Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

O poeta da zaga

Publicado em 17 de julho de 2024

O zagueiro Deca desarmou até a morte, que lhe rondava um dia antes ao sofrer uma queda em casa, para não morrer no dia 13, número que inspira a denominação do maior rival do clube que o revelou. Deca nos deixou domingo passado, justamente o dia da semana mais dedicado à prática do futebol, profissional e amador, e o Dia do Senhor.

O lamentável, além da partida inesperada do jogador, foi a ignorância jornalística de seu passado no nostálgico Estádio Plínio Lemos. Deca foi revelado pelo Campinense quando o elenco ainda tinha como local de preparação o “Municipal”, onde também exercia seu direito de mando de campo antes que o “Amigão” fosse inaugurado.

O estádio assim era chamado por ter sido construído pela Prefeitura de Campina Grande, mas cedido ao rubro-negro numa espécie de comodato até quando Renato Cunha Lima, na presidência do clube, resolveu transformar a sede social em local de treinamentos.

Nos noticiários a que tive acesso – site, blogs e televisão, com exceção de rádio, que não tenho ouvido – destacaram que o zagueiro foi campeão apenas pelo Botafogo e “teve uma passagem pelo Campinense”. Não foi uma mera passagem. Que passagem!

Se Deca foi importante na conquista do clube da Capital, teve importância maior ainda nos quatro títulos da Raposa de 1971 a 1974. Ganhar quatro campeonatos seguidos por uma mesma equipe não é para qualquer um. Um pecado ignorar o tetracampeonato conquistado por Deca pela Raposa.

Gente, Deca simplesmente fez parte do “Time de Zé Pinheiro”, como ficou conhecido o Campinense nos primeiros anos da década de 1970. O elenco rubro-negro ganhou esse epíteto por ser formado em sua quase totalidade por atletas moradores do bairro de José Pinheiro ou vindos do Raposinha, como era chamada sua equipe juvenil, na linguagem da época.

Deca foi um dos melhores, certamente o melhor dos zagueiros que vi jogar por equipes paraibanas. Técnico, seguro, jogava limpo, bonito. Era o poeta da zaga. Não merecia ter seu passado pelo Campinense ignorado. Uma lástima essa displicência histórica! Merece um DECAssílabo, em exposição destacada em sala ou mural do “Renatão” e na hoje Vila Olímpica Plínio Lemos.