Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

SÃO JOÃO DOS MEUS DEFUNTOS

Publicado em 25 de junho de 2024

Quem não tem boas recordações e não VIVE a alegria dos seus defuntos, com certeza não conhece(eu) os meus falecidos entes e/ou amigos.

Parte grande da minha felicidade de viver se acosta exatamente a essas lembranças, para mim cotidianas, da turma que já subiu e nunca – para mim também – jamais sumiu.

Anteontem minha noite foi maravilhosa, com muito forró legítimo, muita pamonha, canjica, queijo de coalho, além de milho assado e cozido, e bastante munguzá… Também não faltaram quentão, que faço com cachaça brejeira e vinho tinto suave, e o insuperável ‘MIJO DE ÉGUA’, receita que aprendi com Ligia Feliciano (me serviu em sua casa num pretérito arraial) e adaptei aos meus temperos, podendo hoje garantir que o daqui é mil vezes mais forte e saboroso do que o da cozinha da ex-vice governadora. Tão forte, que quem degusta dois copinhos só vai voltar a ter fome na festa de São Pedro!

A noite foi de bastante alegria. E não foi sonho não! Tanto é verdade que lá p’ras tantas da madrugada a mulher me acordou dizendo que o pai dela estava chamando, que lhe puxara pelo braço, que tinha sentido a presença dele como se vivo fosse. Cá comigo: namorador como era Seu Vavá (Ariosvaldo), tava era querendo uma cabrocha pra dançar…

A cunhada Hosana Régis, que partiu depois de uma cirurgia simples que não deveria a ela ter se submetido, só não tomou mais quentão porque a querida Ismênia, a filha caçula que o cigarro em excesso ajudou na subida paro o andar de cima, tava mais sedenta do que quando era viva e contribuiu demasiadamente para secar o caldeirão que fervia e borbulhava.

O mano Israel (Tenta) trouxe a boa cachaça de Alagoa Nova para complementar o esquentar da noite, e encarregou-se de gerenciar os fogos só para ter a alegria de soltar os mijões e enfernizar a emburrecida cara do meu vizinho Mozart, sem saber que seu saudoso pai, meu amigão Luiz Cambeba, estava sentadinho num tamborete no pé da calçada querendo me ensinar a tocar violão.

Lá de João Pessoa vieram os sobrinhos William, Clayton e Kleber. Ao verem o garrafão de cinco litros da boa brejeira, pareciam pintos no lixo de tanta felicidade… Mas o bom é que me deram notícias dos pais – Celina e Izael – e do cunhado Honório, que a poeira da madeira na marcenaria apressou o estourar dos seus pulmões avexando o embarque para o plano celestial.

Amparado sob as flores dos meus pés de ipê de jardim, ainda avistei o alegre bonachão padre Hachid, a cunhada Gildete e o velho Mica Guimarães “morrendo” de rir com as presepadas de Shaolin… Raymundo Asfóra e Aluízio Campos chegaram cedo da noite e cochicaram tudo o que tinham direito, em meio a risos que só os dois sabiam o porquê!

Quem mais me abraçou foi o inesquecível amigo Figueiredo Agra, de mãos dadas com Maraju Miranda, sua musa do fim da vida, ambos acompanhados por Romero Agra e João Marinheiro.

Vital do Rego veio trazido pelo mano Ismael Marinho e ainda tentou discursar, mas lamentavelmente os mijões que o cunhado Reinaldo estava soltando fizeram ele desistir da empreitada.

Ronaldo Cunha Lima e Tarcisio Burity não puderam vir e mandaram recado por Waldo Tomé, que quase trazia os indefectíveis Josusmá Viana, Itamar Cândido e William Monteiro.

O mais alegre, inclusive dançando a quadrilha que improvisamos no meio da rua, era o mano Izael, que veio com tia Marieta e tia Tezinha, fazendo vó Camila e as tias Severina e Maria mijarem de tanto rir com as suas célebres brincadeiras.

Ainda deu para abraçar Armando Lira, William Tejo, Epitácio Soares, Magidiel Lopes, Humberto de Campos, Ana Luíza Rodrigues, Sevy Nunes e Graziela, que trouxeram à tiracolo Maria Rita e Hermano José.

Já beirando a meia noite, chegaram as duas principais “autoridades”: Seu Ovidio e Dona Virgilia, que festa nenhuma sem eles haveria de ter graça. Pai não largou o seu perfumado charuto cubano que nos incensou até o raiar do outro dia, e mãe não esqueceu de nos presentear com o saborosíssimo bolo NEGA MALUCA que antes de ir pro céu cuidou de ensinar a receita para as filhas e as netas.

Graças a Deus tivemos muitas orações, sob comando da magistral sabedoria do meu mais querido pastor: Aluizio Gabriel, o saudoso e jamais esquecido tio Lula, certamente hoje sentado à direita do Pai, onde ensina os anjos a serem mais felizes nos umbrais celestiais.

Foi de fato um SÃOJOAZÃO (plagiando a Redepharma), essa minha festa de mil e uma noites, mas acabei acordando pertinho das quatro da matina e nem deu mais tempo de encontrar tio Valdemar, apressado na sua gelada Antarctica, e tantos outros defuntos queridos que fazem bem viva a minha memória e enchem de amor e saudade o meu já cansado coração.

Em 2025 quero tê-los de novo no meu arraial!!!