

Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
O rebanho que teceu meu enxoval
Publicado em 10 de julho de 2024As lãs hereditárias de uma cria enjeitada me aqueceram a pele nos primeiros meses e anos de vida, cuidados maternos de proteção ao menino que nascera sob a rigorosidade do frio invernal do mês de julho, tão característico da região do Planalto da Borborema liderada por Campina Grande daquele tempo. Um vídeo do meu neto Miguel me levou ao conhecimento dessa história, passados mais de 60 anos.
“Hem, hem”, inflexionou Dona Cleonice, num sublime suspiro de saudade, quando mostrei-lhe o vídeo do bisneto aleitando na mamadeira um cândido filhote de caprino que a mãe rejeitara. A cena de poucos segundos avivou suas memórias afetivas, retrocedendo-lhe mais quase sete décadas no tempo. “Me lembrei quando tia Mãezinha me deu uma burrega enjeitada”.
O filhote recebeu o nome de Belém, crescendo robusto pelos cuidados e carinho adotivos. O excesso de carinho, a mão passada levemente sobre a testa lisa, tornou Belém uma ovelha agressiva, que vivia surpreendendo as pessoas do sítio de meu avô Zé Paulino com cabeçadas certeiras; também foi boa reprodutora da raça, garantindo à minha mãe o seu rebanho particular.
A procriação constante de Belém fez com que minha genitora se revelasse empreendedora. Quando teve que se desfazer do rebanho que formara, adquiriu, com o lucro da venda, sua primeira máquina de costura, seu instrumento de trabalho por décadas com que, junto com papai, criou 11 dos 13 filhos gestados.
Antes de falar da aquisição da máquina, Dona Cleonice, com sua memória privilegiada, me contara do enxoval que viria me aquecer na condição de recém-nascido. “No tempo, fui vendendo os filhotes crescidos e com o dinheiro apurado comprei o teu enxoval”, disse.
Ao ouvir essa confissão, possível graças à sensibilidade do genro, que proporcionou uma linda aventura rural ao meu neto, por pouco não segurei a emoção, os olhos quase marejando. Foi um grande presente saber desses detalhes, tão fomentadores de minhas memórias afetivas, pois revelados justamente no mês em que comemoro 66 anos de vida.
Biliu de Campina
Por pouco o cantor e compositor Biliu de Campina, que faleceu na tarde de segunda-feira, dia 8, não se despediu da vida terrena na mesma data em que Rosil Cavalcante e Jackson do Pandeiro, dos quais foi o maior seguidor, morreram. Rosil, em 10 de julho de 1968; Jackson, num dominical 10 de julho de 1982.