Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Relax na academia (I)
Publicado em 15 de maio de 2024Muito antes de ouvir de um desses influenciadores digitais que academia é o melhor psicanalista, eu já tivera consciência do bem psicológico que ela exerce na pessoa, em que pese o hiperbólico da frase. Adepto da caminhada há mais de 20 anos, resisti o quanto pude à pressão dos filhos e da mulher para que aderisse aos exercícios acadêmicos, a pretexto de fortalecimento da musculatura.
Logo nos primeiros anos ininterruptos de exercícios físicos, comprovei que academia faz bem ao corpo e faz bem à mente. Posso estar estressado, pensativo por qualquer problema, meio chateado… Em 40, 50 minutos ou uma hora de treino, passa tudo.
Com cerca de um ano malhando, cheguei para o almoço dominical na casa materna; estava em pé próximo à porta da cozinha, quando, vindo do quintal, desembestado, o sobrinho Vinícius me atropelou no lado direito. Segurei o tranco, sem me abalar.
No impacto da colisão humana, ele parou e, sem pedir desculpas, de chofre, perguntou:
– Oxente, tio, tá malhando?
– Sim, estou, por quê?
– É porque está todo duro.
Neste maio de Maria, completam-se quatro anos que estou na academia, cuja matrícula renovo de três em três meses, aderindo ao pacote trimestral que a casa oferece.
Nos dois anos iniciais consegui conciliar os exercícios matinais nas máquinas e a caminhada do final da tarde. No rigor do inverno em 2022, dei uma pausa na atividade ao ar livre e não mais tive determinação de voltar.
Surpreende-me o raciocínio rápido, improvisador, feito cantador de viola, que tenho durante o treinamento acadêmico, o que não costumo demonstrar no dia a dia. O colega Pedro, que está me fazendo falta com sua ausência nos treinos, possui uma HiluxSW4, ano 1992, adquirida junto ao cônsul do Japão.
Em conversa, ele me disse que gosta da antiguidade automotiva e, mesmo não sendo um colecionador, mantém outro veículo de muita rodagem – Corsinha – adquirido em 2006, vindo de Pernambuco.
“De Garanhuns para o garanhão”, brinquei, numa rapidez surpreendente, quando ele confirmou o nome da cidade de origem do veículo.
Numa aula, aluna aparentando 40 anos fazia Stiff educativo (aquele exercício usando bastão às costas), flexibilizando o corpo. De imediato, lembrei da piada da pá, olhei para minha mulher e disse, apontando: uma velha corcunda com pau na bunda.
Certo dia, Margarida treinaria remada baixa triângulo e me pediu para pegar a peça, que estava distante do equipamento. Não atendi ao seu pedido sem antes lhe dizer: é melhor eu assentar no seu triângulo. Em outra oportunidade ela me disse, na presença do professor, que ia treinar costas. “Vai treinar pra me carregar nas costas”, brinquei.
Resisti por muito tempo à pressão da mulher e dos filhos, portanto, mas logo após a aula experimental, fiz a matrícula. Gosto dos treinos e recomendo a todos, principalmente às pessoas que passaram ou estão passando dos 60, como eu.
Treino cinco dias da semana e, por isso, não costumo sentir dores musculares. Em alguns momentos, neste ambiente especializado, só sinto a dor da saudade. Quem mais me incentivou na adesão aos exercícios na academia não está mais aqui para malhar comigo.