
“Um Lugar Todinho meu” e a triste história de Roberta Miranda, estuprada aos 16 anos de idade
Publicado em 13 de março de 2025Quem vê Roberta Miranda com mais de 30 anos de uma carreira bem sucedida, não faz ideia de tudo por que ela passou para chegar ao topo. Ser coroada rainha em vida – não por políticos ou através de guerras, mas pelo público –, é um privilégio conquistado depois de muita provação.
Se hoje a contemplamos em shows lotados, fazendo stories engraçados com pouca roupa ou mesmo vendo seu nome em letras gigantes na Times Square, a verdade é que esse foi um percurso construído à custa de muito “não”.
Foram noites dormindo na rua, dias sem saber quando seria a próxima refeição, traição de quem deveria protegê-la e toda a sorte de obstáculos de um mercado machista e cheio de armadilhas. Mas, ao invés de trilhar um caminho desonesto ou passar o resto dos seus dias tramando vingança contra todos os que lhe puxaram o tapete ao longo da vida, ela deu a volta por cima, sem abandonar sua essência ou sacrificar seus valores, realizando seu sonho com talento, perseverança e muita generosidade numa estrada longa e difícil.
E agora, pela primeira vez, a Rainha do sertanejo está contando sua trajetória inspiradora, da menina pobre da periferia de João Pessoa, – que migrou com a família para São Paulo e teve que brigar com tudo e todos para ter a chance de perseguir seu sonho de cantar –, até chegar ao topo.
Uma jovem que saiu de casa no início da adolescência, dormiu na rua, enfrentou fome, violência e traição até conquistar sua chance nos palcos. Mesmo famosa, teve que brigar para se firmar no sertanejo, um ambiente de duplas masculinas, e nada favorável a uma nordestina arretada que não aceitava abrir mão da sua independência.
No livro que acaba de ser lançado, Roberta recupera memórias dolorosas, abafadas por anos de terapia, que ela nunca revelou publicamente. Mais focada na sua luta pessoal do que na trajetória artística, ela quer mostrar a outras mulheres que sofrem de abuso, violência, pobreza e falta de perspectiva, que é possível romper as barreiras e ir longe.
Depois de inspirar, segundo depoimento das próprias, grandes nomes da música, ela quer falar com outras Marias, que, como ela, precisam se virar sozinhas num país em que duas mulheres são estupradas por minuto, todo dia.
Após um prólogo, em que conta como foi que descobriu, na garagem dos fundos da gravadora, que tinha passados das 500 mil cópias vendidas de seu primeiro LP, a Rainha repassa os momentos mais desafiadores de sua vida, para mostrar como nenhum obstáculo é maior do que a força dessa guerreira.
O primeiro capítulo conta como seus pais se conheceram e deixaram para trás uma vida privilegiada em nome do amor. A chegada da pequena Roberta (nascida Maria) na família, já com três irmãos crescidos, trouxe mais emoções do que seria esperado.
A primeira revelação inédita do livro vem aos 14 anos da adolescente que descobre da pior forma que não é filha biológica de dona Maria. No Brasil de 2024, que ameaça punir mais duramente a menina violentada do que o seu agressor, “Um lugar todinho meu” narra com exclusividade o estupro que a cantora sofreu com 16 anos, vítima de um playboy que, ao saber da gravidez da jovem, agrediu-a a ponto de provocar um aborto.
O leitor pode acompanhar ainda a perspicácia de Roberta para driblar a fome com ajuda de perninhas de barata, batalhando um trocado em salão de beleza, limpando mesa de bordel, sendo crooner de boate ou fazendo faxina em banheiros em troca de pratos de comida. Há espaço também para respiros divertidos como a turnê do frango assado na costa leste dos Estados Unidos e o papel fundamental dos anjos da guarda que estenderam a mão a Roberta quando tudo parecia conspirar contra o seu futuro de sucesso.
Mais de 28 milhões de discos vendidos depois, com 6,5 milhões de seguidores só no Instagram (dois milhões no Facebook, um milhão no TikTok e mais de 600 mil no Spotify), a cantora sobreviveu à derrocada da indústria fonográfica na web com jovens que a descobriram nas redes e fãs de longa data, que criaram perfis só para segui-la.
Uma história emocionante e inspiradora, que não acaba nas páginas do livro. A Rainha está ON, e ainda tem muita história para escrever nessa vida! Então, arrume uma rede preguiçosa pra deitar e se entregue ao relato emocionante em primeira pessoa da Majestade paraibana.
NO FANTÁSTICO
Domingo passado (09), a cantora falou, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, sobre o abuso sexual quando era jovem. Ela não revelou a identidade do agressor, mas disse que engravidou após a violência e perdeu o bebê por causa do homem.
Segundo Roberta, ela tinha 16 anos quando foi abusada. “Meteu um revólver na minha cabeça e me estuprou”, disse. Na época, a sertaneja fazia shows em boate.
Ela disse que sentia um “ódio tremendo” do estuprador. Meses depois, Roberta descobriu que estava grávida. No quinto mês de gestação, a cantora perdeu o bebê quando o homem deu um chute na barriga dela. “Matou meu filho”, revelou.
Roberta contou que seus traumas começaram a partir dos 14 anos. “Meu pai era alcoólatra e, quando não bebia, era o homem que eu mais amava. E, quando bebia, o que mais odiava. Ele me batia”, confessou. Por causa das violências, ela saiu cedo de casa.
Ela, pela primeira vez contou a história na autobiografia “Um lugar todinho meu”, lançada em dezembro. “Escrever esse livro foi dificílimo, levei muitos anos para tomar essa decisão. Tive essa coragem quando percebi que poderia ajudar mulheres”, disse.
Fonte: Da Redação