

Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
ZÉ DIRCEU E O CANTO DO CISNE
Publicado em 28 de fevereiro de 2024No último 24/01/2022 – há pouco mais de trinta dias – a CNN exibiu às 23hs. uma entrevista exclusiva com Zé Dirceu. Pauta cuidadosamente elaborada para avaliar os resultados de mais uma gestão petista, identificando suas novas ideias, planos e projetos, da sigla que ele pôs no poder nas eleições de 2002. Dirceu foi o grande reformador do PT, após três derrotas consecutivas para Collor e PSDB (1989/1994/1998). Com coragem e ousadia, em 2001 “virou a mesa”. Criou o “Campo Majoritário”, expulsou toda a esquerda radical da legenda, já decidida a escolher nas prévias o então senador Eduardo Suplicy como candidato para enfrentar José Serra.
O pragmático Zé Dirceu vinha defendendo a tese que o objetivo era vencer. Inspirado historicamente no Fascismo/Nazismo – primeiro chega-se ao poder pelo voto – depois se instala a revolução. A juventude (2002) já abominava e luta armada, desde a revolução cultural no final dos anos sessenta, onda “Beatles” e “Rolling Stones”: faça amor e não faça a guerra. Culminou na derrota dos Estados Unidos no Vietnã.
Após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética (1989/2001), Cuba, exportadora da ideologia comunista para toda América Latina, expôs seu atraso e não teve como esconder que se transformaria numa “sucata” do mundo. Se limitou a ser um reduto “coiteiro” de delinquentes, travestidos de terroristas. As FARC colombiana haviam abandonado a causa revolucionária e se transformara numa gigante produtora exportadora da cocaína. Sem a ajuda das elites econômicas e o fisiologismo dos profissionais da política – não esquecendo Valdemar da Costa Neto de 2002 – o PT feneceria na sua quarta derrota pelo envelhecimento de sua retórica. Lula assumiria o posto deixado pelo saudoso Luís Carlos Prestes, eterno Cavaleiro da Esperança, que partiu em 1990.
A entrevista, apesar de ser anunciada “bombasticamente” durante a programação da emissora, foi comandada pelos jornalistas Daniel Rittner e Thaisa Falcão. Aos 77 anos, Dirceu – apesar de todo esforço – mostrou sinais de cansaço, desconexão com as mudanças ocorridas nas esquerdas, após sua metamorfose “progressista”, estilo norte-americano, abraçando causas distintas das brasileiras.
Racismo, imigração, LGBTQIA+, são temas progressistas ignorados pelo PT Brasil, que fugiu do seu discurso da “fome” e “trabalhista”. Reconheceu que a legenda encolheu, perdeu os sindicatos, estudantes, Igreja e setores da classe média. Seu poder de mobilização é limitado e claudicante. Não tem mais capacidade de levar o povo às ruas. Sobre sua influência no Lula III, tergiversou. Conversa com alguns ministros e fala com Lula só quando necessário. Não vai tomar o precioso tempo do presidente, com agenda estrangulada. Mas, deixou “escapar” que não existe o mesmo grupo de conselheiros 2023/2006/2010. Acrescentou que Lula tem que falar e fazer o que pensa.
Sem esconder suas decepções, a dupla de jornalistas indagou qual o projeto político de Zé Dirceu. Volta a disputar um mandato? “Possivelmente não. Já tenho um sucessor, meu filho Zeca na Câmara”. A tarefa doravante será concluir sua biografia, revelando que o “Mensalão” foi uma mentira. Nunca aconteceu nem existiu (?). Esqueceu Dirceu que provas, acareações e delações foram tão evidentes que quem o condenou foi o STF, com votos dos ministros por ele escolhidos e sabatinados. A Lava-Jato, segundo Dirceu, teve apoio da Secretaria de Justiça dos Estados Unidos. Absurdo, cinismo, ou esquizofrenia? O tempo de prisão em Pinhais, e condenação pelo TRF-4 a 40 anos de cadeia, ele considera erro proposital do Judiciário. Todavia, entrou em contradição: “eles cometeram este abuso, esperando minha delação” (?). Se ele é inocente, não tinha que, nem quem delatar. O grave, foi deixar transparecer nas “entrelinhas” que o PT não estava preparado para uma vitória em 2022. Razão de não terem planejado, nem montado uma boa equipe de governo. Então, como vencerão?