Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Retrocesso do futebol pernambucano
Publicado em 9 de maio de 2022Não sei se podemos chamar de coincidência, ironia, superstição ou outro adjetivo certos acontecimentos ou realidades da vida. São opções para interpretar, cada um a seu modo, quando se observa a situação vivida pelo futebol de Pernambuco nos últimos anos.
Paraibano que sou, tenho vínculo afetivo com o vizinho Estado, pois sou casado com uma pernambucana de Itapetim, que ainda adolescente veio morar em Campina Grande. Admiro a valorização que o nativo de lá dispensa à sua cultura e sou fã de vários artistas conterrâneos da minha consorte.
Quando viajo para Teresina, terra que adotou o mano Afonso, prefiro almoçar nos restaurantes rurais de Araripina, à beira da rodovia, e comer o bode assado estimulado com as três doses da bebida preferida. Já programo a viagem com o rodízio na direção na hora do almoço.
Igualmente tenho simpatia pelo futebol pernambucano, desde que os times de lá não tenham pela frente os daqui. Por essas e outras, tenho que lamentar o retrocesso que esse esporte está experimento nos últimos anos no plano regional e em nível nacional.
O número de participantes do Campeonato Brasileiro 2022 envolvendo as três categorias disputadas atestam essa realidade. Enquanto o futebol do Ceará soma oito equipes disputando a competição, Pernambuco tem que se conformar com cinco, nenhuma na série A.
A hegemonia cearense no futebol nordestino foi possível com um planejamento que levou seus dois principais clubes – Ceará e Fortaleza – à série A. O acesso duplo abriu vaga para que outros de menor estrutura obtivessem passaporte às séries C e D, respectivamente Atlético (CE), Ferroviário e Floresta; Crato, Icasa e Pacajus. Bom pra chuchu.
Pernambuco participa da versão deste ano com Sport e Náutico, na Série B, também sem nenhum na C; na D, Santa Cruz, Afogados e Retrô, um clube-empresa que em seis anos de fundação chega ao vice-campeonato da temporada estadual, e apenas três de profissionalização.
Sem participar da Série A, Pernambuco vê o Leão da Ilha, que caiu no ano passado, rugindo para voltar a subir ou pelo menos se manter, e o Timbu, com seus movimentos lentos, rosna para não cair; enquanto a Cobra Coral rasteja na Série D, após mais uma queda em 2021.
Em anos alternados, o Estado manteve dois clubes na Série A do Brasileirão. Foi assim de 2007 a 2009 e em 2012 com Náutico e Sport, além de 2016 com Sport e Santa Cruz. Naquele ano, começou a derrocada tricolor, que foi caindo, caindo até estacionar na D agora em 2022.
Curiosamente, a queda pernambucana na principal divisão futebolística nacional iniciou no ano da fundação de um clube com o nome de Retrô, que de certa forma atualiza o passado, mas lembra retrocesso; e atinge o degrau mais baixo quando essa agremiação chega ao inédito vice-campeonato, por pouco não conquistando o título.
Coincidência, ironia, superstição… Não sei. Sei que, no mínimo, não foi feito um trabalho planejado, objetivo e o resultado é que a incompetência se mostrou mais forte. Também é uma sequência do que vem acontecendo em outras áreas em que o Estado perde espaço na região.
LUTO RUBRO-NEGRO
Faleceu vítima de câncer, no domingo Dia das Mães, Marília Almeida, mulher de Maurício Almeida, ex-presidente do Campinense, na época do “time de Zé Pinheiro”. Tive a oportunidade de visitá-la no hospital, sem saber que era ela, ao levar um padre para lhe dar a unção dos enfermos. Só após tomar conhecimento de sua partida é que soube, tratar-se da ex-primeira dama rubro-negra, como diria os analistas políticos.
NO CÉSAR RIBEIRO
Numa das crises do Campinense na década de 1980, cuja magnitude levou todos os ex-presidentes vivos ao César Ribeiro, hoje estádio Renatão, dona Marília acompanhou o marido. Enquanto ele participava da reunião, ela ficou no lado de fora conversando descontraidamente com a turma da imprensa. Que simpatia! Na época, eu era repórter do Diário da Borborema.
SEM FEIJÃO
Na sua descontração, Dona Marília contou que um atleta quase não entra em campo porque no almoço servido, em hotel cinco estrelas, no cardápio não constava feijão. Foi no jogo do Campinense, em Brasília, contra o Ceub, pelo Campeonato Brasileiro de 1975. Numa das próximas colunas prometo contar quem foi esse jogador e qual foi a solução para que ele fosse escalado.