Valéria não foi demitida; pediu para sair!
Publicado em 16 de setembro de 2023Valéria Assunção é uma grande repórter. Trabalhamos juntos no Sistema Correio, mais precisamente na TV Correio, eu um mero aprendiz nas artes do vídeo e ela já Mestra no serviço.
Ética, leal, amiga e principalmente companheira – na redação e fora dela.
Eu poderia ir até mais: uma excepcional jornalista, apta a exercer qualquer função, desde a coleta dos fatos na rua até a editoria, nos estúdios e nas redações. Prova maior disso foi a sua vertiginosa ascensão no Sistema Paraíba de Televisão, quando largou o Sistema Correio e optou por se submeter ao rígido Padrão Globo de qualidade.
Na TV Correio, onde ainda impera o amadorismo e poucas – ou mesmo nada – são as normas disciplinadoras do trabalho e do comportamento pessoal dos repórteres, Valéria deitava e rolava; e era sempre aplaudida, mesmo que viesse a extrapolar limites…
Mas, na Rede Globo, o andar da carruagem é outro! E Valéria bem sabia disso.
Portanto, entendo que ela não foi demitida da TV Paraíba e da CBN Campina Grande, onde era âncora do jornalístico matinal, como alguns coleguinhas divulgaram; ao contrário, pediu – forçando a barra – para sair!
E c’est fini!
Nada de merecer solidariedade, principalmente de falsos amigos que agora se apresentam como “de infância”, notas de associações de classe, tapinhas nas costas e chororôs…
Foi botada no olho da rua por ter entrado em desobediência às normas da Casa. E ponto final!
É partir para outra, pois é jovem e tem competência de sobra para logo achar nova colocação no mercado local e até mesmo n’outras plagas.
E outra coisa: o prefeito Bruno Cunha Lima não tem nada a ver com o caso. Ao que todos nós desse meio sabemos, ele embora dono de milhões de reais, não é proprietário das TV’s que aqui na Paraíba retransmitem o sinal da Globo; tampouco da CBN.
Colocar Bruno no andor dessa procissão é maldade, picuinha de confrades sebosos que costumam celebrar o mau jornalismo em emissoras também de sebosos donos.
Jornalista contratado na Rede Globo, sejam as de titularidade do meu ‘primo rico’ Roberto Irineu, sejam as afiliadas como as de Eduardo Carlos aqui em nossas paragens, diante das redes sociais são obrigadas a se submeter ao que é lei na cartilha global.
Porque o Grupo Globo considera que toda rede social é potencialmente pública. E mesmo que alguém permita o acesso ao que nela diz ou publica a apenas um grupo de pessoas, há uma alta possibilidade de que tal conteúdo se torne público. E, quando essa pessoa é um jornalista, a sua atividade pública acaba relacionada ao veículo para o qual trabalha, como foi o caso do quiproquó que culminou com a saída de Valéria.
A cartilha dos Marinhos diz explicitamente, nesse caso: “Se tal atividade manchar a sua reputação de isenção manchará também a reputação do veículo. Isso não é admissível, uma vez que a isenção é o principal pilar do jornalismo. Perder a reputação de que é isento inabilita o jornalista que se dedica a reportagens a desempenhar o seu trabalho. Isso se aplica a todas as redes – Twitter, Instagram, Facebook, WhatsApp ou qualquer outra que exista ou venha a existir”.
Fica mais do que provado que Valéria pediu para ser demitida!
Valéria perdeu a sua reputação quando optou pela defesa da causa animal criticando nas redes sociais indiretamente o serviço público municipal e, por extensão, o prefeito da cidade.
Diz a cartilha da Globo, à qual Valéria era obrigada a se submeter por força do contrato trabalhista que mantinha com o Sistema Paraíba, que em alguns casos a perda da reputação de isenção é evidente de imediato e, em outros, é preciso uma análise criteriosa a cargo das chefias imediatas, até seguir para crivo definitivo do Conselho Editorial.
No caso da querida Assunção, a guilhotina alcançou o seu pescoço ainda antes da subida da queixa para a mesa de Eduardo Carlos, ao que eu soube por gente lá de dentro.
É evidente que, em aplicativos de mensagens, como WhatsApp e outros, em que há mais controle sobre o acesso, todos têm o inalienável direito de discutir o que bem entender com grupos de parentes e amigos de confiança. Mas é preciso que o jornalista tenha em mente que, mesmo em tais grupos, o vazamento de mensagens pode ser danoso à sua imagem de isenção e à do veículo para o qual trabalha. E que tal vazamento o submeterá a todas as consequências que a perda da reputação de que é isento acarreta.
