Emir Gurjão

Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.

Rubens Paiva X Cleriston Pereira da Cunha (Clesão)

Publicado em 6 de março de 2025

Um contraste marcante entre suas origens sociais, capacidade de influência política e as circunstâncias que levaram à sua prisão e morte sob custódia do Estado.

Origem e Poder Financeiro

Rubens Paiva vinha de uma família rica e influente. Seu pai, Jaime de Almeida Paiva, era advogado, dono de uma das maiores fazendas do Vale do Ribeira e duas vezes prefeito de Eldorado Paulista, sendo eleito pelo partido da ditadura, a ARENA. Ou seja, Paiva cresceu dentro de um meio politicamente forte e economicamente privilegiado. Ele próprio se tornou engenheiro civil e dono de empresas no setor de construção, incluindo a Geobrás e a Paiva Construtora, além de trabalhar na empresa Machado da Costa Engenharia. Esse patrimônio e seus contatos lhe garantiam uma posição de influência significativa, tanto no meio empresarial quanto político.

Já Cleriston Pereira da Cunha (Clesão), era pobre, baiano e cristão, sem os privilégios financeiros e políticos . Residente em Brasília, sua vida pública se restringia a sua militância de direita e a participação em protestos políticos. Ele não era dono de grandes empresas, não vinha de uma família influente e, ao contrário de Paiva, não teve acesso às melhores escolas e universidades. Sua trajetória foi a de um homem comum, sem a rede de proteção política e econômica.

Atuação Política

Rubens Paiva era um deputado federal, eleito pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e militante de esquerda. Com o golpe de 1964, ele teve o mandato cassado e se exilou na Iugoslávia e na França por nove meses antes de retornar ao Brasil. Foi acusado de subversão, ou seja, de ser uma ameaça ao regime militar, e desapareceu após ser preso pelos agentes da repressão. Seu histórico mostra que ele fazia parte da classe política, tinha ligação com o meio empresarial e influência internacional, tornando-se um nome relevante no cenário da oposição ao regime.

Clesão não tinha mandato político, não fazia parte de grandes organizações e não possuía redes de influência empresarial ou internacional. Sua militância se dava no campo da direita, e ele foi preso por suposta participação nos atos de 8 de janeiro de 2023, classificados pelo STF como tentativa de golpe. No entanto, não há registro de que fosse líder de qualquer movimento ou que tivesse o poder de articular grandes decisões. Ele era um manifestante, não um estrategista político.

Circunstâncias da Morte

Paiva desapareceu sob custódia da ditadura, com fortes indícios de tortura e execução, sem que o Estado admitisse oficialmente sua morte até décadas depois.

O caso de Clesão também levanta questões sobre responsabilidade estatal, mas sua morte se deu por infarto fulminante, após repetidos alertas médicos sobre sua saúde. Laudos haviam sido enviados ao STF, alertando sobre sua vasculite e problemas cardiovasculares, mas não houve resposta para sua soltura, resultando em sua morte dentro do presídio da Papuda.

Quem Era Mais Perigoso para o Estado?

Rubens Paiva era um deputado cassado, com influência política e econômica, atuando na oposição a um governo militar. Ele tinha o potencial de ajudar a articular a resistência ao regime e estava ligado a movimentos considerados subversivos na época.

Já Clesão não tinha mandato, não tinha empresas influentes e não era articulador de grandes grupos. Seu caso representa uma repressão contra uma onda de manifestações, mas não há indícios de que ele tivesse capacidade de desestabilizar o governo sozinho. Sua morte parece mais ligada a negligência e endurecimento do governo em relação aos presos políticos do 8 de janeiro, do que ao medo de uma ameaça real.

Conclusão

Rubens Paiva e Clesão morreram como prisioneiros políticos, mas Paiva tinha poder econômico, influência política e contatos internacionais. Já Clesão era um manifestante sem grande projeção, vítima de um sistema que ignora a condição de saúde de opositores presos. A narrativa sobre cada um reflete a visão política da época: Paiva é retratado como mártir da democracia, enquanto Clesão recebe tratamento diferente, sem o mesmo reconhecimento de vítima do Estado.

Escrito por Emir Candeia Gurjão as 15:31 horas do dia 06 de Março de 2025.