Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

(PARTE III) – As dificuldades da classe política alcançar o povão através da mídia

Publicado em 25 de fevereiro de 2024

O médico paraibano Drault Ernani – uma das maiores fortunas do Rio de Janeiro graças a amizade e confiança conquistada junto ao imperador das comunicações do Brasil Assis Chateaubriand – em janeiro de 1952 o encontrou casualmente no aeroporto. Chateaubriand estava apressado. Mas, ao se despedir deu uma ordem: “Ah! Tenho uma missão para você. Vá a Paraíba. Estou precisando de uma cadeira no Senado nos próximos noventa dias”. Drault Ernani ficou petrificado. Todos sabiam que o dono dos Diários e Emissoras Associados era excêntrico. Tinha enlouquecido!?

Respondendo calmamente, Drault tentou explicar: “Dr. Assis, o problema é o tempo. As eleições para o Senado aconteceram há dois anos (1950) e a próxima só daqui há dois anos” (1954). Chatô rebateu: “sei muito bem disto. Consiga a renúncia do atual senador e suplente”. A constituição permitia uma eleição suplementar, indireta, realizada pela Assembleia Legislativa. Mas, o que posso prometê-los, além de dinheiro? Indagou Drault. Duas vagas vitalícias no TCU, garantiu Chatô.

Talvez esta tenha sido a tarefa mais difícil de Drault. Contudo, tinha que cumpri-la. Havia recebido de presente a Refinaria de Petróleo de Manguinhos, a única privada, permitida por Getúlio, após a Lei do “Petróleo é nosso”, com a criação da estatal Petrobras. Antes de vir à Paraíba, Drault resolveu a questão das renúncias no Rio, Capital do Brasil. Adalberto Ribeiro exigiu a Procuradoria Geral do Rio de Janeiro e Vergniaud Wanderley se contentou com a vaga do TCU. Drault pegou seu avião e veio à Paraíba. Em 04/04/1952 estava tudo resolvido. A ALPB elegeu Chateaubriand. Esta foi a única eleição indireta para o Senado, registrada na história do Brasil.

Dono do Jornal O Norte, Diário da Borborema, Rádio Borborema e Cariri, Chateaubriand jamais imaginou perder sua reeleição em 1954. Melhores jornalistas, toda classe artística nos palcos do auditório da Rádio Borborema, locutores e renomados apresentadores de programas ao vivo, audiência fechada na Paraíba e região. Pediam, a cada minuto, o voto para o Senador Assis Chateaubriand. Seria uma “barbada”. Num clima de “já ganhou”, subestimaram o adversário. Apurado os votos, Chatô perdeu para Argemiro de Figueiredo: “Popó nocauteou Mike Tyson”. Chateaubriand talvez tenha esquecido de valorizar o eleitor e a classe política: deputados, prefeitos, vereadores…

Vitorino Freire, maior liderança do Maranhão – anos 50/60/70 – recebeu Chatô em São Luís, após sua derrota na Paraíba. Chatô foi inaugurar o Jornal O Imparcial. O mandato de Chatô se encerraria em 03/02/1955. Vitorino em seu discurso humilhou os paraibanos.

“Seu povo, o negou em sua própria terra… Mas, você será o próximo senador do Maranhão”. As eleições foram no mesmo ano 01/06/1955. Vitorino Freire impôs uma condição a Chatô: não quero que o senhor faça nenhum comício, e nem venha aqui. Chatô foi eleito, voltou ao Senado, onde permaneceu até 1957 e renunciou para ser Embaixador do Brasil no Reino Unido (Inglaterra) indicado por Juscelino Kubistchek, cargo que ocupou até 1961.

O indecifrável enigma é encontrar o mapa da vitória. Cada eleição escreve sua própria história. Um gesto, uma palavra errada, ostentação ou arrogância… Jânio Quadros, que governava São Paulo, foi deputado federal pelo Paraná e se lançou candidato a Presidente da República. O candidato de Kubitscheck era o Marechal Henrique Teixeira Lott. Legalista respeitado em todo o país neste período. Carlos Lacerda – que levou Getúlio ao suicídio – se sentia imbatível pela UDN.

O golpe de Jânio foi fatal: “não quero e repúdio votos de comunistas. Como comunista não tem vergonha, não se atrevam a votar em mim”. Ia à missa e era fotografado ajoelhado, rezando, ou no confessionário. Denunciava ainda corrupção na construção de Brasília. A campanha foi a “vassoura” contra a “espada”. A Igreja Católica muito forte na época interiorizou seu nome. Lott teve uma derrota acachapante. Motivo? Sua única filha era casada com um comunista.