Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Uma aldeia de ideias
Publicado em 7 de fevereiro de 2024A união que faz a força também faz o açúcar, lembra a piada; na Paraíba, A União faz cultura, opinião plural e, pasmem, ainda jornalismo impresso. Confesso que, até então, nunca fui um leitor assíduo dos talentos locais, consequência de minha rotina diária de trabalho até cinco anos atrás. Depois da ociosidade forçada, tento recompensar o tempo perdido de pouca leitura e encontro no centenário jornal um número relevante de colunistas provincianos que me cativam na leitura diária.
Gonzaga Rodrigues, cronista que há tempo me cativa, me levou com sua prosa a fixar meus olhos de leitor nas páginas dessa senhora de 131 anos, completados em 2 de fevereiro. Há uma expressão (“Pra moça ver”) que eu ouvia muito na minha infância e que significava elogiar alguém bom no que fazia. “Pelé joga pra moça ver”, ouvi muito. Parodiando, costumo dizer que Gonzaga Rodrigues escreve “pra moça ler”.
Gonzaga vem demonstrando desânimo no seu longo ofício de escrever. “Mas não sei se ainda faz sentido. Meu tempo se foi, levando os que me estimulavam na rua ou pelo telefone”, escreveu, no caderno especial de mais um aniversário do periódico. Faz muito sentido, sim, mestre! Nós, leitores, encontramos todo sentido na lucidez de seus textos.
Na pluralidade de colunas de A União, encontrei outros craques na produção textual que igualmente me prendem na minha obsessão tardia por leituras de gente da terra.
Bom ler Ramalho Leite falando de quem já morreu, mas nos atualizando na História; conhecer o passado pessoense nas reminiscências de Carlos Pereira; à sua esquerda, Astier Basílio traduzindo a poesia russa.
Nesse revezamento cotidiano de colunistas, me deparo com as deliciosas crônicas de Nelson Barros, as Letras Lúdicas do professor Hildeberto e a elegância de Abelardo Jurema, honrando sempre a memória paterna. Reencontrar Varela, que lia muito nos meus tempos de repórter esportivo, no caderno de esportes; além de descobrir o paradeiro dos ex-atletas nos “Causos e Lenda”, de Francisco Di Lorenzo Serpa.
Neste último janeiro, a coluna Funes Cultural me proporcionou a alegria de descobrir o Virgílio Trindade cronista. Eu, que o conhecera treinador do Nacional e contador, na minha adolescência dispersiva em Patos, nos primeiros anos da década de 1970.
No espaço da terrinha, Thomas Bruno conta as coisas urbanas de Campina Grande e, vez por outra, faz um périplo pelo Cariri, enquanto a chuva não vem, ou quando vem. Vanderley de Brito me fascinou com sua novela Enforcamento na Vila Nova da Rainha.
Nesse espaço, reencontrei o colega de faculdade Daniel Araujo Victor, sempre recluso, em rara publicação de seus textos, chamando o professor para debater a História da cidade.
Não, não citarei todos os quase 60 colaboradores de A União, mas você nem imagina o impacto que tive ao ler a coluna Aldeia, de Fernando Moura, pela primeira vez. Esse jornal é uma aldeia de ideias, disse para mim mesmo. Pena que a Aldeia de Moura durou pouco.