Emir Gurjão

Pós graduado em Engenharia Nuclear; ex-professor da Universidade Federal de Campina Grande; Secretário de Ciências, Tecnologia e inovação de Campina Grande; ex-secretário adjunto da Representação do Governo da Paraíba, em Campina Grande; ex-conselheiro de Educação do Estado da Paraíba.

O sonso e o sabichão

Publicado em 2 de janeiro de 2025

A frase do filósofo Epicteto “É impossível para alguém aprender aquilo que ela acha que já sabe”, traz à tona uma das maiores barreiras ao crescimento intelectual: a presunção de conhecimento. Essa postura, marcada pela crença de que não há mais nada a ser aprendido, fecha a mente para novas ideias e oportunidades de desenvolvimento. Quando confrontamos esse perfil com o do sonso, uma figura dissimulada e estratégica, percebemos diferenças marcantes, mas igualmente importantes para refletirmos sobre comportamentos humanos.

O sabichão está cego pela arrogância e autossuficiência, o sonso é movido por um instinto quase calculado de adaptação e manipulação social. A dissimulação, sua principal característica, torna-o uma figura difícil de interpretar, mas extremamente habilidosa em obter vantagens, mesmo que à custa de outros.

O sabichão vive em uma prisão mental criada pela própria soberba. Ele acredita que já domina completamente um assunto, o que o torna impermeável a qualquer tentativa de aprendizado. Esse comportamento não apenas o impede de crescer, mas também gera uma postura inflexível que pode afastar oportunidades e pessoas ao seu redor.

Pessoas assim frequentemente subestimam o valor de ouvir os outros, aprender com diferentes perspectivas e reconhecer que o conhecimento humano é vasto demais para ser completamente dominado por qualquer indivíduo.

O sonso, por sua vez, é uma figura bem diferente. Ele não é arrogante como o “sabichão”. Pelo contrário, o sonso frequentemente se apresenta como humilde, inofensivo ou até mesmo ignorante, mas tudo isso é parte de uma estratégia. Seu comportamento dissimulado o ajuda a navegar pelos desafios sociais e a extrair o máximo de cada situação, muitas vezes sem que os outros percebam suas reais intenções.

Essa habilidade de camuflar seus objetivos faz do sonso uma figura adaptável e muitas vezes perigosa. Ele aprende quando é conveniente, mas utiliza o aprendizado de forma interesseira, em benefício próprio. Diferente do arrogante que ignora o aprendizado por soberba, o sonso está sempre atento, mas suas motivações são voltadas mais para a manipulação do que para o crescimento genuíno.

O sabichão está completamente fechado para o aprendizado. A presunção de que não há mais nada a descobrir cria uma barreira que impede qualquer crescimento pessoal ou intelectual.

O sonso é, em essência, um oportunista. Ele aprende aquilo que pode lhe trazer algum benefício, mas raramente compartilha esse aprendizado ou o usa para o bem coletivo.

A arrogância do sabichão o isola em um ciclo de autossuficiência, que muitas vezes o impede de perceber seus próprios erros, o que reforça a falsa crença de sua superioridade.

O sonso prefere se passar por desentendido para evitar conflitos ou atrair atenção, mas, nos bastidores, está sempre planejando como utilizar o ambiente e as pessoas a seu favor.

O sabichão é transparente em sua arrogância. Sua resistência ao aprendizado é evidente e muitas vezes gera antipatia ou distanciamento social.

O sonso, por sua vez, é um mestre da adaptação. Ele molda sua postura e discurso conforme o contexto, muitas vezes parecendo vulnerável ou ingênuo, mas sempre com um objetivo oculto.

Ambos ignoram, de maneiras diferentes, o potencial de crescimento genuíno. O sabichão acredita já ter chegado ao ápice do conhecimento e, com isso, nega a si mesmo a possibilidade de evoluir. O sonso utiliza esse aprendizado de forma dissimulada, voltado para suas próprias vantagens.

A verdadeira sabedoria está na humildade de reconhecer que sempre há algo novo a ser aprendido e na autenticidade de usar esse conhecimento para contribuir com o bem-estar próprio e alheio.

Assim, enquanto a frase de Epicteto nos desafia a abrir a mente e o coração para o aprendizado, o comportamento do sonso nos alerta para os perigos da dissimulação. A escolha, no entanto, é nossa: queremos ser fechados como o “sabichão” ou adaptáveis como o sonso, mas com propósito genuíno?

Escrito por Emir Candeia Gurjão às 08:58 horas do dia 02 de Janeiro de 2025.