Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
Os “cassacos” do Campinense
Publicado em 17 de abril de 2023No mês em que o Campinense festeja 108 anos de fundação, vale um acontecimento de 1971, ano de arrancada do inesquecível “time de Zé Pinheiro”. Cheguei em Patos em março daquele ano, após um estágio de três meses em Malta, quando o sertão ainda sofria os efeitos da seca braba no biênio 69/70.
Objetivando amenizar as consequências da estiagem, o governo criara frentes de trabalho, que reuniam grupos de pessoas em serviço móvel e temporário. Os trabalhadores dessas frentes eram chamados de “cassacos”.
Na escola onde concluí a quarta série primária, travei alguns debates com colegas, defendendo tudo que fosse de Campina Grande, principalmente o futebol. A maioria deles dizia que os times daqui não costumavam ganhar no estádio José Cavalcante, do qual a gente morava bem próximo.
O Campinense foi o primeiro dos “Maiorais” a atuar em seu gramado, após a chegada dos Araújo de Almeida, enfrentando o Esporte, único representante local no certame estadual daquele ano. A zoeira foi grande na escola, com os coleguinhas cantando a derrota da equipe serrana.
Na tarde do jogo, corri para o “JC”, na esperança de, encolhendo-me um pouco, entrar sem pagar; também esperançoso de ver a chegada da delegação rubro-negra ao estádio. Entre as bilheterias e o portão principal, aglomeravam-se torcedores na compra de ingressos e na ânsia da entrada; um pequeno grupo de crianças/adolescentes, eu no meio, na expectativa do aceno do porteiro.
De lá, torcedores avistam um ônibus já passando em frente ao hospital, diminuindo a macha, e gritam: é o Campinense. O veículo é um modelo urbano da Luso Brasileira, dirigido por um motorista de nome curioso – Supipa, que para mesmo de frente ao portão onde estávamos.
Quando a porta se abre, descem os dirigentes e membros da comissão técnica e depois os jogadores. Todos impecavelmente vestidos com uniforme de viagem e uma bolsa a tiracolo com as cores representativas, o desenho de uma raposa e o nome Campinense Clube. Ao ver os atletas com a bolsa, os torcedores locais começaram a vaiar e chamá-los de cassacos.
Eu consegui entrar e fiquei por trás da trave defendida pelo goleiro do Esporte. De lá, ouvi, após um lance de gol perdido, quando o placar ainda estava zerado, uma rápida discussão dos atacantes rubro-negros. O bate-boca surtiu efeito, pois o time saiu de Patos, contrariando a expectativa dos coleguinhas, naquele 18 de abril, com a vitória de 2 a 0.
Os “cassacos” venceram a segunda partida de um campeonato que viria a conquistar, consolidando uma sequência de títulos que fechou com o tetra em 74.