Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
“Pensei que o Maradona fosse bom”, disse o menino após ver filme de Pelé
Publicado em 6 de janeiro de 2023De tanto ler sobre Pelé, após seu lance derradeiro, até me veio um estado de desânimo para escrever sobre ele. Recobrei o alento após a absoluta certeza de que sempre se terá algo a dizer, pensar e digitar sobre o Rei do Futebol na eternidade de sua arte com a bola.
Eu ainda pulava na barriga de minha mãe quando Pelé, Garrincha e companheiros conquistaram a Copa do Mundo de 1958. As primeiras dores do trabalho de parto vierem no calor das comemorações, resultando numa séria eclampsia que a deixou cinco dias sem visão, reclusa num isolamento do hoje Isea.
Treze dias depois da conquista histórica, dona Cleonice me deu à luz. E ainda hoje, com as bênçãos divinas, me dá luz… Aliás, há uma dupla paridade entre minha mãe e Pelé, pois nasceram no mesmo ano e com a mesma idade (17 anos) foram convocados: ele, a disputar a primeira Copa; ela, a gerar o primeiro filho.
Destarte, fui “crescendo, crescendo e absorvendo” as histórias de Pelé. Inicialmente pelos comentários dos familiares em casa e pelas revistas chegadas às minhas mãos ao abrir a porteira para a caminhonete de Aluísio Silva passar ao esplendor do tricampeonato de 1970.
Aquela Copa inesquecível foi a consagração definitiva de Pelé e o meu despertar vibrante para o futebol como torcedor. Na qualidade de aficionado desse esporte, mesmo não sendo santista em território paulista, aprendi a valorizar e admirar as jogadas do Rei.
A admirar ainda o seu comportamento fora do gramado, mostrando-se atleta exemplar. Não lembro de tê-lo visto ou ouvido em alguma publicidade de bebida ou cigarro, num tempo em que esses produtos não tinham restrição de horário de exibição comercial e os fabricantes se constituíam nos maiores patrocinadores, no rádio e na TV.
Acho fora de lógica qualquer comparação de atletas com Pelé, por mais geniais que eles tenham sido ou sejam. No auge de Maradona, por exemplo, esse confronto foi muito atiçado pela rivalidade extrema entre o Brasil e a Argentina no campo futebolístico.
A propósito, na segunda metade dos anos 80, o SESC Açude Velho exibiu em sua sala um filme contando a história do Camisa 10 – se a memória não me dribla, o documentário Isto é Pelé. Um pai convidou o filho adolescente – mais criança do que adolescente – fã do futebol do argentino, e foram assistir ao documentário.
Não é que o pai, que sacrificara seus momentos etílicos com os amigos naquela noite, foi recompensado em conversa com o rebento, após terminada a exibição cinematográfica, no curto caminho até onde o Fusca da família estava estacionado. “Papai, pensei que o Maradona fosse bom”, comentou o garoto, pasmando o velho.