

Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
SAUDOSISMO DE NEY LOPES E SEMELHANÇAS COM O PRESENTE
Publicado em 10 de dezembro de 2023O ex-deputado federal potiguar Ney Lopes de Sousa, com registro histórico, vultoso e inapagável nos anais da Câmara dos Deputados – magnífica passagem no parlamento brasileiro – respeitado e admirado como uma das “cabeças pensantes” do alto clero do Congresso Nacional até 2006 – postou ontem em seu Blog artigo saudosista lembrando os 56 anos da conclusão do seu curso de Direito pela UFRN.
Era dezembro de 1967… A solenidade foi realizada no Teatro Alberto Maranhão. Como Orador da “Turma da Liberdade”, homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek – considerado grande injustiçado na época – Ney foi ameaçado de prisão pelos militares, por não aceitar “sugestões” da censura no conteúdo do seu discurso. Os militares haviam feito alterações na Constituição promulgada em 1946, homologada pelo Congresso em 1967, ampliando os poderes do Executivo e limitando os do Judiciário (Suprema Corte) que passou a ser um Tribunal Constitucional, como o dos Estados Unidos, França, Alemanha… Ganhou força o STM (Superior Tribunal Militar).
Cassações de mandatos, como o do próprio Juscelino, tinham origem num IPM – Inquérito Policial Militar – pautado em três diretrizes: ligações clandestinas com o partido comunista proscrito em 1948; histórico de corrupção, enriquecimento ilícito; liderar ou integrar movimentos ilegais com fins de derrubar o governo. Quem julgava, condenava ou absolvia era o STM. O STF não tinha poderes constitucionais para intervir.
Não podemos omitir que ocorreram injustiças isoladas, motivadas pelo partidarismo regional. Mas, descarte-se com honestidade a falsa narrativa de “caça às bruxas”. Este advento “questionável” passou a ter registros a partir de 13/12/1968, com o Ato Institucional nº 5. A história merece ser resgatada pela memória. Por que até o Google apagou a passagem de Ulisses Guimarães, como apoiador do governo Castelo Branco e integrante de um grupo de líderes, que concordaram com o fechamento temporário do Congresso para o governo impor a Constituição de 1967? Ulisses nunca respondeu um IPM, nem ameaça de cassação. Era do MDB, partido criado pelos militares. Dividia seu prestígio junto ao governo, ombreando-se com o radical (repórter) Amaral Neto. Ambos só pertenciam à mesma legenda por recomendação do Palácio do Planalto.
Toda juventude é movida pelos sonhos de mudanças, avanços e contestações, inspiradas nas transformações de costumes e rompimentos com tradições herdadas das gerações anteriores, que doravante as sucederão. Ao longo dos anos, mudam e pensam exatamente como expõe o poeta cearense Belchior, em uma de suas mais belas canções, interpretada por Elis Regina: “…Como nossos pais”.
Quatro anos após sua formatura, o talento de Ney Lopes – jovem ainda imberbe – teve seus valores latentes reconhecidos pelo genial Cortez Pereira, governador indicado pelos militares para suceder o último eleito em 1965, Monsenhor Walfredo Gurgel. Ney foi escolhido Chefe de Gabinete, e coube a ele a tarefa de selecionar a equipe do novo governo. Talvez na época tenha sido alvo de críticas, pela eterna turma do “contrão”, travestida de esquerdas incapazes e despreparados para a competitividade exigida no mundo real. Irracionalmente, esta gente só enxerga espaços em seus projetos de vida, através da “tomada do poder”.
Nas eleições de 1974, Ney foi eleito deputado federal. Em 15/04/1975, com apenas três meses na Câmara dos Deputados, foi o autor do Projeto de Lei 274/75 que deu origem ao Crédito Educativo, hoje FIES. Realizou o sonho de milhões de jovens brasileiros, Lei que vigora até hoje. Mudaram apenas o nome para FIES. Expandiu o ensino superior, com a criação de complexos Universitários privados e de qualidade, representando o dobro das Universidades Públicas.
Picuinhas da política “paroquiana” suja, mesquinha e conspiradora, conseguiram cassar o mandato do saudoso governador Cortez Pereira. Por extensão, atingiram todos os seus principais apoiadores. Ney Lopes foi cassado. O ato foi truculento. Mas, existem males que vem para o bem. Se não tivesse sido cassado, seria “rotulado” pela velha mídia esquerdopata militante como “filhote da ditadura”.
Ney Lopes retornou ao parlamento em 1990. Oportunidade que o imortalizou. Relator da quebra do monopólio da Petrobras, para comercialização e prospecção. Relator da Lei de Marcas e Patentes… O Japão e outros países haviam patenteado toda a biodiversidade da Amazônia (!?). Recuperamos o que havíamos perdido. Relator do Genérico, posicionou o Brasil em primeiro lugar no ranking dos países de medicamentos mais baratos do mundo… Na época não existia mais Laboratórios Brasileiros. Em apenas um ano, surgiram 180 novos laboratórios genuinamente nacionais. Além de gerar centenas de milhares de novos empregos, Ney salvou milhões de vidas com o baixo custo dos medicamentos.
O seu temor de 1967, ressurgiu sob outro formato. Ney ainda não comentou que fomos alcançados pelo retrocesso, com a volta do abusivo autoritarismo. Se na sua formatura o medo era os militares, 56 anos depois trocou-se apenas a indumentária: a farda deu lugar a “Toga”.