Pedro tenta frear passado de Cássio com medo de João relembrar “pulada de cerca” que motivou separação dos pais
Publicado em 20 de outubro de 2022Nas últimas 72 horas o deputado federal e candidato ao Governo da Paraíba pelo PSD, Pedro Cunha Lima, só não fez ainda se ajoelhar aos pés do seu adversário candidato à reeleição pelo PSB, João Azevedo, mas tem implorado veementemente para que o socialista esqueça o passado, notadamente em relação a temas que tragam o seu pai, ex-governador Cássio Cunha Lima, à ribalta.
Impiedoso, João não tem dado ouvidos ao clamor do oponente e busca mostrar – pelo guia eleitoral e nos debates – que Pedro representa um passado triste da Paraíba, quando o seu pai teve a oportunidade de governá-la, mas foi expulso do Palácio por decisão judicial, enquadrado em crime de improbidade.
João não está errado. Cássio Cunha Lima, pai de Pedro, bem como o seu avô Ronaldo Cunha Lima, que também governou a Paraíba, na verdade não são realmente excelentes exemplos a serem lembrados, a não ser para refrescar a memória do eleitorado sobre o que poderia vir a acontecer em um eventual governo do jovem parlamentar.
Nos Governos Cunha Lima estudantes arriscavam a vida na carroceria de paus-de-arara
Sem nenhuma experiência executiva, aos olhos de João Azevedo o seu opositor sendo eleito desmontará o Estado e, por isso, ele faz questão de relembrar a Paraíba daqueles anos, onde estudante no interior era transportado em pau-de-arara, policiais precisavam empurrar viaturas por falta de combustíveis e servidores públicos eram obrigados a fazer empréstimo consignado para receber salários.
Aliás, o passado do pai de Pedro é de fato um desastre.
Segundo o jornalista Paulo Nogueira, que publicou anos atrás no portal DCM (na época do impeachment de Dilma Rouseff) extensa reportagem sobre a vida pública de Cássio Cunha Lima, o paraibano seria um verdadeiro “cara de pau”.
O texto começa com algumas indagações: “Quem o senhor Cássio Cunha Lima pensa que é para falar obsessivamente em nome do povo brasileiro? Quem lhe deu procuração? Você, eu?
O jornalista diz que lhe havia chamado a atenção que ninguém entre os senadores tivesse dito isso a ele em alguma das suas múltiplas invocações fraudulentas do povo brasileiro: “Como o senhor ousa falar em nome da sociedade?”
Paulo Nogueira contextualizou que há um romance de Agatha Christie em que um grupo de pessoas são reunidas numa casa numa ilha. Subitamente, uma gravação começa a apontar os crimes de um por um. “E não restou nenhum”, disse ele perguntando: “se uma gravação dessa natureza contemplasse os senadores que condenavam tão ruidosamente Dilma, quantos sobrariam?”
E aí, fulminou naquele texto:
“O senador Cássio Cunha Lima não. Ele é ficha suja, para começo de conversa. Foi cassado quando era governador da Paraíba em 2009, acusado de desvios de recursos e compra de votos.
Viaturas da PM paravam nas ocorrências por falta de gasolina
Uma decisão do STF de postergar as consequências da Ficha Suja permitiu que ele concorresse ao Senado em 2012. Por isso temos que aturar essa reserva moral do PSDB fazendo prédicas cínicas sobre corrupção.
Há, fora tudo, um caso cômico em seu prontuário. Passou à história política como o episódio do Dinheiro Voador”.
E explicou, anexando ao seu texto recorte capturado no site Movimento Ficha Limpa:
– “Cássio Cunha Lima ficou nacionalmente conhecido em 2006. No dia 27 de outubro de 2006, dois dias antes do segundo turno das eleições para seu segundo mandato como governador, alguns fiscais da Justiça Eleitoral foram verificar uma denúncia de distribuição de dinheiro para compra de votos no edifício Concorde, em João Pessoa, capital da Paraíba.
Na saída os fiscais foram informados por terceiros que diversos objetos foram arremessados da janela de uma das salas do edifício. Os fiscais checaram os objetos atirados pelos funcionários de Cássio Cunha Lima e apreenderam mais de R$ 305 mil, títulos eleitorais e diversas contas de água e luz pagas.”
E segue a reportagem de Nogueira informando que com o dinheiro voador o “nobre senador” Cunha Lima estava comprando votos.
O texto também traz uma informação que poucos conhecem. A de que o processo contra Cássio Cunha Lima foi parar nas mãos do então juiz Sérgio Moro, que não moveu nenhuma palha para que o mesmo andasse estando o caso parado em gavetas da Justiça desde 2012.
Vale a pena reproduzir o resto do texto de Paulo Nogueira:
“É (Cássio) um oligarca. Seu pai Ronaldo foi governador da Paraíba. Notabilizou-se por dar dois tiros num adversário político, Tarcísio Burity, por acusações de corrupção que este fez ao filho Cássio. Era deputado federal. Renunciou para não ser julgado pelo STF. Claro que as coisas estavam muito mais sob controle na justiça local. Jamais chegou a ser julgado.
