UOL relembra sumiço de piloto paraibano da VARIG que escapara ileso na tragédia de Orly

Publicado em 4 de abril de 2022

O portal UOL publicou nesse final de semana extensa reportagem sobre o desaparecimento, há 48 anos, do piloto paraibano Gilberto Araújo Silva, comandante da VARIG com mais de 23 mil horas de voo que escapou ileso no acidente em que um Boeing da empresa sob seu comando pegou fogo no ar e ele teve que fazer um pouso forçado nas proximidades do aeroporto de Orly, na França, onde morreram 123 pessoas, entre passageiros e tripulantes.

A tragédia na França alcançou o voo RG820, que caiu pouco antes de conseguir pousar em Paris (França), e quase seis anos depois, outro voo da VARIG, o RG967, desapareceu quando voava o oceano Pacífico.

Em comum, os dois voos eram operados pela extinta companhia Viação Aérea Rio-Grandense (VARIG) e tinham como comandante o piloto Gilberto Araújo da Silva. Embora tenha sobrevivido ao primeiro acidente, ele desapareceu no segundo, considerado um dos maiores mistérios da aviação até os dias de hoje.

O comandante é um dos poucos pilotos do mundo envolvido em dois acidentes com vítimas fatais.

QUEM FOI SILVA? 

Comandante Gilberto Araujo da Silva – TOK de HISTÓRIAComandante Gilberto nasceu em Santa Luzia-PB e tinha 23 mil horas de voo

Paraibano, o comandante Silva nasceu em 12 de novembro 1923 em Santa Luzia. Por volta dos anos, começou a trabalhar na manutenção de aeronaves do governo de Goiás.

Sua filha mais velha, a médica Maria Leticia Freitas Silva Chavarria, conta que a entrada do pai na aviação se deu pela influência do tio do piloto, o major aviador Filon Ferrer Araújo, que trabalhava em Goiânia.

Pouco tempo depois, ele começou a trabalhar no aeroclube de Goiânia, fez o curso de piloto e conquistou o brevê em 1943. Silva voou para a Fundação Brasil Central, então sediada próxima às margens do Rio Xingu, onde transportou os irmãos sertanistas Villas-Boas pelo interior do país.

Anos depois, começou na aviação comercial, na Viação Aérea Baiana, e ainda chegou a ser piloto do governo de Minas Gerais. Na década de 1960, começou a voar pela Varig após a empresa em que trabalhava, a Real Aerovias Nacional, ser adquirida pela aérea, momento em que foi morar em São Paulo.

Na VARIG, pilotou o Boeing 707, avião no qual foi promovido na década de 1970 a comandante master, o mais alto grau na hierarquia entre os pilotos.

Em 1973, por ter evitado uma tragédia maior envolvendo o voo RG820, Silva foi condecorado pelo governo brasileiro e pelo Ministério do Transporte da França, passando a ser considerado um herói naquele país.

Em 1979, ele foi dado como morto após o desaparecimento do voo RG967.

O DESASTRE DE ORLY 

Em julho de 1973, Silva era o comandante do voo RG820, que saiu do Brasil com destino ao aeroporto de Orly, na França. Quando o Boeing 707 se aproximava para o pouso, teve início um incêndio a bordo causado supostamente por um cigarro descartado de maneira errada no banheiro.

A tripulação optou por pousar o avião em uma plantação de cebolas próxima à cabeceira do aeroporto para evitar uma tragédia maior. Com isso, evitaram que o avião atingisse um vilarejo, já que, dificilmente, chegaria até a pista de pouso.

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Graças a Silva, a tragédia em Orly não foi maior…

A decisão do comandante de levar o avião para longe de zonas habitadas foi motivada por um acidente ocorrido um mês antes na França.

Em junho de 1973, um avião Tupolev Tu-144 que participava de demonstrações durante o Show Aéreo de Paris caiu sobre casas, matando toda a tripulação, várias pessoas no solo e deixando dezenas de feridos.

