
Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Primeira franquia paraibana surgiu na Feira Central de CG
Publicado em 24 de abril de 2025Modelo de negócios ainda em expansão no Brasil, a franquia aportou no país na década de 1950 com as escolas de idiomas e começou a se consolidar dos anos 70 em diante. A regulamentação do setor aconteceu em 1987, com a fundação da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Na Paraíba, quem sabe no Nordeste, a primeira franquia surgiu nos anos 60, no Mercado Central de Campina Grande.
O ano era 1967, e o meu tio Clovis, que já trabalhara no Mercado da Liberdade e em box da rodoviária velha, negociava com carnes no Mercado Central quando firmou uma parceria comercial com Gerson Reis Bezerra de Santana. Essa parceria resultou na instalação do Açougue Santa Terezinha, na Rua Campos Sales, em José Pinheiro, hoje a moderna Nutricarnes.
Um ano ou dois depois, outro Açougue Santa Terezinha foi assumido pelo tio Clemílcio, na Rua 15 de Novembro, no bairro das Palmeira; também existia outro estabelecimento com este nome de fantasia, nas imediações do Ponto de Cem Réis.
No Mercado Central, os três melhores boxes de carnes exibiam na fachada uma placa luminosa e em letras garrafais a marca Açougue Santa Terezinha, acrescentando os dizeres “Organização Gerson Reis”. Mesmo com o açougue no “Zepa”, o tio Clóvis continuou vendendo na feira, justamente num desses boxes, deixando-o em 1982, consolidado o comércio no bairro.
Gerson iniciou no comércio de carnes cedo e logo passou a ser fornecedor de boi aos marchantes das feiras de Campina Grande, principalmente a central, que tinha um movimento muito grande. De tino comercial apurado e visão ampla e futurista, Gerson vislumbrou a expansão de seus negócios pelos bairros, implantando esse sistema de parceria, que talvez nem ele soubesse que era franquia.
O modelo funcionava de forma extraoficial, baseado na confiança, na palavra empenhada. O “franqueado” lhe comprava as reses a serem abatidas no matadouro público e retalhadas e vendidas nos pontos da franquia. Dependendo do acordo, o aluguel era o couro do animal, disputado pelos curtumes então existentes. Alguns, pelo volume de compras, nem pagavam esse arrendamento.
Eu mesmo passei por essa experiência de “franqueado”, assumindo o box quando Clóvis deixou a feira em 82. Não foi muito boa, uma vez que o movimento na Feira Central de Campina Grande, no geral, vivia uma visível decadência causada pela expansão do comércio nos bairros. Mas ainda fiquei lá por quatro anos, saindo sob o efeito negativo do Plano Cruzado.
Aliás, esse plano econômico implantado pelo governo José Sarney, em 1986, teve efeito de “um cruzado certeiro” nos negócios de Gerson. No auge, ele manteve uma transportadora, a Santa Terezinha, com frota de caminhões boiadeiros, veículos especializados em carregar das regiões produtoras.
De saudosa memória, hoje Gérson Reis Bezerra de Santana nomeia um edifício em construção no bairro da Prata, onde morou por muitos anos. E, com muita justiça, é nome de rua em um dos bairros de Campina Grande.