Marcos Marinho
Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.
O “PUXENCOI” DE WALTER BRITO
Publicado em 22 de março de 2022Quem acompanha – porque ele envia – as postagens de Waltito (Walter Brito Neto) no Instagran, Twitter ou mesmo no ultrapassado Facebook, com certeza vai dizer a partir de hoje que ele não é mais ele.
Fomos Vereador em Campina Grande na mesma Legislatura e ficamos amigos, embora estivéssemos em lados opostos: ele em um primeiro momento na oposição ao prefeito que eu ajudei a eleger e tinha a obrigação de defender a gestão no Legislativo, mas mais adiante abandonando suas ideologias direitistas e sentando conosco no apoio ao cabeludo que governava a Rainha da Borborema.
Nada de surpreendente, em se tratando dos vereadores de oposição da época, à exceção do altivo João Dantas (de pouco preço), é bom frisar!
O jovem Waltito exercia um mandato ‘água com açúcar’ e candidatou-se à Câmara Federal, obtendo uma baixa votação, mas ainda assim o suficiente para ficar numa razoável suplência e acabou por ver o tempo conspirar em seu favor, e sem que ele mesmo acreditasse virou Deputado Federal do Brasil.
Não precisou de nenhum titular do mandato morrer, embora a ida de Waltito para o Planalto Central tenha se valido sim de um outro tipo de morte – a do medo e da descompostura, que foram o que motivou o dono da cadeira, Ronaldo Cunha Lima, a fugir pela porta dos fundos do Congresso Nacional para não vir a ser guilhotinado pelos ministros da Suprema Corte e pagar pelo crime cometido contra Tarcísio Burity.
Mas isso não é agora o que vem ao caso, até porque o preferível mesmo é deixar o Poeta dormir em paz, que por aqui – bem ou mal – ele fez a sua parte!
Chegando em Brasília, Walter Brito Neto recebeu as honras da Casa pelo novo colega, Vital do Rego Filho, igual a ele um filho de Campina Grande… Que lhe tomou pelas mãos e foi mostrar-lhe cada canto das duas Casas do Parlamento Federal, até entronizá-lo no plenário e de lá, lido o juramento regimental, subir com o conterrâneo para o Gabinete que fora desocupado pelo renunciante.
Era o tempo de se fecharem as emendas parlamentares, época das vacas gordas quando deputados e senadores são disputados a tapas por ávidos prefeitos que precisam engordar seus bolsos e cofres.
Tempo, diga-se sem segredos: de acordarem-se as rachadinhas!
E Vital, é óbvio, mimoseou e ciceroneou Waltito com olhos esbugalhados não na sua juventude e a perspectiva de que pudesse ele vir a exercer um belo mandato, mas nas emendas dele, sim senhor!
O prazo estava exíguo, de sorte que o bom aconselhamento a Waltito foi deixar discursos para mais adiante e cuidar de destinar logo a verba orçamentária para os alcaides paraibanos que estavam na porta, sedentos e de pires nas mãos.
Vitalzinho imaginou que teria a sua parte, até porque o jovem ex-vereador não tinha lá nenhuma experiência nesse tipo de trabalho tão difícil de fazer. E nessas horas, já se sabe, nada melhor do que uma mão lavando a outra, deve também ter pensado com carradas de razões, já babando à espera de somar a sua compensação.
Ocorre que deu tudo errado, para desagradável surpresa do bom e prestativo cicerone de Waltito!
Os dois deputados tomaram o elevador que leva aos gabinetes e apressaram os passos para o que viria ser a primeira tarde de trabalho do mandato do sucessor do Poeta. E a prioridade, Vitalzinho já advertira ao noviço, era exatamente definir já as emendas.
Esse particular, que pouca gente sabe, quem me confidenciou entre boas gargalhadas e bons goles de uísque no refinado salão do seu apartamento funcional na Asa Sul de Brasília, foi Vitalzinho mesmo.
Que, ao abrirem a porta a recepção não foi com vivas nem parabéns, como seria o mais correto, mas com uma surpreendente e indesejável deselegância patrocinada pelo pai de Waltito, o ex-deputado estadual Walter Brito Filho, que em vez de ir ver o rebento tomar posse correu para ‘ajeitar’ as emendas, que de bobo ele nunca teve nada, até porque já conhecia bem o métier.
Walter pai não somente expulsou Vitalzinho aos gritos da porta do gabinete do filho como avisou que o mesmo não precisava de ajudante nenhum para tocar o mandato e, por tal razão, Vitalzinho fosse cuidar do seu, sob pena da deselegância descambar para a truculência e o embate pessoal.
E assim, melancolicamente, Waltito começou a andar pelo Salão Verde do Congresso perdido como cachorro velho no meio de um comício… Desorientado, não tardou a mudar de partido, vindo a ser alcançado sem piedade – e sem ajuda de Vital, é óbvio também – pela Lei da Fidelidade Partidária, carregando consigo até hoje a pecha de único parlamentar brasileiro cassado pelo ordenamento.
Essa dor com certeza ainda hoje machuca as entranhas de Waltito, todos sabemos. E ele nunca mais conseguiu concatenar as ideias, razão pela qual ou não tem êxito quando se candidata ou não se candidata porque não consegue com exitoso argumento convencer as lideranças dos múltiplos partidos por onde tem gravitado de que vai lutar com garra pelo objetivo a alcançar.
Recentemente Walter tentou ser candidato a prefeito de Campina pelo MDB, mas Zé Maranhão o trocou pela bela Tatiana Medeiros, que depois viria a ser a vice de Inácio Falcão.
Desde o ano passado se anuncia candidato a Senador, com foco em desalojar do STF os atuais ministros, por entender ser prerrogativa do Senado Federal.
Defensor de Jair Bolsonaro até cinco dias atrás, mantinha o sonho do Senado na chapa de Nilvan Ferreira, de quem agora diz poucas e boas e dele se afastou inclusive partidariamente ao assinar nova ficha de filiação ao esvaziado MDB presidido pelo outrora desafeto Veneziano Vital do Rego, agora não mais sonhando com o Senado, mas com a Casa de onde a Justiça Eleitoral o defenestrou.
Com o mesmo ardor com que exaltava Bolsonaro, cravava o punhal nas costas de Lula, a quem reiteradamente vinha chamando de ladrão.
E vai por aí, numa situação de dar dó, considerando a sua juventude e a capacidade de falar em público e bem argumentar.
No que eu, sinceramente, como seu amigo, lamento demais porque nesse caminho de bate-volta, confundindo o eleitor, fica difícil para ele entrar na urna. Melhor cuidar dos velhos ônibus da Expresso Real do seu saudoso avô.
É o meu melhor conselho!