Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

Paternidade paradoxal

Publicado em 11 de agosto de 2022

Neste segundo domingo de agosto, vivenciarei a amargura e o paradoxo de uma saudade dupla. A saudade de papai, que há quase 15 anos se foi, e a saudade do filho, que há seis meses nos deixou, invertendo de forma trágica o ciclo natural da vida no qual os filhos inumam os pais.

Paradoxalmente, neste dia, também louvarei a paternidade dupla, a avosidade, essa dádiva divina que se conquista sem qualquer esforço e que tanto ameniza nossa dor. “Tadinho”, diria minha avó Aurora sobre Miguel, o primeiro neto, que com apenas dois meses já carrega a responsabilidade de suavizar a saudade dos avós…

Vez ou outra me apego em reflexão sobre a paradoxalidade de ser pai e de ser filho e sempre concluo o instante reflexivo com a sensação de que sou melhor no exercício da filiação do que no tirocínio da paternidade. Não carrego remorso, e talvez a realidade de ser primogênito de uma prole de 13 explique mais um paradoxo.

Parece contraditório também que, na juventude, eu sentia meu pai muito distante de mim. Tinha dificuldades em me aproximar dele, mas, religiosamente, todos os dias, lhe pedia a bênção, um dos valores que a grande maioria dos filhos de hoje não pratica.

Numa noite de 1986, após uma farra improvisada, cheguei em casa sob o intenso efeito da ebriedade, e papai abriu a porta para eu entrar, abrindo também duas janelas para essa distância encurtar, encurtar, encurtar… até acabar.

Não lembro o que tanto conversei com ele, mas recordo da insistência para que lesse os dois volumes de Solo de Clarineta, de Érico Veríssimo, que eu tinha adquirido de um colega de faculdade e que acabara de ler num fôlego só.

No outro dia, logo às primeiras horas da manhã, acordei com o remorso corroendo meu interior. A sensação de culpabilidade aumentou ainda mais quando uma das irmãs me alertou do que eu fizera com ele. De imediato, chamei-o para uma conversa e lhe pedi desculpas.

Reagiu com a mansidão que os açoites da vida lhe ensinaram e de forma surpresamente compreensiva, mas me legando um conselho, suspeitando que a ebriedade momentânea fora consequência de um namoro recém-acabado. “Não beba por mulher nenhuma”. Nunca mais senti Zé Patrício distante de mim.

Também nunca senti meus filhos distantes de mim, mas tenho consciência de que deveria ter chegado mais perto deles, na infância e na adolescência. A responsabilidade de uma intensa rotina diária de trabalho impediu uma aproximação maior com meu trio, hoje desfeito, principalmente com mais momentos de lazer.

Certa vez, um amigo disse que “todo pai é covarde”. Em parte, até concordei, mas acho mesmo que todo pai sente que poderia fazer mais pela prole, por mais que ele tenha realizado.

Num dos Dia dos Pais passado, cheguei a espalhar cartazes pela casa com frases pedindo perdão pelo “pai que não fui”. Não foi uma confissão de “malevosidade” paterna, como na letra musical da banda gaúcha, mas a expressão cordelista de quem acha que poderia ser um pai melhor. Ter feito mais, ter evitado excessos.

Refletindo sobre a paternidade, durmo tranquilo, pois sei que nenhum deles, na praticidade dos excessos da juventude, nos deu um desgasto moral. São – e foi, no caso do que voltou à casa do Pai – filhos que assimilaram a trilogia que procurei lhes passar, a trilogia do bem que herdei de meu pai: honestidade, trabalhabilidade e responsabilidade. A maior de todas é a honestidade.

PADRASTO INJUSTO

Uma semana antes do Dia dos Pais, o Campinense selou a pecha de padrasto injusto e cruel em sua torcida, ao ser rebaixado à Série D do Campeonato Brasileiro de 2023, depois do empate em um tento com o Floresta. Conforme as estatísticas, já pode pedir música, pois confirma seu terceiro rebaixamento em competição nacional.