Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Os “dois pra lá dois pra cá” de um casal em “apê” paulista
Publicado em 29 de junho de 2023Há uma desconexão gritante entre minha paixão pela sonoridade dos ritmos nordestinos e a prática gostosa a que eles nos impelem. Sou apaixonado por forró e não danço, por mais comichões que o toque da sanfona, o batuque do zabumba e o tilintar do triângulo possam provocar nas minhas pernas e nos meus pés.
Quando confesso que gosto de forró e não danço, quem escuta meu lamento sempre vem, com indisfarçável admiração, me alertar que é muito fácil, são apenas “dois passos pra lá e dois pra cá”. Tentei várias vezes, mas me falta o gingado no corpo, embora os pés e as pernas insistam estimular.
Nascida e criada no ABC paulista, a prima Jussara herdou a paixão familiar pelas coisas do Nordeste, entre as quais gostar de forró. Após um intervalo de cerca de cinco anos sem pisar em solo nordestino, ela nos deu o prazer de sua presença, oportunidade em que apresentou o companheiro de vida e de aventuras aos familiares nativos.
Pena que o tempo foi curto, cinco dias apenas, mas o bastante para me encantar com a harmonia dos dois e dimensionar o interesse dele pela cultura do Nordeste. Nesse período, Guilherme vivenciou admiravelmente cada momento em nosso chão, conhecendo o Parque o Povo, a Vila Sítio São João, o artesanato; provando nossa culinária, degustando nossa cachaça, além de dançar e ouvir o nosso forró tradicional.
A prima se disse indignada com o encurtamento do show de Flávio José. Na sexta-feira, véspera de São João, após 11 dias da volta a São Paulo, me envia mensagens perguntando como estão os festejos e lembrando que “hoje é o dia principal”.
Não fui ao “PP” naquela noite, mas vi a reprise do show de Elba pela TV; enviei-lhe mensagem dizendo que foi espetacular e ela interagiu lamentando que queria ter visto. “Hoje trabalhei ouvindo Flávio José”, confessou.
Se não bastasse toda essa demonstração de apreço às nossas tradições, na curtíssima passagem por aqui, o casal confessou que o passatempo preferido nos momentos de folga é ouvir música e tomar um bom vinho, no “apê” em que moram em São Bernardo do Campo. Mas quando toca as músicas Sala de Reboco, de Zé Marcolino, e Feira de Mangaio, de Sivuca e Glorinha Gadelha, eles não se limitam a ouvir. Entram no compasso do “dois pra lá, dois pra cá”.