RETRATO DE ZÉ MARANHÃO ( a antítese de todas as suposições…)
Publicado em 3 de junho de 2022O professor Emir Candeia Gurjão, atualmente aposentado das Universidades Federais da Paraíba (UFPB) e de Campina Grande (UFCG), onde era titular da cadeira de Física, tendo larga experiência em Física Nuclear, e durante a gestão de Veneziano Vital do Rego como prefeito de Campina Grande exerceu o cargo de Secretário de Ciências, Tecnologia e Inovação, escreveu oportuno texto sobre o perfil do seu saudoso amigo José Targino Maranhão, a quem também ajudou na condição de auxiliar de primeiro escalão, no segundo mandato do ararunense no Governo do Estado.
Segundo Emir, “a sobriedade foi o contrapeso que equilibrou o sucesso de Zé Maranhão, sobretudo quando esse status ficou cada vez maior.
O “retrato” pintado por Emir Candeia merece ser lido na íntegra, como segue:
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José Maranhão foi a antítese de quase todas as suposições que fazemos sobre um líder político.
Era simples. Modesto.
Não dava muita importância a apresentações, nem ostentações…
Não fazia discursos inflamados. E, principalmente, era calado e reservado.
Zé Maranhão era sóbrio, enquanto muitos ‘líderes’ permanecem inebriados – com o ego, o poder, a posição.
Essa sobriedade foi precisamente o que fez de Zé Maranhão um líder bastante popular que cumpriu três mandatos como governador de Estado e dois como Senador, sendo uma força poderosa e arrebatadora em favor da liberdade do desenvolvimento e do trabalho.
No famoso caso do Campestre Zé Maranhão não estava com medo; estava apenas sendo prudente.
Como diz a famosa frase “o medo é um mau conselheiro”, Zé Maranhão usou o que tinha direito para tomar a decisão certa, e não foi uma decisão motivada por imprudência ou medo.
Na maioria das vezes, acreditamos que as pessoas se tornam bem-sucedidas graças apenas à sua energia e entusiasmo, visto que quase sempre isso faz parte da personalidade necessária para se “fazer algo grande”.
Talvez tenha sido um pouco dessa capacidade de se impor que fez Zé Maranhão chegar aonde chegou e foi sustentável por várias décadas.
Os egoístas achavam que seriam invencíveis, que tinham uma força ilimitada que jamais iria se dissipar. Mas isso não pode ser o que a grandeza requer, uma energia sem-fim!
Zé Maranhão agia de maneira lenta e firme.
Naquela noite histórica em Campina Grande ele tomou uma cerveja na casa do sobrinho médico Mirabeaux, foi dormir e de manhã cedo tomou um banho e saiu para o trabalho. No mesmo ano, tornou-se governador.
Foi um caminho laborioso e persistente. No entanto, os outros queriam chegar ao topo o mais rápido possível. Sem paciência para esperar. Estavam inebriados pela possibilidade de galgar os degraus do sucesso, pensando que apenas o ego e a energia poderiam mantê-los lá.
Isso não é verdade. Quando tentaram intimidar Zé Maranhão, ele sequer piscou e mais tarde fez uma piada sobre o incidente. Como resultado, foram eles que fizeram o papel de tolo e inseguro.
Durante a ascensão de Zé Maranhão e acima de tudo durante seu tempo no poder, ele manteve o equilíbrio e a clareza de forma consistente, mesmo diante dos fatores imediatos de estresse e estímulo. Em uma posição semelhante, poderia ter nos lançados a uma ação “ousada”.
Precisava lutar por ele mesmo, certo? Mas será que precisava de fato? Com frequência, isso é só o ego aumentando a tensão em vez de ajudar a lidar com ela.
Zé foi firme, claro e paciente… Estava disposto a fazer qualquer concessão, exceto no que diz respeito ao princípio em questão.
Estamos falando da sobriedade! E isso é exercer o autocontrole.
Zé Maranhão não se tornou o governador mais operoso da história da Paraíba à toa. Mais do que isso, ele manteve a posição por três mandatos com a mesma fórmula. Sabia muito bem disso.
Chamado à política, Zé Maranhão serviu ao povo paraibano em cargos cada vez mais importantes, desde a adolescência até sua morte.
Havia sempre problemas urgentes – solicitações a serem ouvidas, leis a serem aprovadas, favores para conceder. E Zé Maranhão lutava para escapar do que chamava da mancha do poder absoluto que destruiu políticos anteriores.
O historiador Shelby Foote afirmou que “o poder não corrompe tanto; isso é simples demais. Ele fragmenta, elimina opções, hipnotiza”.
É isso que os egoístas fazem, turvando a mente no exato momento em que ela precisa estar clara.
A sobriedade, entretanto, é um contrapeso, uma cura para a ressaca – ou melhor, um método de prevenção.
Outros políticos são ousados e carismáticos, é bem possível.
Mas Zé Maranhão pensava e agia com um inquebrantável pensamento: ‘Você não pode resolver (…) tarefas com carisma’.
Zé Maranhão era racional. Analisava, concentrava-se na situação e não em si.
Muitos políticos costumam ser vaidosos, obcecados pela própria imagem.
Zé Maranhão foi objetivo demais para isso.
Ele se preocupava com resultados e nada muito além disso…
Ao escrever sobre Bill Belichick, o técnico dos Patriots, David Halberstam observou que o homem “não apenas mordia, mas tinha desprezo por quem ladrava”.
Poderíamos dizer o mesmo sobre Zé Maranhão.
Líderes como ele sabiam que são as mordidas que ganham o jogo e fazem as ações avançar.
Latidos, por outro lado, dificultam que sejam tomadas as decisões certas, tais como interagir com os outros, bem como promove-los, quais estratégias colocar em prática, quais opiniões ouvir, quando se opor a alguma coisa.
Zé Maranhão não tinha obsessão pela imagem, isso de tratar as pessoas abaixo ou acima de sí com desprezo; de precisar de armadilhas de primeira classe e do tratamento de estrela; de bradar, brigar, envaidecer-se, fingir uma personalidade diferente da sua, agir como se fosse mais importante do que os outros, de condescendência e de se maravilhar com a própria magnificência ou com a importância autoconferida.
A sobriedade foi o contrapeso que equilibrou o sucesso de Zé Maranhão, sobretudo quando esse status ficou cada vez maior.
Um antigo ditado diz que, ‘se quiser viver feliz, viva escondido’.
Pode ser verdade. Mas o problema é que isso priva o restante dos irmãos de ótimos exemplos.
Tivemos a sorte de ter Zé Maranhão como pessoa pública, pois ele representou uma imensa maioria silenciosa.
Considerando o que vemos na mídia, existem algumas pessoas muito bem-sucedidas que moram em lugares modestos. Como Zé Maranhão, têm vidas pessoais normais com seus companheiros (família), não usam de artifícios, vestem roupas comuns.
Isso, retrata o inesquecível José Targino Maranhão.
Fonte: Da Redação