Valberto José
Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.
O que sucedeu em minha casa também acontece em palácio
Publicado em 12 de janeiro de 2023Uma série de desapontamentos que comprometem as condições do Palácio da Alvorada surpreenderam a equipe de vistoria dos futuros moradores. Entre os divulgados ganhou destaque o da imagem de Santa Maria Madalena desprezada no chão, arte sacra do século 19. O rebaixamento da imagem não há de ser nada, pois a recompensa vem depois, estou convencido.
A imagem da santa posta no chão na residência oficial do governo nos eleva o nível de simples mortais, pois fomos vítimas, eu e minha mulher, de ação semelhante. Se aconteceu na minha casa, localizada num bairro classe média baixa, também acontece em palácio, concluo.
Em julho último, fomos participar do encontro Novo Fôlego, das Equipes de Nossa Senhora, em Santa Luzia, e deixamos familiares cuidando da casa e dos hóspedes. Ao chegarmos, Margarida foi surpreendida com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, herança de sua mãe, no piso do banheiro de nosso quarto.
Perguntados, nenhum dos parentes que ficaram, um dos quais evangélicos, soube responder o que acontecera. Inicialmente, pensou-se em traquinagem das crianças, pois um agregado familiar e a mulher, da mesma orientação religiosa, em passagem por Campina Grande, visitaram nossa casa com os três filhos naquele domingo.
Uma semana depois, desvendou-se o mistério. Pressionado, o agregado confessou o delito. De imediato, enviei-lhe uma mensagem dando ciência da nossa insatisfação com sua “gentileza”. É o que segue abaixo:
“Meu amigo!
Sabe, meu amigo, concordo que não deve haver adoração de imagem de santos. Mas essa concordância não impede que eu tenha imagens em casa, e se as tenho, procuro zelar por elas. Tenho-as como preservo uma foto de um familiar querido; de um filho ou filha, de um pai, de uma MÃE…
Quando chegamos da viagem, Margarida foi surpreendida com a imagem de Nossa Senhora da Conceição — que ela estima, mas não adora — desprezada num canto do chão úmido do nosso banheiro. Inicialmente, pensamos ser “arte” de criança, quem sabe de um de seus filhos.
Sabe, meu amigo, essa imagem tem um significado muito especial para Margarida, que nem por isso vive adorando-a. Essa imagem que o amigo desprezou no chão do nosso banheiro, tirada do criado mudo do nosso quarto, é uma herança que Margarida conserva com todo carinho e que, inclusive, até foi restaurada.
Uma herança, meu amigo, da MÃE dela. A minha sogra, a MÃE de sua sogra, a avó da sua mulher. Merece, pois, respeito duplo. Por representar a MÃE de Jesus e pelo valor afetivo de ser herdada de uma MÃE. Imagine, amigo, se alguém chegasse em sua casa e fizesse o mesmo com um porta-retrato ornamentando a foto de sua mamãe.
Essa imagem não merece, portanto, ser jogada no chão de um banheiro, de costa para a parede, feito criança de castigo como antigamente. Isso, meu amigo, é intolerância religiosa; além de um desrespeito aos donos da casa.
Mas a gente releva essa atitude infantil do amigo, que será sempre bem-vindo em nossa casa. Afinal, entendemos que você ainda teve um mínimo de bom senso, de lucidez, quando não a jogou dentro da privada.”
Claro que ele respondeu com certa malcriação. A ponto de uma pessoa minha, muito serena, comentar, após leitura: Meu Deus, que dureza de coração! Para não dizer falta de educação.
No início, afirmo que agressões desse tipo são compensadas. São mesmo! Dou o testemunho. Um mês depois, numa reunião com casais de outras equipes, dois cônjuges testemunharam que já foram da igreja desse “traquino” antes de se converterem ao catolicismo. E depois entraram nas Equipes de Nossa Senhora.
Tomar conhecimento de que fatos dessa natureza também acontecem em palácio nos traz um certo consolo restaurador. É que nos eleva o nível.