
Emir Gurjão
Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.
Toinho e o Avião Parado no ar na Fazenda de Dona Mequinha.
Publicado em 29 de outubro de 2024Toinho sempre foi um contador de histórias e causos que faziam qualquer um prender a respiração. Era um homem simples, mas cheio de aventuras, muitas das quais envolviam os rincões da Paraíba, onde passava seus dias caçando, pescando e explorando as matas. Entre essas, uma das suas histórias favoritas era a do “avião parado no ar”.
Lá pelos anos 60, Toinho estava na mata de dona Mequinha, uma área de densa vegetação entre o Serrotão e o Lucas, como ele gostava de chamar. Ele andava com sua velha espingarda nas costas, atento aos sons da floresta, à procura da “ribaçã”, uma ave muito caçada na região. Quando um bando de ribaçãs levantava voo de repente, o barulho era ensurdecedor, um som que deixava o coração do caçador acelerado, já pronto para mirar e disparar.
De repente, Toinho ouviu um estrondo. Pensou que fosse o bando de aves, mas o som era diferente. Curioso, subiu num serrote de pedra para ter uma visão melhor. Ao olhar para cima, ficou perplexo: ali estava um avião, parado no ar, bem na sua frente! E o piloto? O piloto estava dentro, fazendo gestos desesperados, como quem pede ajuda.
Toinho, com sua simplicidade, gesticulou de volta, tentando dizer que não conseguia ouvir nada. Foi aí que o piloto fez algo inacreditável: abriu a janela do avião, puxou um cordão onde havia uma pequena mensagem presa, e a desceu até onde Toinho estava, quase como se pescasse o caçador. Com as mãos tremendo de curiosidade, Toinho leu a mensagem que dizia: “Estamos perdidos. Pode nos dizer onde fica o aeroporto?”
Sem pensar duas vezes, Toinho, com toda a calma do mundo, esticou os dois braços na direção do aeroporto. O piloto acenou agradecido, fechou a janela e, como num passe de mágica, o avião ganhou velocidade e sumiu no horizonte.
Mas a história não termina aí. Depois de uma hora, quando Toinho já tinha voltado à sua caça, ele viu um jipe se aproximando pela estrada de terra batida. Era o piloto, que tinha pousado no aeroporto e agora vinha pessoalmente agradecer pela ajuda. Desceu do carro com um sorriso enorme, cumprimentou Toinho e disse que jamais imaginaria que um caçador no meio do nada poderia ser sua salvação.
E assim, Toinho se tornou o homem que “parou” um avião no ar com a força dos braços e a sabedoria da simplicidade. Desde então, essa história era uma das preferidas nas rodas de conversa, principalmente quando ele queria impressionar os mais jovens e mostrar que, no fim das contas, sempre há uma maneira de ajudar, mesmo quando tudo parece estar fora do controle.
E para Toinho, bem, essa era apenas mais uma de suas muitas aventuras. Escrito por Emir Candeia Gurjão após ouvir a narração do próprio Toinho da Arrojado Lisboa. 29 de outubro de 2024 as 05:39 minutos