Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

O preço da imparcialidade

Publicado em 10 de fevereiro de 2025

Ainda cursando o último ano de jornalismo, assumi uma coluna esportiva na Gazeta do Sertão e, em poucos meses, ao concluir o curso, a reportagem de esportes do Diário da Borborema. Não me foi difícil pôr em prática a imparcialidade que a cobertura dos clubes exige, o que contrastava com meu passado de torcedor, desses de fazer promessas pela vitória da equipe do coração.

Assim que entrei no Curso de Comunicação Social, em1981, guardei a camisa de torcedor com que costumava ir a campo. Paralelamente, trabalhando no açougue do tio, recebi “aulas extras” que me proporcionaram conhecer o mínimo dos bastidores do futebol, e essa possibilidade me fortaleceu a imparcialidade que eu deveria ter como profissional da informação.

É que, com José Aurino na presidência do Campinense ou apoiando a diretoria do momento, Clovis fornecia a carne consumida pelo elenco do clube. Bastava uma ligação telefônica dele para que o produto chegasse às dependências do Estádio Plinio Lemos, local de treinamento do rubro-negro, à época.

Então, fazendo a entrega da mercadoria ou atendendo quem fosse buscá-la, no balcão, tomava conhecimento de alguns fatos acontecidos, positivos ou negativos. Essa abertura involuntária aos bastidores me trouxe a certeza de que o futebol não é o que, como torcedor, eu imaginava, e reforçou a consciência de ser imparcial como profissional na cobertura diária do futebol.

Levei tão a sério essa imparcialidade que poucas vezes, na idade em que a criança começa a despertar para o futebol, levei meus filhos aos jogos. Além de não ir a campo com eles, não lhes falava qual clube torço. Eles ouviam sempre “meu time é Campina Grande”, resposta pronta quando alguém me perguntava quais cores da minha simpatia.

Até da prática do futebol eu lhes privei. O mais velho até andou praticando futebol de salão, mas por pouco tempo. Gosta de futebol, mas torce sem paixão. Mora a cerca de 1 km do estádio “Almeidão”, na Capital, e não conhece suas arquibancadas. O do meio, que agora é saudade, nem isso. Cresceu sem gostar de futebol, optando por outros esportes, a exemplo de jiu-jítsu, além de ciclismo. A filha, caçula do trio, frequentou o “Amigão”, mais por influência do namorado, hoje marido.

Se tenho a consciência tranquila pela imparcialidade com que trabalhei como profissional da mídia e do comércio, sinto um certo remorso por não ter incentivado os filhos a torcerem e gostarem de futebol. É o preço que ainda pago pela imparcialidade que levei também para minha casa.