Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

O PAPEL DE DANIELLA 

Publicado em 30 de março de 2022

Todos sabem que o destino político da senadora Daniella Ribeiro é determinado por seu irmão, deputado federal Aguinaldo Ribeiro, líder político da família. Sua decisão de deixar o PP e assumir o PSD na Paraíba não é opção ideológica, escolha pessoal ou fato isolado. Faz parte do ambicioso projeto do deputado federal Aguinaldo Ribeiro em chegar ao Senado da República a qualquer custo.

Como toda ação gera uma reação igual ou contrária (lei da Física), até outubro saberemos o que acrescentou ou subtraiu, no arcabouço da pré-campanha de Aguinaldo. Daniella chegou de “paraquedas” no meio da legenda. Houve uma reação instantânea de desagregação. Mas, o quotidiano doravante mostrará sua capacidade de aumentar o alcance da legenda em nível estadual, ou desertifica-la, a exemplo do que vem ocorrendo com Veneziano à frente do MDB-PB.

No plano nacional (Congresso), o dano (em curto prazo) foi irreparável. Sobretudo neste momento. As relações Cid Nogueira, Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro foram abaladas e tornaram-se sofríveis, após sua passagem pelo Ministério das Cidades. Aguinaldo era o mais influente do “Triunvirato” pepista. Tornou-se repentinamente o mais ferrenho adversário de seus companheiros. Os trocou por Rodrigo Maia, que lhes deu a liderança do governo Michel Temer, da maioria no governo Bolsonaro, e chegou a aceitar a ideia de fazê-lo seu sucessor na presidência da Câmara dos Deputados.

Arthur Lira lançou-se candidato – segundo declarações do próprio – só para mostrar a Aguinaldo que o derrotaria no PP. O bolsonarismo e grande parte do “centrão” abraçaram a postulação de Lira. Sem o menor constrangimento, Rodrigo Maia substituiu Aguinaldo por Baleia Rossi. Lira venceu e transformou o PP no partido mais prestigiado pelo Palácio do Planalto. Ratificando sua lealdade, removeu a rejeição do governo a integrantes da legenda e pôs Cid Nogueira na titularidade da Casa Civil da Presidência da República.

Com a recente exoneração do Ministro da Educação, Cid Nogueira passou a ser o mais cotado para a Pasta. Mas, perder uma senadora para Kassab – ferrenha oposição ao governo – representa uma baixa de grandes proporções em suas tropas, fato que lhes traz desprestígio. Logo no Senado? O “calcanhar de Aquiles” do governo? Na visão do Palácio do Planalto, o poder de caneta de Cid Nogueira ampliaria o PP, que era para estar crescendo e agregando como o PL.

Na pressa, vem os tropeços. Em sua primeira entrevista, a senadora Daniella Ribeiro destacou que nunca foi, nem é da base do governo João Azevedo (?). Espalhou brasas. O evento Daniella no PSD criou um fato novo para motivar os Cunha Lima a se realinhar, dando um sopro na pré-candidatura de Pedro. Distancia Aguinaldo de João, deixando Cícero Lucena de calças curtas: como pode defender Aguinaldo para o Senado, depois das declarações da irmã senadora?

Recorrendo à história, talvez nos planos de Aguinaldo tudo que ele precisa é de um palanque. Neste caso, Daniella fará o mesmo que Vital Filho (2014). Deu um palanque a José Maranhão, para ele se eleger Senador. Em troca, recebeu uma vaga no TCU.