Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

O PADRE QUE TAMBÉM ME ATROPELOU…

Publicado em 29 de junho de 2023

O padre Assis (José Assis Pereira) era o vigário geral da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, no bairro Catolé, aqui em Campina Grande onde moro.

Eu, membro da Pastoral Familiar e de diversos grupos da Igreja (ECC, EJC, EC, etc.), sempre participei ativamente das programações da paróquia, onde tenho grandes amigos.

O trabalho de evangelizar é realmente gratificante e confesso que esse labor me preenchia, pois servir a Deus é sempre o maior propósito de todos que se engajam nos serviços pastorais.

Nas celebrações, especialmente as missas, eu costumava ser chamado para fazer uma das leituras do Evangelho, contribuindo com o pároco nesses momentos de relevo da Igreja Católica.

E o fiz com destacada satisfação até aquele triste e inesquecível sábado em que o citado Reverendo, com expressão de demônio à frente do sagrado altar do templo, decidiu me censurar por ter feito a leitura do texto bíblico de um modo que, ao seu entortado olhar, não tinha sido a mais correta.

Em palavra mais direta, repetindo disfarçadamente o reclame à exaustão para que o público me apedrejasse, na verdade me classificou de analfabeto… E, é mais do que óbvio, me envergonhei perante os fiéis presentes na igreja e fiquei deveras constrangido.

Ao Sacerdote, representante de Deus na liturgia que celebrava, caberia ser cordato e sincero. Nunca, como ali aconteceu, usar de insanidade e deselegância para com um humilde servo colaborador da paróquia, mesmo que este tivesse cometido pecado mortal, o que não fora o caso.  

O velho Assis reclamou da minha leitura a vários amigos dos grupos que eu frequentava e convocou-nos para uma reunião na semana seguinte à noite, tendo eu sido previamente avisado pelos colegas que a pauta do encontro tinha como base o meu GRAVE ERRO na leitura sabadal.

O censor no Templo iria me censurar cara-a-cara, era a expectativa geral!

E lá fui eu, enfrentar a fera… E é claro que me preveni para o enfrentamento, amante que sou das verdades e inimigo eterno das mentiras e injustiças da vida, sejam elas praticadas por quem forem, mesmo por um Pastor como o superado padre que jurou viver para fazer o bem, apontar o bom caminho e catequisar o seu rebanho.

Nunca mais vi o padre Assis e pouco vou agora à Igreja do Sagrado Coração de Jesus, mais ainda depois que infelizmente assisti o padre aparecer na mídia em páginas policiais, embriagado ao volante, e matar um pai de família que conduzia uma moto em mão correta na estrada que corta Lagoa Seca, envergonhando toda a Diocese e os homens de bem paraibanos.

Hoje, passados mais de quatro anos, encontrei cópia de breve texto que redigi e entreguei naquela reunião aos colegas, e uma delas pessoalmente ao padre Assis, em defesa da inócua acusação que ele me fizera durante a missa e perante os paroquianos.

Do saudoso padre Hachid Ylo, que era meu confessor na Igreja até a COVID lhe mandar para o Céu, recebi intensa solidariedade, mas lembro ter dito que não guardaria mágoas do velho padre-censor, pois entendia que ele “não sabe o que faz”…

Como pouca gente conhece esse triste episódio, vou transcrever o texto onde me defendi, que segue abaixo:

SA-MÁ-RIA, BA-VA-RÍA… (Oh! Dúvida)  

SAMARIA é o nome histórico e bíblico de uma região montanhosa localizada no Oriente Médio, constituída pelo antigo reino de Israel, vizinha ao reino do sul – o reino de JUDÁ.

Hoje podemos dizer que se localiza entre os territórios da CISJORDÂNIA e de ISRAEL.

Muito bem, nada sob este ponto de vista eminentemente geográfico, a contestar-se.

Mas, há quinze dias, integrando equipe de liturgia em missa do sábado no Santuário celebrada pelo padre Assis, incumbiu-me a Pastoral Familiar de ler pequeno texto que referia SAMARIA por três vezes.

Pronunciei SAMARIA, como poderia ter pronunciado SA-MA-RÍA, tão ao gosto do Reverendo da noite.