Servidor público para receber 13º salário era obrigado a fazer empréstimos
A tentativa de homicídio foi em 1993. Catorze anos depois, o então ministro do STF Joaquim Barbosa se pronunciou sobre o assunto: “Esse homem manobrou e usou de todas as chicanas processuais por 14 anos para fugir do julgamento. O ato dele é um escárnio para com a Justiça brasileira em geral e para com o Supremo em particular. Ele tem direito de renunciar, mas é evidente a segunda intenção. O que ele fez foi impedir que a Justiça funcionasse.”
E no Senado, o filho Cássio teve o descaro em falar de “procrastinação” do julgamento de Dilma.
Ronaldo Cunha Lima atirou num adversário que acusou o filho Cássio de corrupção e jamais foi julgado
A oligarquia continua. No Senado, Cássio fez merchandising de seu filho Pedro, deputado federal pela Paraíba. Na infame sessão da Câmara que abriu o golpe, Pedro desqualificou, lembrou o pai, os 54 milhões de votos recebidos por Dilma.
A oligarquia, como presumível, tem propriedades na mídia local – uma aberração. Parentes são colocados na administração. Em 2013, o site Observatório da Imprensa registrou que a rede Tamandaré de rádio e tevê é uma sociedade de Savigny Rodrigues da Cunha Lima e Silvana Medeiros da Cunha Lima.
Quando começou a campanha pela deposição de Dilma, ele logo foi alvo das luzes da mídia pelo tom vitriólico de seus pronunciamentos contra o governo.
Nenhum jornal, nenhuma revista — ninguém achou que era notícia o passado corrupto de um senador que falava tanto em corrupção.
A isso se dá o nome de jornalismo de guerra. Fosse petista, você pode imaginar como teria sido tratada a vida pretérita de Cássio Cunha Lima.
Gleisi Hoffmann resumiu com perfeição o julgamento no Senado. Quem tem autoridade moral para julgar Dilma?
Cássio Cunha Lima, um dos mais barulhentos golpistas, definitivamente não”, concluiu Paulo Nogueira.
A PULADA DE CERCA
Mas nenhum desses descalabros produzidos por Cássio Cunha Lima enquanto governador (viaturas policiais sem gasolina, estudantes em pau-de-arara, servidores fazendo empréstimos para receber salários, etc.) incomodaria tanto Pedro quanto uma outra lastimável faceta da história do pai que ele teme possa vir a ser trazida a público por João Azevedo nessa reta final do segundo turno, algo improvável de acontecer tendo em vista o notório comportamento extremamente ético do governador: a famosa “pulada de cerca” de Cássio em pleno exercício do mandato, na orla de João Pessoa em noite de pagode aos beijos com a esfuziante loira Jacilene Alves de Azevedo, que APALAVRA à época identificou como amante de Sua Excelência e que veio a ser pivô do desenlace matrimonial dele com a mãe de Pedro, Silvia Almeida.
Sem dúvidas, é essa a maior preocupação de Pedro, para barrar a insistência com que João bota no debate o passado sombrio do seu genitor, homem que comanda nas coxias toda a estratégia de campanha do herdeiro.
SERVIDORA FANTASMA
Reportagem d’APALAVRA na época, reproduzida em diversos veículos de comunicação do Estado desmentindo a Casa Civil do governador, que em nota justificava que a loira que beijara Sua Excelência “à força” era apenas uma fã e eleitora entusiasmada, acabou por mostrar também que Jacilene era funcionária fantasma do Governo, com salários naquele ano na faixa de R$ 1,5 mil
Registrava assim APALAVRA, sobre a loira de Cássio:
– “Ela é comissionada, com exercício na Secretaria de Estado de Interiorização da Ação do Governo, titulada pelo deputado estadual licenciado Romero Rodrigues, primo do Chefe do Executivo.
O ato assinado pelo próprio governador Cássio Cunha Lima é a Portaria 0758, de 29 de março de 2007, publicada no Diário Oficial do Estado no dia seguinte, 30 de março.
Jacilene é Assistente de Gabinete I, Símbolo CAD-6, mas não deu até agora nenhum minuto de expediente na repartição onde está lotada. Pelo menos no local ninguém lembra de tê-la visto nem em dias de receber o contracheque.
NOS ESTADOS UNIDOS
Depois de identificada pela reportagem de A PALAVRA como amante do governador, ninguém mais viu a loira em Campina Grande.
Dois colunistas sociais da cidade, que privavam até dias antes da amizade do casal, disseram que ela costumava gabar-se junto a amigas que Cássio teria sido o seu “primeiro homem”, aludindo à perda da virgindade ainda bem jovem.
Segundo eles, Jacilene teve de ir morar por alguns meses nos Estados Unidos, em casa de um irmão, para evitar que na campanha o amado se desconcentrasse da agenda, tanta era a paixão entre os dois.
Ao retornar à Paraíba, o governador a teria arranjado emprego no Detran, e os dois passaram a se encontrar da forma a mais discreta possível, tendo ela namorado “de fachada” um diretor de marketing da São Paulo Alpargatas, de nome William Sampaio, não por coincidência amigo de Diego, filho de Cássio, o que muito ajudou no disfarce da relação, segundo um dos cronistas, que pediu omissão do nome, por questões óbvias.
Cássio Cunha Lima hoje é casado com Jacillene e tem um filho da relação – Vinicius.
Fonte: Da Redação