Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

ADRIANO GALDINO: O TAFFAREL DE JOÃO AZEVEDO

Publicado em 6 de dezembro de 2023

A reeleição do governador João Azevedo, hoje vista pelo retrovisor (2022), permite enxergar-se nitidamente que foi um projeto abraçado, trabalhado com determinação, afinco e obstinação do Republicanos. Apoiar um candidato do PSB – legenda estigmatizada pelos efeitos devastadores da Operação Calvário – foi além de um desafio. Um mister de fé, paradoxalmente, operado com pragmatismo.

João foi bafejado pela sorte, e talvez nunca tenha avaliado as dificuldades enfrentadas por seus verdadeiros aliados (Republicanos), puxados pela incontestável liderança conciliadora do deputado Adriano Galdino (Presidente da ALPB), pertencente a uma legenda pautada no Conservadorismo Cristão. João Azevedo, inversamente estava abrigado numa sigla “progressista”, que afrontava os ideais programáticos do Republicanos. Como superar estas diferenças abissais, e construir um caminho convergente, sagrando os interesses do Estado, e posicionando-os supra-partidariamente acima das questões ideológicas?

O grande inventor do século XIX e XX, Thomas Edison, assinalou que a ideia ou inspiração representa apenas 1%. O restante, 99% é transpiração. O Republicanos suou muito, trabalhando nos redutos eleitorais interioranos, para levar João Azevedo a vencer no segundo turno. As pesquisas constataram e comprovaram a acachapante derrota nos dois maiores colégios eleitorais do Estado: João Pessoa e Campina Grande. Desvincular o radicalismo nos demais 221 municípios paraibanos, foi tarefa hercúlea do Republicanos. Se João Azevedo tivesse subestimado o poder de Adriano Galdino, Hugo Mota e Wilson Santiago, teria a mesma votação de Pollyanna Dutra: 457.679 sufrágios.

O calcanhar de Aquiles do governador João Azevedo tem sido o grupo ideológico que o cerca. Seletivo, trancado em gabinetes e distante do povo, faz-se de ouvido de mercador das lideranças políticas e suas demandas cotidianas. Será que João avaliou bem a escolha de seu vice, de Campina Grande, o jovem Lucas Ribeiro, na época vice-prefeito de Bruno Cunha Lima? Por que não optou por outro nome, como Adriano Galdino, que se disponibilizou em abrir mão do poder da presidência da ALPB?

Restam 25 dias para o início do micro período eleitoral. A partir de 01/01/2024 entra em vigor o calendário eleitoral das eleições municipais. Quem é o candidato do governador João Azevedo em Campina Grande? Por uma questão de lógica, seria o seu vice, Lucas Ribeiro. Por que Lucas nunca manifestou essa intenção? Porque o desejo de seu tio é o Governo do Estado. Aguinaldo perdeu todas as suas bases na cidade, atestadas pelas urnas nas eleições de 2022, quando amargou a 13ª posição no ranking dos mais votados na Rainha da Borborema, obtendo apenas 4.067 votos. Em sua visão imediatista, o problema das eleições municipais não é dele, é de João, que deve se afastar para não ficar sem prerrogativa de foro. Seu sobrinho, assume o governo.

Um fato novo tira João Azevedo do xeque imposto pelos Ribeiros. Decisão do TSE sobre o julgamento da “Operação Calvário”. Agora, nas mãos do TRE-PB, o processo será sepultado. Conflito de jurisdição. TRE-PB só julga crime eleitoral. Não enriquecimento ilícito, formação de quadrilha, improbidade administrativa. A ação perde o objeto, por tratar-se de fatos pretéritos, eleições 2014/2018. João foi reeleito em 2022, quando a “Calvário” não o arrolou nas investigações do pleito de sua reeleição.

O malfadado “Conselho Político” de João Azevedo, que de Campina Grande só conhece o nome da cidade, apostou todas as suas fichas em Romero Rodrigues, rachando os Cunha Lima, hoje apoiado pelos Rego. Perderam besta e chocalho. Romero hoje é a Eminência Parda do governo Bruno. Todos seus desejos, antes de se tornarem “pedidos”, são prontamente atendidos.

Fazendo uma analogia ao futebol, a copa do mundo de 1994 foi salva pelo goleiro Taffarel. Meio campo precário, ataque se resumia a Romário e Bebeto, desesperado Galvão Bueno – narrador da Globo – quando percebia a iminência de um gol gritava: “vai que é tua Taffarel”! Mesmo sem ouvi-lo, Taffarel fazia o milagre acontecer. A decisão foi por pênaltis, e Taffarel deu conta do recado. O “Divino” Baggio amarelou diante de Taffarel e chutou por cima do travessão.

Sem ter como formar um bloco de oposição a Bruno, Romero e Veneziano juntos, João Azevedo sobrecarrega o “carregador de piano” de sua gestão, o “Taffarel” Adriano Galdino, a quem manhosamente estimula abraçar a tarefa de formar a única linha de defesa, para evitar uma goleada. Por que não ouviu Adriano e seus pares em tempo hábil?