Não imaginei, entretanto, que iria despertar indignação ao provecto Sacerdote e nem em alguns dos jovens companheiros da Pastoral.

Afinal, a palavra em qualquer das duas pronúncias está absolutamente correta, embora a forma mais usual nas Igrejas brasileiras seja a de exprimir SA-MA-RIA, acho que talvez para associar a SAMARITANO – gente que lá morava ou mora, palavra aliás bem mais conhecida dos católicos pelo uso mais amplo que dela se faz.

A dúvida sobre pronunciar SAMARIA ou SA-MA-RÍA é também histórica.

Na língua portuguesa, e como está grafado no livro oficial da missa que me deram para ler, SA-MA-RIA não está com acento, o que por si afastaria a censura feita considerando que o encarregado da leitura fosse um leigo total ou mesmo um semianalfabeto.

Poderia estar acentuado o “i” apenas para ilustrar – facilitar – a pronúncia que se desejava ter.

Daí que temos SAMARIA e se lê SA-MA-RÍA, paroxítona, por isso sem o tal acento no “i”.

Do mesmo modo, em alguns textos já apareceu SAMÁRIA, acentuada porque é proparoxítona.

Duas formas, sim, de grafar, o que se pode chamar de homófonas.

Há quem jure que o correto é mesmo SA-MA-RIA sem acento algum, levando em conta que as palavras em aramaico e hebraico naquele tempo não ganhavam acentuação.

Mas não estou aqui a discorrer sobre a situação gramatical, até porque não sou nenhum Rui Barbosa e o meu domínio do Português continua limitadíssimo…

Graves ou paroxítonas, isto é, com acento tônico no “i”, que não é acentuado graficamente nestas terminações (ia e io), o que é censurável ao meu estrito ver é alguém derrubar o mundo para criticar a pronúncia que eventualmente não lhe satisfaz.

Bom lembrar que Camões n’Os Lusíadas fez rimar SAMARÍA com VÁRIA e CONTRÁRIA, e por motivo de acento métrico usou DÁRIO. Tem quem pronuncie DA-RIO.

Outra coisa importante: o hebraico não usa vogais, sendo o alfabeto hebraico feito unicamente de consoantes. As vogais existem somente como sons. E, por causa do costume de não pronunciar alguns nomes, não se sabe quais vogais colocar entre uma consoante e outra.

É claro que os judeus leem a Bíblia e também se deparam com dúvidas. Uma das maiores é a que diz respeito à pronúncia do nome JESUS. E o que eles fazem quando encontram, lendo, essa palavra? Como pronunciam? Essa palavra, nas leituras e nas orações é substituída por nomes impessoais, como Adonai (Senhor) ou Elohim (Deuses). Fora do contexto litúrgico, usam também HaShem, ou seja: “o Nome”.

A atitude dos judeus representa uma dificuldade para os exegetas que desejam realizar uma tradução. A primeira tradução da Bíblia Hebraica, feita do hebraico para o grego ainda antes da vinda de Cristo, normalmente traduziu o tetragrama com o vocábulo grego Kyrios, que significa Senhor.

É óbvio que me decepcionei com o padre Assis naquela noite e, já advertido incontinenti pelos amigos Paulo e Wesley, que dividiam comigo responsabilidades das leituras da missa.

Nosso Reverendo-Chefe na sua homilia, que ele opta por fazer por escrito, censurou-me veladamente à exaustão… Derivou da leitura por quase vinte vezes para SONORAMENTE pronunciar SA-MA-RÍA.

Acho eu que ele poderia ter sido mais Pastor do que Censor!

Eu que sempre estou de bem com a vida – graças a Deus!!! – e costumo de modo ainda tradicional nas sextas feiras tomar uma BAVARIA, a depender da quantidade de latinhas ingeridas quem sabe eu não venha tomar a saideira pedindo ao garçom uma BA-VA-RÍA?

Vai ver que nesse animadíssimo Maior São João do Mundo, celebrando um dos santos do período lá no Parque do Povo, também eu não venha me ver flagrado discutindo com as filhas sobre como pronunciar o nome das “coleguinhas’.

Chamo por SIMONE E SIMARIA? Ou Simone e SI-MA-RÍA?