Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
Um pouquinho de sorte
Publicado em 2 de maio de 2022O ex-senador Ney Suassuna – conhecido pela maioria dos paraibanos apenas como político rico – foi um grande professor, e achamos que apesar da idade ainda é um excelente palestrante sobre Economia. Assistimos uma de suas palestras – há cerca de duas décadas – onde discorreu sobre origem do dinheiro, empreendedorismo; expansão monetária; crédito… Em sua narrativa, sempre citava um exemplo de sucesso e acrescentava: “mas, para que aconteça, tem que ter um pouquinho de sorte”.
Em sua trajetória vitoriosa como empresário – origem humilde – acreditamos que a sorte esteve diversas vezes ao seu lado. No mundo político, deve tê-lo abandonado em algumas ocasiões. Ou, como ensina a alquimia, não observou os “sinais”, a exemplo do prefeito da capital Cícero Lucena (alquimista), peregrino de Compostela que provou em 2020: o universo sempre conspira em favor dos predestinados, que perseguem seu sonho. Fora da vida pública por mais de uma década derrotou – há dois anos – Ricardo Coutinho, Rui Carneiro e Nilvan Ferreira.
O atual governador João Azevedo se constitui em mais um exemplo do místico “fator sorte”. Venceu uma eleição em 2018 no primeiro turno. Desde que foi instituído o segundo turno, até hoje, foi o único a conseguir tamanha façanha. Após a vitória, fez o oposto de seus antecessores: não tripudiou os derrotados. Desceu do palanque e foi cumprir a missão que o povo paraibano lhes confiou, a tarefa de governar.
Balizado pela decência, prestigiou seu antecessor e seu séquito radical, fazendo vistas grossas aos contínuos arroubos de Ricardo Coutinho, que se auto proclamava dono dos votos da Paraíba. Se ele tinha esta convicção, porque não disputou o Senado da República? Comportando-se como um “martelo”, que só enxerga “pregos”, João Azevedo voltou-se para o governo, e pôs tapume nos ouvidos. Gastando saliva e solado de sapato, não parou de andar e dialogar com todos. A paz política foi estabelecida. As velhas intrigas sucumbiram ao debate. Despido de ideologias, quem quis fazer o melhor pela Paraíba foi acolhido. O contraditório teve espaço, vez e voz.
As mudanças (lentas e graduais) começaram a ofuscar o brilho incandescente do ex-governador Ricardo Coutinho, que tratava seu aliado – eleito para substituí-lo – como “fantoche”. Impunha nos bastidores o dever de João abraçar suas encrencas e caprichos pessoais. Rompimento unilateral de Coutinho, foi uma manobra mal sucedida. Imaginou que reuniria maioria da classe política e enfraqueceria o governador. Ledo engano…
João Azevedo sobreviveu a três longos anos, escapando de armadilhas e emboscadas. A sorte continua bafejando-o. A última e mais ousada das insídias, foi protagonizada pelo Senador Veneziano Vital do Rêgo, com seu rompimento intempestivo, desnudo de motivações, justificativas ou fatos desabonadores que atestasse desprestígio da Corte Palaciana.
Se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Um pequeno “cochilo” do governador quase o levou a se distanciar da sorte. Declarou na primeira hora apoio ao ex-presidente Lula. A recíproca foi um “coice” de Ricardo Coutinho, Lula e Gleisi Hoffmann, através de um vídeo, documentando Lula verbalizar que seu candidato é Veneziano. Um grande contingente de eleitores Cristão Conservadores (Igrejas e antipetista) não votarão num postulante, que se identifique com o perfil de Lula.
João Azevedo praticamente não tem rejeição no “Núcleo Cristão Conservador”. Estadualizada a disputa, numa posição de “centro”, atrai eleitores dos extremos.