Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Suplício de uma saudade filial (I)
Publicado em 24 de janeiro de 2023A prima Ju hesitou: “Um ano… não sei nem dizer se é pouco tempo ou se é tempo demais”, quando, em conversa de WhatsApp, posicionei sua memória que neste 29 de janeiro faz um ano que nosso filho Glauber tomou seu destino eterno. Também são sei dimensionar essa temporalidade, mas a saudade é intensa e, de tão intensa, desmedida.
Não tem sido fácil atravessar esse mar de saudades. Pessoas que nos solidarizaram com presença na longa cerimônia de velório até chegaram a admirar minha fortaleza naqueles momentos; por dentro, no entanto, estava despedaçado.
“Se a dor é grande, Deus é maior ainda”, ensinou minha mãe, vivendo a mesma situação 20 anos antes.
Vivi aqueles instantes como que estivesse embriagado, sem tomar uma dose sequer. Como sequer consegui verter a água dos olhos que tanto nos alivia. Consegui chorar três meses depois, justamente na Sexta-feira Santa, e me senti muito consolado.
Desde então, meus olhos sempre marejam. Em datas marcantes como a de seu aniversário, Dia da Criança, na primeira Ceia de Natal sem ele… Em julho, a caminho de Areia, onde nos encontraríamos com os irmãos das Equipes de Nossa Senhora, avistei um grupo de ciclistas em trilha e não contive a emoção, assim como na visita inesperada do seu amigo Alisson.
Tudo lembra esse filho querido e aviva ainda mais a saudade que, por dentro, arde como brasa. No final de novembro, um profissional, em prestação de serviço em nossa casa, pediu para entrar com a moto, posicionando-a do mesmo jeito e no mesmo local em que ele “engarajava” a sua. Senti a pontada lá dentro.
Sempre que me vem uma lembrança de Glauber, dois momentos inesquecíveis me voltam. Na primeira viagem familiar a Teresina, ele então com 11 anos, estrategicamente nos entretínhamos no Parque dos Dinossauros, em Sousa, quando um maribondo picou-lhe a face. “De repente, um discreto maribondo…”, escreveu no seu diário de viagem.
Quase adulto, íamos pelas ruas centrais de Campina Grande de mãos entrelaçadas. Um homem de meia idade vinha ao nosso encontro e já de longe nos observava. “Pai e filho de mãos dadas. Que lindo!”, soltou, ao nos aparelhar.
Nunca aprendi a pedalar, mas, na academia, pratico bicicleta pensando nele. Até me deu vontade de uma aprendizagem póstuma, confesso agora, logo refreada. Em casa, ocupo boa parte do tempo no quarto que era dele, lendo e escrevendo, mais lendo do que escrevendo.
O meu copo preferido quebrou, passei a usar a caneca que ele usava. Quando faço um suco, que ele tanto gostava, me vem logo a lembrança do seu pedido oblíquo: e o suco do pai?
Numa situação extrema dessas, a solidariedade dos amigos (nossos e dele), o apoio da família e a fé tem nos tem segurado. E essa trilogia foi uma constante nesses 365 dias de saudades.