Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
(PARTE II) – AS DIFICULDADES DA CLASSE POLÍTICA ALCANÇAR O POVÃO ATRAVÉS DA MÍDIA
Publicado em 23 de fevereiro de 2024Audiência não significa preferência ou transferência. Este equívoco sempre foi ignorado pela classe política e continua deixando perplexos ou surpresos a maioria dos profissionais da área de comunicações – Rádio, TV, Jornais (hoje Sites e Portais de Notícias). O conceito abrange as plataformas criadas pelas gigantes Big Tech: Youtube, Facebook; Instagram; Twitter; Tik Tok, Kwai… que reportam fatos instantaneamente. Surgiram novas categorias de comunicadores, como o Youtuber, o Digital Influence…
O que nos deixa intrigado é a carência de um método apropriado, para construir ou modificar o comportamento do povão – criando um personagem político – utilizando toda esta ferramenta tradicional, e a vanguarda. Nas eleições de 2018 o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, gastou 40 milhões de reais com marqueteiros e principais “Influences”, dominadores das redes sociais. Perdeu para Cabo Daciolo. Ou o povo não entendeu a mensagem de Meirelles, ou a maioria se nivela ao Cabo Daciolo.
Nos anos 70, a grande audiência radiofônica em João Pessoa era comandada por Enoque Pelágio. Apresentava um programa policial. Decidiu ser candidato e disputar uma vaga na Casa Napoleão Laureano (1976). Obteve uma votação superior a de um deputado estadual. Mas, talvez seu desempenho como homem público tenha decepcionado o eleitor. Mesmo continuando líder de audiência, em 1978 deu um passo maior que a perna e disputou um dos assentos da Casa Epitácio Pessoa. Obteve uma votação inferior à de um vereador. Frustrado, abandonou a sua curta carreira política.
Em Campina Grande, a Rádio elegeu diversos vereadores. Ary Rodrigues, Zé Cláudio, Evilásio Junqueira, José Luíz Júnior, Assis Costa, Marcos Marinho e Negão do Café (controlador de som da Rádio Cidade). Mas, derrotou outros, como Mica, Paulo Roberto Florêncio, Dagoberto Pontes, Kaliulka Vólia… Todos tinham audiência cativa, respeito e carinho do ouvinte ou telespectador. O que fez o povo pensar diferente na hora de votar, e não preferir seus nomes?
Gonzaga Rodrigues, decano do jornalismo paraibano, brilhante escritor e presidente da Academia Paraibana de Literatura, nas eleições de 1996 seus amigos o lançaram candidato a vereador. Nos papos dos cafés da Capital, quando se listava os prováveis eleitos Gonzaga era o primeiro. Infelizmente não alcançou nem a suplência. O saudoso Soares Madruga, melhor comentarista político dos anos setenta, elegeu-se deputado estadual porque o dono do jornal que ele trabalhava era deputado federal (Teotônio Neto) e o governador Ernany Sátiro, lhes garantiu cinco bons redutos. Foi líder do governo Burity, presidente da Assembleia no governo Wilson Braga. Partiu prematuramente, no exercício do seu quarto mandato.
Nas eleições municipais de 2020 os comunicadores voltaram à cena política em João Pessoa. A surpresa foi o radialista Nilvan Ferreira. Alcançou o segundo turno, com 16,51% dos votos (60.615), derrotando Ruy Carneiro, Wallber Virgolino e o ex-governador Ricardo Coutinho. Cícero Lucena figurou com 20,72% dos votos (75.610). Venceu Nilvan no segundo turno, evento previsível, pela omissão de Ruy Carneiro que se recusou apoiar Nilvan e permitir Cícero retornar para seu terceiro mandato.
O companheiro Heron Cid, jornalista mais conhecido e admirado em toda a Paraíba, foi candidato a deputado federal em 2022. Postamos um artigo, defendendo seu nome para o Senado. Era melhor e mais conhecido que o de Pollyanna Dutra. Quem conhecia Pollyanna em Campina Grande e região? Heron, todos o ouviam pela manhã, tarde e noite. Mas, os planos de sua legenda talvez fossem outros: atingir pelo menos 18 mil votos para eleger Gervásio Maia e Ricardo Barbosa (faltou 5 mil para entrar).
Nilvan não era conhecido em Campina Grande. Foi candidato ao governo (2022) e enfrentou as maiores lideranças políticas do Estado. Governador João Azevedo, Cícero Lucena, Ricardo Coutinho, Cássio Cunha Lima, Pedro Cunha Lima, Daniella Ribeiro, o Republicanos com Adriano Galdino, Hugo Mota, Wilson Santiago (pai e filho), Murilo Galdino, além do boicote de sua legenda. Obteve 406.604 votos, terceiro colocado, ficando à frente de Veneziano Vital do Rêgo.