Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

RETRATO DA CONFRARIA PERDULÁRIA  

Publicado em 14 de julho de 2023

Quando gatos e ratos se juntam numa confraternização – um esquecendo seu papel de predador – o grande lesado é o coitado “dono do Armazém”. Esta imagem (foto) que escolhemos para ilustrar o texto fala muito – ou quase tudo – sobre caráter e charlatanice da nossa classe política, incorrigivelmente pervertida e perdulária, esbanjadora contumaz do dinheiro do público, gasto em causa própria, para alimentar gula insaciável sob olhar cabisbaixo que só enxerga seus umbigos.

O culpado de manter constantemente nosso País à beira do abismo, nas últimas duas décadas, é o Congresso Nacional – deputados e senadores – que ainda consegue ludibriar a cada eleição a boa-fé do eleitor. O Presidente da Câmara Arthur Lira, que foi aliado de Jair Bolsonaro – candidato derrotado pelas urnas eletrônicas – só reconheceu publicamente a vitória de Lula após a ameaça e punição do presidente do TSE, “enquadrando” dentro de uma legislação inconstitucional o comandante do PL Valdemar da Costa Neto, quando apresentou à mídia relatório constatando indícios de irregularidades das urnas.

A denúncia se ampara em documentos, fruto de uma auditoria realizada por empresas especializadas, com apoio de diversas autoridades em tecnologia, inclusive os genias técnicos da UNICAMP. A reação do intocável ministro Alexandre de Moraes foi bloquear imediatamente 22 milhões de reais do Fundo Partidário do PL e mandar “recados” intimidatórios, endereçados a Valdemar, sugerindo mergulhá-lo nas profundezas do Inquérito do Fim do Mundo (Fake News). Arthur Lira tinha “pendências” no STF. Sentiu-se só, isolado, e rendeu-se aos interesses do “Establishment”.

O fato de Arthur Lira ter se procurado em salvar sua pele, é reação natural e instintiva da espécie humana. Principalmente para os que não creem na existência de heróis vivos. Para muitos, “glórias e homenagens” são destinadas aos que tombam no campo da honra. Todavia, agir irresponsavelmente ao permitir e contribuir para que se derrubasse uma Emenda Constitucional, que limitava o teto dos gastos públicos, mostrou seu lado mesquinho, ardiloso e mercantilista, desconhecido pelo povo.

Lira manipulou a mídia, Parlamento, povão e ainda infringiu uma derrota ao STF, matando quatro coelhos com uma única “cajadada”. Ao furar o teto dos gastos – projeto de Lula para abarrotar os cofres públicos e comprar através de medidas populares distributivas de rendas, a simpatia do eleitor que o rejeitou em dois turnos – atraiu o PT e todas as esquerdas, que votaram na sua reeleição para presidente da Câmara. Arrostou a decisão do STF, que havia considerado inconstitucional o Orçamento Secreto. Posou como bolsonarista resistente, antipetista, e conquistou a confiança do mercado, assumindo postura de escudeiro mor, defensor intransigente do liberalismo.

Ao furar o teto dos gastos, a política fiscal que baliza as ações do Banco Central, exigiram imediatamente um texto legal substitutivo do governo, respaldado pelo Congresso, para evitar o aumento da dívida pública. Surgiu a ideia do “Arcabouço Fiscal”. As MP’s (Medidas Provisórias) dos primeiros dias do governo Lula começaram a represar na pauta do Congresso. E como o “Arcabouço Fiscal” era pouco convincente para o mercado, veio a necessidade de se votar o CARF – gerador de impostos bilionários – agregado à Reforma Tributária, que pelo texto aprovado só funciona em sua plenitude em 2033. Demandas que criaram dificuldades, para Lira vender facilidades. Em seis meses, o governo pagou 18,6 bilhões de reais em emendas (individuais, bancadas e coletivas). O valor exato do Orçamento Secreto derrubado pelo STF, que destinava 1,5 bi para cada presidente das duas Casas Legislativas, além de 1,0 bi para o relator.

E agora? O ano não terminou e falta o Senado “chancelar” tudo que a Câmara aprovou. Claro que terá um preço a ser pago, usando até a absurda “Emenda PIX” – transferência de dinheiro – sem projeto, destinação específica e total falta de transparência, ignorada pelo “austero” TCU, que se imiscuiu até no processo de auditar as urnas eletrônicas. Estes atos criminosos estão sendo acobertados e festejados pela mídia tradicional, que desesperada corre atrás de sua fatia do bolo, e quer participar da farra.

A foto ilustrativa – cena forte – leva a uma indagação: para quem estava vivo há um ano (2022) e não alcançou 2023, imaginaria que um dia todos estariam “juntos e misturados”? Lula trocando sua “Guayabera” pela farda da Seleção Brasileira, ausência do vermelhão; Zeca do PT abraçado com PP e Republicanos; Lira por trás de Lula e ao lado do seu irmão siamês José Guimarães, conhecido como “Capitão Cueca”; Gleisi Hoffmann fora, ignorada, amargando o ostracismo ao lado dos petistas raiz, que como os bolsonaristas, sofrem os efeitos decepcionante da traição de seus líderes ardilosos, hábeis enganadores.