Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

Primazias

Publicado em 11 de abril de 2022

Diariamente o pré-candidato do MDB, Senador Veneziano Vital do Rêgo, posta nas redes sociais fotos com o ex-presidente Lula, afirmando ser o preferido do PT na disputa pelo governo do Estado da Paraíba. Sábado (09/04/2022) as declarações vieram do Coordenador Geral da Campanha, extremista radical Randolfe Rodrigues, que não é “petista”: “Lula só terá um candidato e palanque na Paraíba: Veneziano Vital do Rêgo. Onde fica o PSB que tem em seus quadros Geraldo Alckmin, anunciado vice de Lula? Os votos de João Azevedo e seus aliados, são abjetos e dispensáveis?

Existência de dois palanques do PT – para acomodar conflitos locais e regionais – foram “engodos” estratégicos usados em 2006/2010 e 2014. Tropeçaram no vizinho Rio Grande do Norte (2014), e o preço cobrado pelos ludibriados foi o impeachment de Dilma Rousseff. Deputado Federal Henrique Eduardo Alves (onze mandatos ininterruptos no Parlamento), presidia a Câmara dos Deputados. Ex-Presidente Lula forçou sua candidatura ao governo. Costuraram o maior arco de alianças da história política potiguar. Ficou fora apenas o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Robinson Farias, magoado por não integrar a chapa majoritária, disputando a vaga do Senado.

Fechada a coligação, a deputada federal Fátima Bezerra (PT), candidata ao Senado, alegou questões éticas/pessoais, que lhes impedia estar ao lado de Henrique nos palanques. Ficaria “solta”, porém seguiria as determinações do partido. Mentiu. Robson Farias (PSD), com apoio de Gilberto Kassab, lançou-se candidato ao governo. Imediatamente a deputada federal Fátima Bezerra (PT) começou a pedir votos para Robinson Farias (PSD). Ninguém levou a sério.

Iniciada a campanha, Lula através das redes sociais e em comícios pedia aos potiguares que votassem em Henrique Eduardo Alves. Dilma Rousseff, candidata à reeleição e com poder de caneta, “oxigenava” financeiramente a campanha da deputada Fátima Bezerra – disputando o Senado – e por extensão Fábio Farias (PSD), concorrendo ao governo. Henrique, segundo pesquisas e apoios, venceria com esmagadora maioria. O pleito foi levado para o segundo turno e Henrique amargou uma derrota acachapante. Culparam Dilma e Lula pela traição “arquitetada”.

Retornando à Câmara para concluir seu mandato como presidente, Henrique deliberou deixar um legado histórico – sonhado pelos integrantes daquela Casa Legislativa – cuja maioria se solidarizou com ele, quando foi exposta a trama petista para derrotá-lo, e deixá-lo – pela primeira vez (desde 1970) – distante do seu inseparável broche da lapela.  Desengavetou e aprovou a PEC do Orçamento Impositivo, tirando todo poder de barganha da Presidente. Alforria para Deputados e Senadores, que não mais se submetem aos caprichos palacianos, para liberarem suas emendas.

A vingança de Henrique – com apoio do Parlamento – levou a ex-presidente Dilma Rousseff ao desespero. Foi advertida pelos seus conselheiros petistas, que o jogo havia mudado e para pior. Só concluiria seu mandato se o presidente da Câmara fosse seu aliado. Escalou interlocutores para “negociar” a sucessão de Henrique, oferecendo-lhes o direito de escolher qualquer nome, e o nomeou Ministro do Turismo. Sem rodeios, Henrique indicou Eduardo Cunha. Não satisfeita, e tripudiando o derrotado Henrique Alves, no último minuto, Dilma quis eleger Arlindo Chinaglia (PT). Derramou um rio de dinheiro, mas venceu o indicado de Henrique. A traição de Dilma contra Henrique e Eduardo Cunha despertou em ambos um sentimento de desforra. O resto da história, todos conhecem. Cunha perdeu a Presidência da Câmara, o mandato, e foi parar na cadeia. Porém, deu um “abraço de afogado” em Dilma: o impeachment e seus desdobramentos, levou uma ex-presidente a ser derrotada para o Senado em seu Estado, Minas Gerais (2018). Com “Emendas Impositivas”, pereceu projeto do PT de se perpetuar no poder.