Os pilotos do RG820 não queriam repetir a tragédia, e o comandante Silva teve de colocar a cabeça para fora da janela do avião para conseguir visualizar a sua frente, já que a cabine estava tomada de fumaça.

– “Já que não vamos sobreviver, não vamos matar mais pessoas lá embaixo”, disse o piloto sobre aquele momento.

Apenas 11 pessoas sobreviveram e mais de 120 morreram, incluindo o então senador Filinto Müller e o cantor Agostinho dos Santos. Parte das pessoas morreu asfixiada com a fumaça, e não com a queda em si ou o fogo.

Depois desse acidente, os padrões de segurança na aviação passaram a ser revistos, incluindo a adoção de tecidos antichamas nos aviões.

SUMIÇO DO VOO VARIG 967 

O voo Varig 967 partiu em janeiro de 1979 do aeroporto de Narita, no Japão, rumo ao aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com uma escala em Los Angeles (EUA). O paraibano Silva era o comandante da aeronave.

A bordo do Boeing 707 estavam materiais eletrônicos, máquinas de costura, peças de navios e quadros do artista nipo-brasileiro Manabu Mabe avaliados à época em US$ 1,2 milhão.

O cargueiro que Silva pilotava e que jamais foi encontrado

O avião fez contato com controle de tráfego aéreo cerca de 22 minutos após decolar. Era uma comunicação padrão, e outra deveria ser feita por volta de uma hora de voo, o que não ocorreu.

Acredita-se que o avião tenha caído sobre o Oceano Pacífico, já que, até hoje, nunca foram encontrados destroços, corpos ou sinais da queda.

Diversas teorias da conspiração surgiram, como a de que a aeronave foi atacada para que fossem roubadas as obras de arte ou de que os pilotos entraram em espaço aéreo soviético por engano e teriam sido abatidos ou mortos após o pouso.

Entretanto, a principal corrente para explicar o desaparecimento é de que houve uma despressurização lenta na cabine, e a tripulação perdeu a consciência. Após voar por um certo tempo no piloto automático, o avião teria caído no oceano.

Gilberto era conhecidíssimo entre os integrantes do quadro de funcionários da VARIG. Além da sua experiência reconhecida, ele também era detentor da Ordem do Mérito Aeronáutico e fora condecorado na França pela sua perícia em evitar um acidente maior vom o outro vôo em 1973.

Além de Gilberto, o avião era tripulado pelo copiloto Erni Peixoto Millyus, pelos oficiais Evan Braga Saunders e Antônio Brasileiro da Silva Neto e pelos engenheiros de voo Nicola Espósito e José Severino de Gusmão Araújo.

Passaram-se um pouco mais de meia-hora quando a torre de controle em Tóquio esperava o contato programado com o voo que rumava a Los Angeles, sem resposta. Assim se foram nas várias tentativas sem nenhum resultado obtido. O desaparecimento era evidente e logo, autoridades japonesas e americanas começaram as buscas atrás de vestígios da aeronave no mar do pacífico.

Entre as 20 toneladas de carga, como equipamentos eletrônicos, estavam 53 quadros do pintor nipo-brasileiro Manabu Mabe (1924-1997). Naquele ano, o artista completava seus 50 anos de vida e as obras, avaliadas perto dos US$ 1,2 milhão, voltaram de uma de suas exposições no Japão.

Uma vertente aponta também para um abatimento da aeronave por caças MIG 25 soviéticos. Segundo esta hipótese, o voo teria invadido o perigoso espaço aéreo da URSS e fora então interceptado pela artilharia russa.

Até hoje, permanece o mistério nos ares brasileiros. Muito depois da falência da VARIG nos anos 2000, as perguntas e dúvidas surgidas após o sumiço do voo 967 perduram até hoje, sempre mantidas com esperança pelos parentes e amigos de seus tripulantes.

Fonte: Da Redação