Somente 15% dos brasileiros com mais de 16 anos estudam atualmente
Publicado em 27 de maio de 2023A frase “Concluí os estudos” será cada vez mais rara de ouvir. As tecnologias têm provocado uma verdadeira revolução, com impactos diretos no mercado de trabalho. O mundo todo discute sobre aprendizado ao longo da vida, para requalificar e realocar os trabalhadores, mas o Brasil tem desafios precedentes: os altos índices de evasão e a baixa escolaridade da população.
Pesquisa de opinião do SESI e do SENAI mostra a dimensão do problema. Só 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam que estão matriculados em alguma instituição de ensino, com diferenças consideráveis por região, faixa etária e renda. A pesquisa ouviu 2 mil pessoas com mais de 16 anos nas 27 Unidades da Federação, tendo uma amostra representativa da população brasileira.
Pesquisa SESI SENAI Educação.pdf (5,7 MB)
>>>> Estuda atualmente?
- 15% dos brasileiros com mais de 16 anos estão matriculados em alguma instituição de ensino (ensino fundamental, ensino médio, técnico, superior e pós-graduação) – 53% entre os jovens de 16 a 24 anos;
- Índice de quem está estudando é maior no Nordeste (18%) e menor no Sul (10%);
- Índice maior na capital (17%) e menor em região metropolitana (9%);
- Índice maior entre quem tem renda familiar acima de 5 SM (24%) e menor na de 1 até 2 SM (9%);
- Entre os que estudam, só 16% estão no Ensino a Distância (EaD), índice que chega a 35% entre 41 e 59 anos. O EaD também está mais presente no Sul (24%) que no Nordeste (13%).
Entre os que não estudam atualmente, apenas 38% alcançaram a escolaridade que desejavam e 57% não tiveram condições de continuar os estudos por diferentes motivos, sendo o principal deles precisar trabalhar para manter a família (47%).
Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixarem de estudar é a gravidez ou nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez/filho é maior também entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%.
“Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação. Conhecer os motivos e o perfil dos jovens e adultos que interromperam os estudos, e consequentemente sua evolução profissional, é indispensável para criar oportunidades e reduzir desigualdades”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi.
Ruptura na trajetória estudantil começa no ensino médio
O ensino médio, que deveria ser a ponte entre a educação básica e o início da trajetória profissional, é, provavelmente, a etapa mais emblemática. Cerca de 1 em cada 10 alunos reprova (4,7%) ou abandona (4,2%) a escola no 1º ano. O índice de reprovação cai para 3% no 3º ano, mas o de abandono sobe para 4,7%. Os dados são referentes ao Censo Escolar 2021.
Em um país com 66,4 milhões de brasileiros com mais de 18 anos que não têm o ensino médio completo e não frequentam a escola, é contraproducente fechar os olhos para essas taxas, afirma Lucchesi. Até porque não demora para aparecerem os reflexos da formação incompleta: 25,8% dos jovens de 18 a 24 anos nem estudam nem trabalham (PNAD Contínua do 4º trimestre de 2022).
É um problema crônico, que deixa o Brasil na lanterna, como aponta a última edição do Education at a Glance, da OCDE: os nem-nem eram 35,9% dessa parcela da população em 2020, o que colocava o país como 2º com a maior proporção de jovens fora da sala de aula e do mercado de trabalho. A média dos países da OCDE era de 16,6%.
Brasileiro lista prioridades para o governo
A população reconhece que há uma lacuna no início da escolarização. A alfabetização tem a pior avaliação de qualidade: 47% dos entrevistados a consideram boa ou ótima e 20% ruim ou péssima – enquanto o ensino técnico, etapa mais bem avaliada, tem 58% de bom ou ótimo e só 8% de ruim ou péssimo.
A etapa de desenvolvimento da competência da leitura e escrita deve ocorrer entre o 1ª e o 2º ano do Ensino Fundamental, por volta dos 6 anos de idade. As dificuldades enfrentadas pelas famílias e pelos docentes para garantir que as crianças fossem alfabetizadas durante a pandemia pode ter contribuído para a avaliação negativa.
Tanto que a alfabetização aparece em primeiro lugar na lista das etapas que devem ser prioridade para o governo, apontada por quase um quarto (23%) dos brasileiros. As creches aparecem em 2º lugar nas prioridades, com 16%; o ensino médio em 3º, com 15%; e o ensino superior somente em 6º, com 6%. As entrevistas, realizadas pelo Instituto FSB Pesquisa, ocorreram em dezembro.
Avaliação da qualidade e prioridades variam de acordo com perfil
No geral, 23% avaliam a educação pública como ruim ou péssima e só 30% avaliam como ótima ou boa. Já a educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos entrevistados. Quanto maior a renda e maior o nível de escolaridade, pior a avaliação da rede pública. Além disso, brasileiros com ensino superior dão nota mais alta para a importância do investimento em educação pelo poder público: 9 versus 8,4 na média nacional.
Para quem tem entre 16 e 24 anos, a prioridade do governo deve ser o ensino médio (25%); para os analfabetos/quem sabe ler e escrever são as creches (26%) e para quem tem ensino superior é a alfabetização (33%).
“A população tem uma clara percepção que nós temos deficiência nos anos iniciais, a alfabetização e as creches, que ainda têm problema de abrangência. O Brasil não conseguiu cumprir a agenda da educação no século XX como outros países. Deveríamos estar discutindo inovação no século XXI, mas carregamos problemas estruturais, de qualidade e na matriz educacional, que travam nosso desenvolvimento. Precisamos melhorar a qualidade e ampliar a oferta da educação profissional”, conclui Lucchesi.
Questionados sobre os fatores que contribuem para melhorar a qualidade do ensino, os brasileiros listam como prioridade: aumentar salário dos professores (23%), melhorar a capacitação dos professores (20%) e melhorar as condições das escolas (17%).
Fonte: Assessoria