
Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Tan(ta) emotividade numa entrevista
Publicado em 5 de setembro de 2023Se a participação de Alexandre Tan no quadro “Papai mandou perguntar” do podcast Pod Marinho!? foi emocionante, para mim foi triplamente emocional, empático até. Por ter conhecido seu pai e sua mãe e por estabelecer contatos profissionais com eles; pela extrema ligação materna que temos e, principalmente, pela dor que sentimos. Ele, pela nostalgia maternal; eu, pela saudade filial.
Conheci o Dr. José Aurino e Dona Melinha Barros bem antes de me enveredar pelo jornalismo esportivo, no qual ele sempre era protagonista, por sua intrínseca ligação com o Campinense Clube. Também pela presença constante dela nas colunas sociais, em função da posição de relevo do casal na sociedade campinense.
Ainda criança, passei a frequentar, como encarregado das compras, a Casa do Colegial, onde meu pai adquiria a cartolina usada na embalagem dos saquinhos de temperos que comercializava no Sertão. Até em Patos, para onde nos mudamos em 1971 e testemunhamos a inauguração da filial da loja, mantivemos a parceria.
O contato direto com Dr. José Aurino e Dona Melinha aconteceu após minha volta a Campina Grande, quando fui trabalhar no açougue do tio Clóvis, em Zé Pinheiro. Esse contato sofria de inconstância presencial, pois a entrega domiciliar já funcionava. Mas quando os dois apareciam, ele permanecia no carro e ela se dirigia ao balcão. Como era serena e meiga!
Após efetivadas as compras, fazia questão de eu mesmo levá-las no carro para uma prosa com Zé Aurino, como a torcida da Raposa o chamava. Acolhedor e sempre divertido. Eu ria muito com suas tiradas humorísticas, como da vez que lhe perguntei se o time jogaria no domingo seguinte. Confirmando que faria um jogo treino com uma agremiação amadora, ironizou: “vai testaaaar o Campinense”, e riu, e o seu riso foi sarcástico.
O tio Clóvis foi fornecedor do Campinense com Dr. José Aurino na presidência da agremiação. Até sem ele na diretoria, não hesitava em garantir a carne dos atletas que moravam na concentração. Bastava um simples telefonema de Aurino e, no outro dia, Zezinho, lendário cozinheiro do clube, estava no açougue escolhendo as peças para o cardápio do dia.
Os contatos com o jornalista foram mais via telefone. Nem sempre atendia, mas quando atendia, era breve e direto. No dia em que o humor lhe pulsava a veia, a conversa evoluía em minutos, com suas tiradas e sua risada contagiante. D. Melinha, ao atender as ligações, era de uma gentileza impressionante. Às vezes o marido não estava, e eu perguntava se sabia alguma coisa do Campinense; ela confirmava não saber, de um jeito muito afetuoso.
Quando D. Melinha tomou o seu rumo eterno, ainda com o impacto da notícia escrevi um texto na versão impressa d’A Palavra; achei que não ficou bom, principalmente depois que li o de Hermano José, saudoso colunista social. Mesmo assim, me surpreendeu uma correspondência de Zé Aurino agradecendo o que expressara de sua Melinha. Foi aí que me lembrei de que, cerca de um mês antes, uma voz conhecida, mas não identificada, no telefone comercial, perguntara meu endereço.
Frases de Tan no “Pod Marinho!?
ARTISTA – “Eu amo o palco! O palco é meu mundo, não troco o palco (por) nada. A não ser que Deus me desse de volta meu pai e minha mãe. Aí eu daria de volta o talento que Ele me deu gratuitamente.”
“Antigamente se nascia artista. Hoje, você fabrica artistas.”
“A arte mexe comigo. É muito forte. É como se eu saísse de mim e o palhaço entrasse.”
“Eu troquei as petições, deixei pra lá e peguei as partituras”
“Tan não vive sem Alexandre e Alexandre não vive sem Tan. Quando Tan está no palco, Alexandre está na coxia olhando.”
FÉ – “Deus traça o roteiro de nossas vidas.”
“Deus escreve certo por linhas retas. Quem entorta as linhas somos nós.”
TORCIDA – “Nunca vi um amor tão grande pelo Campinense Clube”, sobre a paixão de Zé Aurino pelo rubro-negro.
PERDA da mãe em acidente – “Mainha é meu tudo. Eu tinha medo de perdê-la. Você acredita que sou grato a Deus porque nasci dela e ela partiu dos meus braços?”
“Eu não chamo perda, eu chamo de devolução. Eu tive que devolvê-la a Deus.”
VALORES – “Vivo imaginando como o mundo está diferente, os valores são outros. Como é que um filho destrata um pai ou destrata uma mãe?”
“Eu acho um bem tão precioso, o amor de pai, o amor de mãe.”