

Marcos Marinho
Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.
Sem me derivar…
Publicado em 15 de outubro de 2024Pouca gente sabe, principalmente os da geração mais nova, que já ajudei Cássio Cunha Lima muitas vezes. E lá se vão mais de quatro décadas…
Quando eleito deputado federal, insistiu no convite para que eu permanecesse em Brasília, no Anexo IV da Câmara dos Deputados onde chefiei por quatro anos o gabinete de Raymundo Asfóra.
Optei por voltar para a Paraíba, onde continuaria servindo a Asfóra na condição de Secretário-Chefe da Casa Civil do Vice Governador, cargo para o qual ele havia sido eleito na chapa de Tarcísio Burity.
Mas não me furtei a ficar alguns dias no gabinete, organizando-o para a chegada do novo inquilino. Levei o então mais novo parlamentar do Brasil a todos os principais recintos do gigante labirinto que abriga as duas Casas do Congresso Nacional – plenários, comissões, assessorias parlamentares, secretarias da Mesa e da Câmara, Diretoria Geral, Serviço Médico, Bibliotecas, Centro Gráfico do Senado, etc. – apresentando-o não somente às instalações físicas, mas principalmente ao pessoal que ele teria de conviver pelos quatro anos seguintes.
O mesmo fiz com seu mano mais novo, Savigny, e o jovem advogado – seu colega de turma na UEPB – Themistocles Cabral, a quem ele confiara a tarefa de gerir o gabinete parlamentar.
Tarefa cumprida, viajei para João Pessoa, onde já comecei a organizar as tarefas atinentes à Vice-Governadoria do Estado e aguardar a posse dos novos mandatários da Paraíba, que viria a ocorrer quinze dias à frente.
E foi aí a vez do destino entrar na parada… Mudou tudo.
No meu caso, obviamente, para pior.
Eu estava desempregado e não sabia se Burity me aproveitaria em alguma função na máquina governamental. Já com os filhos matriculados em colégios de João Pessoa, a opção de voltar para o Planalto Central logo descartei, recusando inclusive o insistente e honroso convite de Zé Maranhão para que eu fosse ser Chefe do seu Gabinete, decisão que não demorei a me arrepender.
Asfóra, lamentavelmente, acabou a sua vida. E, por força de Deus, não levou junto a minha.
Um dia depois de tomar posse, Burity me chamou ao Palácio e lamentou não ter mais nenhum cargo, “à sua altura”, para me nomear. Vendo a minha cara de decepção, foi cirurgicamente caridoso: “Mas eu vou manter o cargo de Secretário da Casa Civil do Vice-Governador, porque a Assembleia vai resolver isso logo e escolher um deputado para a vaga de Raymundo”.
E disse mais: “você vai ser o meu elo de ligação com Campina Grande!”.
Burity até que se esforçou para dar cumprimento à promessa. Mas a “máquina” do Estado e os “vampiros” – principalmente da mídia da Capital – barraram os seus passos.
Dois meses depois uma estratégica “reforma administrativa” para enxugar as despesas extinguiu o meu cargo – e outros da enferrujada estrutura governamental – e eu, de novo, fiquei ao Deus dará…
Não baixei a cabeça!
Voltei para Campina Grande, arrendei uma pequena birosca pertinho de casa, por trás da arquibancada coberta d’O AMIGÃO, e coloquei em prática um oficio extraordinário que aprendi com a minha querida mãe, Dona Virgilia: a arte de cozinhar!
Picado de porco às sextas feiras, feijoada carioca aos domingos, churrasco na brasa todos os dias, arrumadinho de carne de sol com feijão verde, dobradinha à portuguesa…
Um cardápio regional, com toque gourmet e ingredientes de primeiríssima qualidade, logo fizeram da casa um ‘point’, atraindo fregueses selecionados que muito me ajudaram na tarefa meio inglória de pai descasado em educar os dois forasteiros filhos que comigo vieram de Brasília para amar Campina como eu – filho natural – tinha a obrigação de amar.
O bar-restaurante aliviou-me das dívidas da mudança, o carro de luxo (Ford Del Rey) vendi a preço módico ao amigo deputado Robson Dutra e toquei a vida com garra e inabalável vontade de vencer.
Nunca diminuí a fé em Deus e ele Pai tem tomado, de boa, conta do meu destino.
O pão nosso de cada dia nunca faltou em meu lar, a saúde me mantém, aos 71 anos de existência, ainda nos trinques e a família – mulher, filhos, genros, noras e netos – continua meu orgulho e razão de viver.
Se nada tenho a reclamar, sou consciente de ter muito também a oferecer.
Dentro das minhas parcas posses, aqui ou acolá ajudo a muitos que necessitam mais do que eu. E a isso dou-me por realizado!
A vida segue, a roda gira e ao Pai tudo agradeço, de hora em hora, sobretudo por este dom da vida, com a imensurável alegria de poder repousar a cabeça no suave travesseiro e dormir o sono dos justos.
Por isso mesmo, não tenho queixas a registrar quanto ao resultado eleitoral que obtive nas urnas do último dia 06. Cresci na adversidade, me mantenho na adversidade e continuarei a escrever e gerir a minha história com os mesmos propósitos de outrora – muita fé em Deus e a absoluta certeza de que sempre estarei sujeito ao tempo d’Ele.
Os votos foram poucos, não deram para fechar a conta da vitória, mas valeu a caminhada, muito mais por verificar que continuo tendo amigos leais e verdadeiros, e inimigos ávidos por me verem na lona, tanto dos que sei das suas públicas intenções quanto dos anônimos mais recentes que se acovardam vergonhosamente sob a mudez das suas faces desequilibradas.
Me permito dizer que tenho e agradeço o que mereço, sabedor que o Pai reserva propósitos melhores para o resto da minha caminhada terrena.
Fazer o bem sem olhar a quem é filosofia popular abençoada por Deus. E eu não tenho porque desse caminho me derivar!!!