Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

UMA BREVE VIAGEM NO TEMPO

Publicado em 8 de janeiro de 2024

No último sábado (06/01/2024) desci a ladeira do Riachão com destino a João Pessoa, para prestar homenagem ao amigo José Neiva Freire, que no dia 05/08/2023, sem aviso, partiu deste mundo humano material, embarcando na jornada que leva ao destino da misteriosa “vida eterna” – não reconhecida pela ciência dos mortais – mesmo assim pregada por todas as seitas e religiões dos mais diversos Deuses, venerados e reverenciados, no nosso pequeno planeta azul.

A imortalidade do espírito é o argumento místico esperançoso que nos endereça à última morada. Se constitui na inabalável fé – até dos mais céticos ateus materialistas – que após atingir a longevidade e olhando a imensidão do universo, admitem o pensamento do filósofo Francês Antoine Lavoisier: “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Se o corpo humano é movido por energia – segundo Albert Einstein – ela é eterna, e se está no cosmo, e pode ser transformada.

A atriz, intérprete musical, documentarista, palestrante e multimídia Mayana Neiva, nos procurou há cerca de três anos para participarmos de um documentário sobre a vida de seu avô, Neiva, e sua trajetória vitoriosa nas mais diversas atividades laborais que desempenhou com sucesso, destacando-se por sua visão, sempre à frente do seu tempo. Como aprendiz de fotógrafo, tornou-se o melhor fotógrafo de Campina Grande. Trouxe a primeira copiadora Xerox para a Paraíba, instalando-a na Rainha da Borborema. A primeira impressora offset, antecipando o fim das tipografias. Montou em João Pessoa um Parque Gráfico – na época e por muito tempo o maior do Estado – e passou a produzir impressos padronizados, um rico mercado, suplantado pela internet, através de seus programas e aplicativos.

Encontramos no evento companheiros de jornadas, como Gonzaga Rodrigues, decano do jornalismo paraibano, presidente da Academia Paraibana de Literatura. O “mago”, linguagem que ele usava para se dirigir aos amigos, aos 91 anos estava lá. Foi um dos grandes amigos de Neiva, ponte que nós construímos, levando-o para Editora. O “mago” foi referência quando entramos nos Diários Associados. Ele comandava o Norte. Eu comecei engatinhando no Diário da Borborema.

O artista plástico Chico Pereira – hoje temos certeza que esteve em Shangri-La e inspirou o novelista Inglês James Hilton a escrever sua obra prima “Horizonte Perdido” – segredo da eterna juventude – aos 82 anos, apresenta fisicamente um perfil de pré-sexagenário. Chico foi nosso contemporâneo do Cine Clube Rui Guerra, dos debates sobre as ideologias, ao lado de muitos outros que partiram antes de Neiva.

Guerrinha, Chico Lima, Jurandir da Souza Cruz, Orlandão, Peba, Antônio da Kenelux, Zeca Chabo, Chiquinho Duarte – acho que ainda está neste plano terrestre – José do Socorro Lira e o genial cineasta Machado Bitencourt. No documentário, depoimentos de apenas quatro amigos da intimidade de Neiva. Eu, Chico Pereira, Gonzaga Rodrigues e Arlindo Almeida. Estranhamos a ausência de Arlindo… Um talento precoce de Campina Grande, que dominava os temas macroeconômicos. Carreira brilhante, marcada por conquistas por onde passou. Da iniciativa privada, ao complicado serviço público.

O saudosismo nos invade nestes momentos, com um misto de tristeza, sensação de perda, orfandade…Equilibra-se pelas boas recordações de estações alegres e felizes, trazendo uma sensação suave e acalentadora, que nesta vida, nada é em vão.

Mayana apresenta um belíssimo texto, historiando a paixão de Neiva (avô) por sua esposa Lala (avó Eulália). Não é cópia de uma fábula Hollywoodiana. O roteiro é real, e mostra a força do amor. O poder manifestado pelos flechados por Cupido, que desafiam o universo e suas leis, resistem ao inexorável tempo e se contrapondo ao poeta Vinícius de Moraes – que tanto buscou o amor e talvez nunca tenha encontrado – o amor de Neiva e Lala foi eterno e não apenas enquanto durou (a atração).

A fita mostra também o período dos governos Militares, a militância comunista de Neiva, sua prisão, e a inabalável crença – mesmo depois de todo sucesso que obteve no mundo empresarial – na romântica sociedade igualitária, fantasia criada por Marx, Lênin e Trotsky, frustrada pelo tirano Stalin. Neiva, ao partir, viu seu sonho realizado. Uma grande família, unida, cuidando do seu legado (Editora) com mais de 200 títulos.