PMCG de forma criminosa troca foto de fundador do Museu Histórico por óleo sobre tela de monarca portuguesa

Publicado em 11 de junho de 2022

A Prefeitura Municipal de Campina Grande, cujo jovem prefeito Bruno Cunha Lima (PSD) sempre se portou como um grande memorialista, conhecedor profundo de muitas das entranhas da História campinense, acaba de dar um golpe fatal no passado ao retirar do interior do Museu Histórico, de modo extremamente criminoso, a fotografia do saudoso professor, jornalista e historiador William Ramos Tejo, fundador da Casa, que adornava a sala principal do recinto.

No local, em vez do filho de Campina Grande, visitantes apreciarão um óleo sobre tela de falecida monarca portuguesa – Rainha Vitória – como espécie de patrona do que a direção do museu chama de “reinauguração do espaço” com uma exposição denominada “Os Afetos da Rainha”, justificada como sendo “uma nova abordagem de expografia e curadoria”. 

– “Quando vi o tema “Afetos da Rainha” pensei que era uma homenagem à Rainha da Borborema mas essa homenagem foi à Rainha de Portugal que nunca esteve no Nordeste, muito menos em Campina Grande”, espantou-se o médico João Jorge Di Pace Tejo, sobrinho do professor hostilizado, acrescentando que “difícil é compreender esse tema, saber qual a relação que tem a ilustre Rainha de Portugal com a história de Campina Grande!”. 

Não contente com o crime perpetrado contra Tejo, a Secretaria de Cultura também mandou retirar parte do acervo doado pela ilustre dama nativa dona Passinha Agra, uma das principais colaboradoras na criação do museu juntamente com Antônio Fernandes Bioca, as famílias Caroca, do O’, Arruda e tantos outros abnegados pela história de Campina Grande, tais como Léa Amorim, Lourdes Arruda, Célia Tejo, Suzy Ramos Tejo etc. 

– “Estou deveras indignada! Iremos consultar advogados. Se possível, resgatar todo o acervo de meu pai para nossa família visto que não serve para os acéfalos e incultos”, revoltou-se a filha do professor, Cristina Tejo.

Outro filho de Tejo, o jornalista Wiliam Tejo Filho, igualmente surpreso e indignado, disse que pessoalmente vai procurar o prefeito Bruno Cunha Lima para dele receber explicações que possam vir a lhe convencer.

Nas redes sociais, a indignação de parentes, amigos das famílias Tejo e Agra e de populares da cidade, tem sido geral, todos revoltados com o ultraje à memória de Tejo e de dona Passinha Agra.

A HISTÓRIA DO MUSEU 

Para o leitor conhecer melhor a história do Museu Histórico de Campina Grande, e a importância de Wiliam Tejo na sua criação, reproduzimos a seguir artigo escrito em janeiro de 2010 por Thomas Bruno Oliveira Thomas, Historiador (UEPB), Professor de História da Paraíba em Campina Grande, editor da Revista eletrônica Tarairiú, Diretor da Sociedade Paraibana de Arqueologia-SPA e Sócio do Instituto Histórico e Geographico do Cariry Parahybano e do Instituto Histórico de Campina Grande.

“Museu Histórico de Campina Grande 

Em 30/01/2010 às 11:06

Através de um projeto do historiador William Ramos Tejo que previa criar na cidade um órgão cultural com finalidade de recolher, tombar, classificar, catalogar, conservar, expor e divulgar peças e documentos referentes à Paraíba, especialmente a cidade de Campina Grande, em 28 de janeiro de 1983 foi inaugurado o Museu Histórico e Geográfico de Campina Grande.

O museu, criado na gestão do então prefeito Enivaldo Ribeiro, foi instalado no imóvel da avenida Floriano Peixoto, em frente à Catedral, onde funcionou entre 1896 e 1933 o Telégrafo. Prédio construído em 1814 tendo servido de cadeia, onde foi retido o revolucionário Frei Caneca em 1824. Também serviu à Câmara Municipal e à primeira sede da Reitoria da UEPB.

O órgão, ao longo de sua existência, foi administrado por personalidades como William Tejo (1983- 1985), subsequentemente pelo historiador Josemir Camilo (1986), Edilson Nóbrega de Souza (1987-1994), Walter Tavares (1994-2004), e o jornalista Hermano José.

Além de inúmeras peças e documentos de valor histórico de Campina, o museu também expõe algumas peças que podem ajudar a elucidar o passado pré-histórico da cidade. São três artefatos líticos: duas machadinhas e uma mão de pilão, confeccionados em pedra ígnea, oriundos do então distrito de Boa Vista, as únicas peças das comunidades pré-históricas da região em exposição.

Numa matéria publicada em 22 de novembro de 1998 no Jornal da Paraíba, noticia que Daniel de Castro Bezerra, um mestrando em Pré-história do Nordeste pela UFPE, recebeu grande apoio para suas pesquisas arqueológicas por parte do Museu, que acolheu o projeto e pôs à disposição as instalações e o pessoal para o pesquisador. Na mesma matéria, Daniel de Castro relata que, em troca do apoio, estava organizando uma seção arqueológica no Museu e renovando a biblioteca/arquivo com uma literatura especializada para que a comunidade pudesse pesquisar. Material que até o presente nunca veio.

Assim como o referido pesquisador, há muito que estudantes e pesquisadores se utilizam do acervo do Museu sem que, no entanto, em nada contribuam para o melhoramento e higienização deste acervo.

A atendente de pesquisa do órgão, Maria de Fátima Nóbrega de Souza, é um exemplo de cidadã preocupada com as raízes de nossa cidade. Profunda conhecedora e guardiã do acervo em arquivo, Fátima além de zelar com carinho, em muitos casos adquire de seu próprio salário escarcelas para melhor arquivar documentos de maior delicadeza.

Seu arquivo bibliográfico pode ser acessado diariamente e estamos sempre contribuindo doando livros nossos e de outros pesquisadores. É o lugar que reúne uma das maiores coleções de livros sobre pré-história da cidade.

Apesar da estrutura física do Museu ser inapropriada para o que se propõe e do estado de abandono em que se encontra, sem sombras de dúvidas, é o mais importante e rico acervo de relíquias do passado da cidade. Por isso é dever de todos nós cidadãos campinenses e do poder público contribuir com essa casa da memória para que nós, e nossas gerações futuras, possamos conhecer e perpetuar nossa história.

Fonte: Da Redação