe mais como viver.
Fronteira entre ciência e arrogância Não há como negar o avanço extraordinário da biotecnologia. Em poucos anos, saímos do mapeamento genético para a edição de genes, clonagem, e agora a ressurreição de espécies. Mas Página 1 Ressuscitar o passado: avanço da ciência ou brincadeira de Deus? a ciência moderna precisa de um freio: o da ética.
Reviver animais extintos pode parecer fascinante, mas qual é o propósito real disso? Estamos tentando corrigir a extinção natural ou simplesmente satisfazer um desejo de controle absolutosobre a vida? O risco aqui é a ciência perder seu rumo e se transformar em um laboratório de vaidades. E se trouxermos pessoas de volta? A mesma tecnologia usada para recriar lobos extintos pode, um dia, ser usada para recriar seres humanos do passado. Um filho de faraó egípcio, um guerreiro viking, um neandertal. A pergunta não é se é possível – é o que faríamos com essas pessoas.
Elas teriam liberdade? Direitos? Ou seriam tratadas como experimentos vivos? Reviver a biologia é uma coisa. Reviver a consciência é outra bem mais complexa. E os dinossauros? Estamos preparados? O próximo passo, especulam alguns cientistas, pode ser ainda mais ousado: recriar dinossauros carnívoros, como o gigantesco Tyrannosaurus rex. Uma criatura que podia alcançar 8 metros de altura e quase 40 metros de comprimento. Fascinante? Sim. Mas completamente fora de escala para o mundo atual.
A natureza levou milhões de anos para moldar os ambientes que temos hoje. Reintroduzir Página 2 Ressuscitar o passado: avanço da ciência ou brincadeira de Deus? predadores extintos pode gerar consequências catastróficas Conclusão: o passado não deve ser refeito – deve ser compreendido A ciência nos deu ferramentas poderosas. Mas, como em toda grande conquista, a sabedoria está em saber usá-las com propósito. Reviver espécies extintas pode parecer uma forma de redenção, mas também pode ser um passo rumo a um desequilíbrio irreversível. A pergunta que devemos fazer não é “podemos?”. A pergunta é: por que faríamos isso? E a resposta não pode estar na vaidade de dominar a vida – mas sim no compromisso com a vida que já existe.