Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

PERSONAGENS ANÔNIMOS DA HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE – (I) 

Publicado em 1 de julho de 2023

Após a surpreendente vitória de Ronaldo Cunha Lima em 15/11/1982 – disputando a PMCG e derrotando o saudoso tribuno Vital do Rego – o então ministro do Interior Mário David Andreazza veio a Campina Grande, cidade que inexplicavelmente ele havia adotado como sua terra natal, para confortar seu amigo, então prefeito Enivaldo Ribeiro, considerado por ele como um filho, ou irmão.

O engenheiro José Silvino Sobrinho, na ocasião, já era Supersecretário do governo Buriti I, acumulando duas pastas: Transportes e Obras/Planejamento. Comandava o DER, SUPLAN, PB-TUR, CEHAP, CAGEPA. SAELPA e Defesa Civil. Antes, pelo período de dois anos, havia ocupado a Secretário de Obras de Campina Grande e instalado equipe escolhida a dedo por ele, responsável pela elaboração de todos os projetos da gestão Enivaldo Ribeiro.

Nesta visita que citamos no início do texto, Andreazza pousou em João Pessoa e convidou Silvino para acompanhá-lo até Campina. Estávamos na ocasião com Silvino e pegamos a carona. Após sobrevoar a cidade, Silvino mostrando as obras, o ministro indagou: “Secretário, depois de tudo que estou vendo, o que levou o candidato de Enivaldo perder a campanha?” Sem rodeios e com sinceridade, Silvino respondeu: “perdi algumas noites de sono procurando onde erramos… Só encontrei uma resposta: faltou votos”.

O ministro Mário Andreazza passou a ter grande admiração pelo engenheiro José Silvino Sobrinho e o arquiteto Renato Azevedo – valores latentes revelados na época – através de suas ideias inovadoras inseridas nos projetos CURA I, II e III, que foi considerado “piloto” (exemplo a ser copiado) pelo Ministério do Interior.

Silvino e Renato se notabilizaram também por conceberem um novo formato de reordenamento urbano, a partir de um Plano Diretor inspirado na visão futurista da “mobilidade urbana”, tema que só veio ser debatido duas décadas depois e hoje é fruto de discussão das grandes cidades e metrópoles do País.

Neste novo modelo de “cidade do futuro”, incluíram a criação de um “Distrito” para concentrar todos os serviços mecânicos. As ruas centrais de Campina Grande eram praticamente intransitáveis, repletas de oficinas mecânicas, tomando espaços principalmente das calçadas. O Distrito dos Mecânicos de Campina foi o primeiro do Brasil.

No ano abundante de 1982, a Prefeitura de Campina Grande abarrotou seus cofres, a ponto de transbordá-lo. Além de dezenas de convênios com o Ministério do Interior, o ministro Delfim Neto havia criado o imposto eleitoreiro para a campanha: o Finsocial. Usando o prestígio de Andreazza, Enivaldo conseguiu uma montanha de dinheiro do Finsocial, para ser distribuído com a população de baixa renda, fornecendo material de construção. Caibros, telhas, ripas, tijolos e cimento, de junho (1982) até novembro, toda a população de Campina Grande (carente ou não) usou, e até se estocaram.

Passada a eleição, surgiu um problema enxergado unicamente pelo então presidente da Câmara Municipal, vereador Altair Pereira (Bazinho). Na mesma velocidade que o dinheiro entrava, era imediatamente gasto. O gabinete do Prefeito não atentou para a burocracia, que determina um pedido de suplementação orçamentaria à Câmara, e só após sua aprovação os recursos poderiam ser incorporados ao Orçamento e gastos. O volume de recursos, se não triplicou, pelo menos duplicou o Orçamento previsto para 1982.

Bazinho (Altair Pereira) criou uma força tarefa, e com mão de ferro convocou sessões quase que diárias, no período de novembro (1982) até 20.01.1983. Uma bronca grande. Vereadores que foram derrotados não queriam participar das sessões. Os vitoriosos novatos e da oposição tentavam impedir os trabalhos legislativos, na intenção de deixar Enivaldo condenado e inelegível para sempre, além de ter que devolver recursos, como determina o TCU. Bazinho não só provou sua lealdade a Enivaldo. Protagonizou um ato heroico, altruísta, sem alardes e no anonimato. Quanto a Andreazza, merece ser imortalizado, homenageado com um nome de rua ou logradouro púbico importante. Campina sempre mostrou gratidão por aqueles que contribuíram com sua grandeza.