SENAI coordena força-tarefa para requalificar 4,2 milhões de trabalhadores

Publicado em 2 de setembro de 2022

Com o desafio de preparar jovens e adultos para um trabalho cada vez mais impactado pelas novas tecnologias, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) reuniu instituições de ensino brasileiras, empresas, governo e organizações internacionais, como Fórum Econômico Mundial, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Banco Mundial.

O Seminário Internacional de Educação Profissional, realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho, por meio do Futura, ocorreu nesta quinta-feira (1º) no formato híbrido com a seguinte provocação: “O que mudar na educação de hoje para o futuro do trabalho?”.

As apresentações e os debates se debruçaram sobre os desafios para expandir e melhorar a formação técnica e profissional, especialmente aquela voltada para requalificação e aperfeiçoamento da força de trabalho. As reflexões e a união de esforços são o pontapé inicial para a Aceleradora de Competências (Closing the Skills Gap Accelerator, no original em inglês), iniciativa liderada globalmente pelo Fórum Econômico Mundial e que, aqui no Brasil, será coordenada pelo SENAI.

A aceleradora tem como objetivo fomentar a interação público e privada e criar um ecossistema de análise, tomada de decisão e ações para requalificar e recolocar profissionais. Até 2030, o Fórum Econômico Mundial espera formar 1 bilhão de pessoas em todo o mundo.


“Essa pauta [da aceleradora] surgiu na 50ª reunião do Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 2020. No Brasil, serão 4,2 milhões de pessoas qualificadas em novas tecnologias em oito setores. O SENAI coordena a iniciativa nacionalmente com ministérios, a Microsoft e o Banco do Brasil”, explicou o diretor-superintendente do SENAI, Rafael Lucchesi. 


As oito áreas industriais prioritários são: mineração e metalmecânica, logística e transporte, infraestrutura e urbanismo, tecnologia da informação, eletroeletrônica, automotivo, telecomunicações e energia. Ao abrir o seminário, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, João Alegria, elogiou a iniciativa: “Estamos aqui cuidando da educação básica e continuada da população, para garantir inclusão produtiva da maneira como deveria acontecer”.

Painel – Educação: “Novos perfis, competências e estratégias educacionais para formação de trabalhadores”

Saadia Zahidi, diretora-geral do Fórum Econômico Mundial

“A pandemia acelerou o futuro do trabalho com o remoto, a digitalização e a automatização de processos. Estimamos a substituição de 85 milhões de empregos por máquinas e o surgimento de 97 milhões novos postos de trabalho. Para o indivíduo, se requalificar significa melhores oportunidades de emprego e ascensão. Para a empresa, é mais produtividade. Acelerar o progresso em educação e aperfeiçoamento pode adicionar US$ 8,3 trilhões no PIB global até 2030. Só na América Latina e Caribe são US$ 1,5 trilhões.” 

Segundo Zahidi, as habilidades do futuro são: pensamento analítico e inovação; aprendizagem ativa e estratégica; solução de problemas complexos; pensamento crítico e análise; criatividade, originalidade e iniciativa; liderança e influência social, uso de tecnologia, monitoramento e controle; design de tecnologia e programação; resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; lógica, solução de problema e ideação.

José Borges Frias, diretor de Inovação Corporativa da Siemens

“Estamos com uma parceria muito estreita com SENAI, porque temos uma pergunta bastante presente no nosso trabalho: ‘de que forma nós, como fornecedores de tecnologia, podemos contribuir para que profissionais da indústria sejam treinados para novos ambientes?’. Como a gente consegue, com todo esse cenário de transformação, gerar um futuro melhor?” 

Geber Ramalho, professor da Universidade Federal de Pernambuco

“Requalificação é um problema relevante, urgente e complexo. Estamos com um consórcio chamado PRAIA, que é Pesquisa Realmente Aplicada em Inteligência Artificial, junto com o SENAI, 13 universidades brasileiras e quatro estrangeiras. Temos quatro principais desafios na educação: educação de qualidade em larga escala, atualizada com mercado de trabalho, com aprendizado orientado a competências e os novos modelos educacionais.”

Denise Amyot, presidente do Colleges and Institutes Canada

“Temos uma força de trabalho em transição. De um lado, há empregadores dizendo ‘nós precisamos de pessoas rápido’. Por outro lado, 10% dos graduados que perderam o emprego retomaram os estudos em até três anos. Mais de 40% das mulheres e mais da metade dos homens escolhem uma faculdade ou instituto para melhorar suas competências. O que leva a vários trabalhadores reingressando no mercado de trabalho nos próximos anos. E as instituições de ensino precisarão ter opções diversificadas e flexíveis de aprendizado, incluindo diplomas, certificados, micro credenciais e programas híbridos, on-line e de meio período.”

Painel – Trabalho: “Mobilização da rede de atores para novas formas de trabalho e de trajetórias profissionais”

Malgorzata Kuczera, analista de políticas de educação na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

“Os desafios para expansão da educação profissional são: professores preparados, escolas com estrutura, diversidade nos perfis dos estudantes e alinhamento da oferta e demanda do setor produtivo. Algumas soluções são parcerias locais, incentivos aos empregados e diferentes formas de Work based learning (aprendizado baseado no trabalho). É preciso avaliar o uso de tecnologias na educação profissional, suas vantagens e desvantagens, sob quais condições são bem-sucedidas.”

Gilberto Peralta, presidente do grupo Airbus para o Brasil

“Temos também problema de formação básica, não é nem habilidade técnica, é ensino tradicional que não forma pessoas com capacidade cognitiva para entender sua função. Então é um duplo desafio.”

Maria Marta Ferreyra, economista Sênior do Banco Mundial

“No Brasil, os bons programas de graduação tecnológica têm melhores resultados de emprego formal e salário graças à análise frequente da performance dos estudantes, ênfase em competências, levantamento e uso do feedback dos estudantes, testes de graduação, avaliação de frequência, informação do mercado de trabalho e representação do setor privado em comitês governamentais. Agora, como 87% dos alunos de graduação tecnológica estudam em instituições privadas, é importante voltar atenção para o apoio financeiro e promover subsídios para a oferta pública.”

Sylvia Lorena, gerente executiva de Relações do Trabalho da CNI

“Nesse cenário de transformações, há muitos desafios. Começando pela mão de obra, pela necessidade de formação e pela informalidade, até os novos modelos de trabalho. Precisamos pensar estruturalmente em educação, políticas de qualificação e requalificação e uma legislação adaptada às novas relações do trabalho. O trabalho perde característica típica de permanência continua dentro da empresa, jornada das 8 às 18. O trabalhador quer horário e local mais flexíveis.”

Fonte: Assessoria