Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

OS DESAFIOS DE HUGO MOTTA

Publicado em 28 de janeiro de 2025

No próximo sábado (01/02/2025), em circunstâncias adversas ao quadro enfrentado em 2020 por Arthur Lira, Hugo Motta será confortavelmente eleito presidente da Câmara dos Deputados, com o apoio de uma ampla frente partidária que vai das esquerdas, passa pelo centro e alcança a direita. Até o presente – mesmo com o registro ontem (27/01/2024) de mais dois postulantes ao cargo – a vitória de Hugo é considerada fato consumado. Talvez não consiga a mesma votação de Arthur Lira.

O deputado federal Henrique Vieira (PSOL-RJ) lançou-se ontem como uma alternativa para atrair as esquerdas radicais (PCdoB), além de descontentes do PT raiz e PSB. Marcel Van Hattem (NOVO) buscará os bolsonaristas “puro sangue”, que não concordam em se “misturar” com o Palácio do Planalto. Sonha atrair membros do PL, PR, PP e União Brasil. A intenção de ambos é provocar um segundo turno. Muito embora tudo já esteja pactuado, mas o voto é secreto e oportuniza traições.

Já presenciamos surpresas inimagináveis, como a eleição em segundo turno de Severino Cavalcanti – candidato independente – sem apoio do seu partido PP. O candidato oficial do então presidente da Câmara João Paulo, do PT e de Lula I, foi o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh. Mas, de última hora, Virgílio Guimarães do (PT-MG) lançou-se também, como candidato avulso. Foram 24 horas de tensão. Por volta da meia noite, a surpresa: Greenhalgh conseguiu apenas 207 votos. Severino Cavalcanti 124; Virgílio Guimarães 117; José Carlos Aleluia (PFL-BA) 53; Jair Bolsonaro outro independente (PFL-RJ) 02 votos.

Dez ministros foram despertados e desceram para o Congresso para salvar Lula de uma derrota. As Emendas Parlamentares nesta época ainda não eram impositivas. Abriram Ministérios e distribuíram empenhos para quase todos os deputados. Iniciaram a votação do segundo turno. Virgílio Guimarães não foi mais visto no plenário. Quando apuraram os votos, Severino Cavalcanti apareceu com 300 sufrágios e Greenhalgh caiu de 207 para 180 votos. O governo pagou caro e não venceu. Pouquíssimos traidores foram posteriormente identificados, porém compensados por Severino Cavalcanti.

Alguns fatos novos brotados nos últimos dias exigirão grande esforço de Hugo Motta, evitando um repentino reposicionamento dos parlamentares votantes. A posse de Donald Trump e o desconhecimento da legitimidade do governo Lula – ao invés de oficialmente convidá-lo convidou o ex-presidente Bolsonaro e sua família; o vídeo do PIX de Nicolás Ferreira; a decisão do TCU em suspender o pagamento de 6,0 bilhões de reais do programa pé-de-meia, considerando ainda que os 3,0 já desembolsados foram “pedaladas fiscais”; pedido de impeachment do presidente Lula, inicialmente só requerido pelo deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) até ontem já tinha 97 assinaturas; a disparada da inflação e a declaração do presidente do NU Bank, após chegar do Fórum de Davos, e revelar que o Brasil está fora do radar para os grandes investidores nos próximos dois anos. Vietnam, Índia e Argentina são prioridades.

O primeiro desafio de Hugo é votar o Orçamento, ainda estamos em 2024. Em seguida, descascar o abacaxi deixado por Arthur Lira. Aprovação da PEC da Anistia dos envolvidos nos atos de 08/01/2023; PEC que limita os poderes do STF; voto impresso.

Quanto a Lula, após a última pesquisa da Quest só resta a eleição de Hugo. Entregar o governo ao Republicanos e aliados, submergir e concluir seu sofrível mandato. O ano trará o povo de volta às ruas, com grandes manifestações.