E assim, como orienta a cartilha dos Marinhos, compartilhar mensagens que revelem posicionamentos políticos, partidários ou ideológicos, mesmo em tais grupos, exige a confiança absoluta em seus participantes, isto porque o jornalista deve evitar tudo o que comprometa a percepção de que o Grupo Globo é isento. Por esse motivo, nas redes sociais, esses jornalistas devem se abster de expressar opiniões políticas, promover e apoiar partidos e candidaturas, defender ideologias e tomar partido em questões controversas e polêmicas que estão sendo cobertas jornalisticamente pelo Grupo Globo. Em síntese, esses jornalistas não devem nunca se pôr como parte do debate político e ideológico, muito menos com o intuito de contribuir para a vitória ou a derrota de uma tese, uma medida que divida opiniões, um objetivo em disputa. Isso inclui endossar ou, na linguagem das redes sociais, “curtir” publicações ou eventos de terceiros que participem da luta político-partidária ou de ideias.
Como em todos os grandes veículos de imprensa, há no Grupo Globo jornalistas cuja função é analisar fatos e controvérsias e opinar sobre eles. Por óbvio, tais jornalistas não ferem o princípio da isenção. Primeiramente, porque agem com transparência, deixando explícito que não fazem uma reportagem objetiva sobre os fatos, mas a partir deles os analisam e opinam sobre eles. É uma atividade jornalística diversa da reportagem, mas que atende também a uma demanda do público: ter acesso a opiniões e análises sobre fatos e controvérsias para que possa formar a sua própria opinião. Tais jornalistas, normalmente chamados de comentaristas, analistas ou colunistas de opinião, devem ter uma atuação na rede social que não permita a percepção de que são militantes de causas e que fazem parte da luta político-partidária ou de ideias. A eles, como a todos, é vedado apoiar candidatos ou partidos, dentro e fora de eleições.
Colaboradores, em seções de análise e opinião, que não sejam jornalistas, mas profissionais de outras áreas de atuação, devem julgar como atuar nas redes sociais, conscientes de que a sua reputação, fundamental para sua condição de colaborador, é afetada por essa atuação. Não é permitido declarar voto ou fazer propaganda para candidatos ou partidos no material produzido especificamente para os veículos para os quais trabalham;
Por razões correlatas, é imprescindível que o jornalista do Grupo Globo evite a percepção de que faz publicidade, mesmo que indiretamente, ao citar ou se associar a nome de hotéis, marcas, empresas, restaurantes, produtos, companhias aéreas etc. Isso também não deve acontecer em contas de terceiros, e o jornalista deve zelar para evitar tais ocorrências.
Participantes de programas esportivos televisivos, radiofônicos ou transmitidos pela internet seguirão neste quesito a política comercial de seus veículos. O jornalista deve evitar criticar hotéis, marcas, empresas, restaurantes, produtos, companhias aéreas etc., mesmo que tenha tido uma má experiência. O motivo é simples: a posição que ocupa nos veículos do Grupo Globo pode levar a que tenha um tratamento preferencial no reparo de danos sofridos;
Essas diretrizes em nada diminuem a importância que o Grupo Globo vê nas redes sociais. O Grupo Globo estimula o seu jornalista e os seus veículos a utilizarem as redes sociais como valioso instrumento para se aproximar de seu público, ampliá-lo, reforçar a imagem de credibilidade de que já desfrutam, divulgar os seus conteúdos, encontrar notícias, fazer fontes. Nessa atividade devem, porém, observar as regras descritas.
E o código (CARTILHA) a que os colaboradores da Rede Globo, aí incluindo-se Valéria Assunção, se submetem por força contratual, define que todos devem priorizar os seus veículos na divulgação de notícias, ou seja: noticiar os fatos sempre em primeira mão nos veículos para os quais trabalham. Somente então, poderão disponibilizar as notícias nas redes sociais, mas seguindo regras: as notícias devem ser brevemente resumidas e acompanhadas de um link que permita ao leitor ler a sua íntegra no veículo que a publicou. Quando a notícia não dispuser de um link específico, é obrigatória a publicação de um link do veículo para o qual trabalha, com a especificação da editoria, para que o leitor possa buscar mais detalhes. Devem agir de forma igual os comentaristas, analistas e colunistas de opinião em relação ao que produzirem para os veículos para os quais trabalham.
O jornalista do Grupo Globo, sem exceção, não pode, por óbvio, criticar colegas de suas redações ou de redações de competidores nas redes sociais. “O crítico acaba sempre por se diminuir diante do público”, diz a cartilha que selou o destino de Valéria nas redações do Sistema Paraíba de Comunicação.
Até porque Valéria, enfim, foi contratada para trabalhar para a Globo e não para o seu deleite pessoal.