Os desafios da Igreja Católica no Brasil após o papa Francisco: perda de fiéis, falta de padres e polarização política

Publicado em 23 de abril de 2025

Igreja Católica enfrenta nesta primeira metade do século 21 no Brasil, o maior país católico do mundo, desafios tão grandes quanto sua relevância na sociedade brasileira.

São questões que, de certa forma, o papa Francisco procurou enfrentar. Mas ficam como legado para o próximo pontífice.

A presença católica mantém uma profunda capilaridade no país mesmo diante do avanço das igrejas evangélicas que ameça sua hegemonia.

Segundo levantamento realizado em fevereiro pelo teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Junior, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), são 12.618 paróquias espalhadas por todo o território.

Com 490 bispos vivos, 318 deles na ativa, o Brasil tem o maior episcopado do mundo — os Estados Unidos vêm em segundo, com 446 bispos (276 na ativa); em terceiro, está a Itália, com 397 (227 na ativa).

Na hierarquia católica, bispos são padres nomeados pelos papas para ser a autoridade pastoral em determinada região, a chamadas diocese.

O Brasil tem ainda o quarto maior número de cardeais do mundo, empatado com França e Argentina, com oito ao todo (mas apenas sete cardeais brasileiros são eleitores no conclave que escolherá o novo papa).

Esse é o segundo posto da hierarquia da Igreja, abaixo apenas do próprio papa. A Itália lidera de longe, com 51 no total, seguida por Estados Unidos (17) e Espanha (13).

Toda essa grandeza, entretanto, tem perdido relevância nas últimas décadas por dois caminhos diametralmente opostos, segundo especialistas: de um lado, uma suposta perda de influência da religião sobre as variadas esferas da vida; do outro, o crescimento evangélico.

Bispos participam de missa durante a 61ª edição da Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 10 de abril de 2024

Crédito,Divulgação/CNBB

Legenda da foto,Com 490 bispos vivos, 318 deles na ativa, o Brasil tem o maior episcopado do mundo

“A Igreja Católica está perdendo fiéis? Estatisticamente está. Mas é preciso entender esse fenômeno global”, avalia o vaticanista Filipe Domingues, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e diretor do Lay Centre, também em Roma.

“A Igreja não conseguir mais falar com as pessoas é uma parte do problema, mas há uma pressão externa acontecendo. Todas as instituições tradicionais estão em crise.”

Em paralelo, a Igreja Católica sofre com a falta de padres e, em um contexto político extremamente polarizado, parece ainda não ter encontrado o ponto certo para se posicionar de forma contundente frente a questões importantes para o século 21, aponta o teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

“O Vaticano não pode fazer muita coisa, pois é uma burocracia muito cristalizada que demora décadas para alguma transformação significativa”, comenta o teólogo, filósofo e jornalista Domingos Zamagna, professor na PUC-SP.

“Já a pessoa do papa pode ter uma enorme reverberação missionária no mundo religioso, ainda que persista na Igreja grandes contingentes de leigos, padres e bispos que desaprovavam e até militavam contra o pastoreio do papa Francisco”, prossegue Zamagna.

“O que o Vaticano pode fazer é apoiar e estimular os esforços das igrejas locais para um novo dinamismo na Igreja. São as igrejas locais que conhecem a realidade pastoral.”

Fonte: BBC