Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

O NOSSO PALÁCIO DA REDENÇÃO 

Publicado em 8 de junho de 2022

João Azevedo inaugura hoje em Campina Grande o novo Escritório de Representação do Governo da Paraíba, na Estação Velha, mesmo prédio onde anos atrás nós – eu, Edvaldo do Ó, Geovaldo Carvalho, Raimundo Rodrigues, Silas Marinho e José Luiz Júnior – refundamos o lendário jornal Gazeta do Sertão que o amor rasgado por Campina que Edvaldo conservava como ponto basilar da sua vida fez renascer.

Eu tenho história com aquelas paredes!

E por isso hoje me alegro e me envaideço do trabalho do nosso governante, que não permitiu a edificação cair, eis que deixada em ruínas pelo antecessor…

Minha história naquele prédio não se limitou à Gazeta do Sertão, que editei até o dia em que nova arenga de Edvaldo comigo fez com que eu lhe devolvesse as chaves e entregasse a editoria aos cuidados zelosos e extremamente profissionais do amigo Baby Vieira, que a partir dali passou a aturar os lunduns homéricos de Do Ó.

Brigas e arengas de Edvaldo comigo perdi as contas, mas ele tinha o dom de reconhecer erros e pedir desculpas, motivando conciliações que também não lembro da quantidade delas. Por isso, numa dessas pazes aceitei voltar para o prédio, já sem termos a Gazeta e sim lá funcionando a Bolsa de Mercadorias da Paraíba, instituição que orgulhosamente também fundei ao lado dele e onde fui o primeiro Secretário Executivo, tempo em que interagi com a Bolsa de Mercadorias de São Paulo, para onde viajei em busca de adquirir o necessário know-how para dar sustentação à Bolsa daqui.

O velho prédio foi inteiramente remodelado com o zelo que Edvaldo por ele tinha, herdado que foi do seu pai trabalhador. Tudo de primeira qualidade, inclusive o mobiliário, com destaque para as cadeiras em couro que compunham as peças da recepção e do aconchegante restaurante no último andar, onde recebia amigos à mesa farta e todos nós fazíamos nossas refeições diárias com boas conversas e discussão de novas ideias.

E foi exatamente em um desses almoços que Ronaldo Cunha Lima à época governando a Paraíba, com muito esforço e apurada argumentação convenceu Do Ó a vender o prédio para que Campina pudesse nele instalar com qualidade e excelência o Escritório de Representação do Governo.

Foi difícil, mas Ronaldo demoveu Edvaldo do NÃO rotundo que lhe dera no começo da conversa. Não sem antes sujeitar-se à condição que Do Ó lhe impôs para fechar o negócio: de que pelo menos uma vez em cada mês instalasse o Governo no Escritório e nele despachasse as demandas do interior do Estado.

Ávido por deixar o restaurante – que só servia sucos e água mineral – para ir “molhar” o bico no Miúra de Valmir, onde tinha mesa cativa, o poeta bateu o martelo e Edvaldo aceitou a transação.

Cest’fini!

Voltei ao prédio outras vezes, maioria delas durante a gestão de Zé Maranhão quando seu sobrinho Mirabeux, Emir Candeia e Assis Costa administravam o Escritório. E mesmo mais à frente quando Ana Cláudia assumiu o encargo já no terceiro mandato do Mestre de Obras.

No segundo Governo de Ricardo Coutinho, ele às voltas com críticas gerais dos campinenses por suposta falta de zelo para com as coisas da Borborema, e ainda por cima pressionado pela seca que ameaçava colapsar o abastecimento d’água de Campina Grande, mandou Luiz Torres me convidar para dirigir o braço da SECOM na cidade e, com esse encargo, defender o Governo com força e determinação, o que na época exigia muita coragem e desprendimento.

Enchi-me de entusiasmo por acreditar no trabalho do Mago, arregacei as mangas e fiz minha parte desanuviando parcialmente as aleivosias que a maior parte da população dirigia em direção à gestão estadual.

Do secretário Torres recebi apoio zero.

O gabinete da SECOM era no andar de cima do prédio que hoje João devolve ao povo nos trinques, em trabalho nota 10 da construtora do meu amigo João Motta.

A sala era mofada, desequipada de tudo e o forro de gesso caia sobre nossas cabeças.

Essas fotos mostram, sem precisar de legenda, o ontem e o agora desse prédio que por pouco não virou pó.

Minucioso relatório, com fotos e tudo o mais, mandei imediatamente para ele avisando da deplorável situação do histórico edifício que Edvaldo zelava como se fosse sua Granja Solidão e seu quarto de dormir.

Até que a Justiça veio embargar a edificação nos dando 15 dias para retirar tudo de lá. Avisei a Torres, pedindo que a Pasta da Administração encontrasse a solução para a SECOM, a sucursal do jornal A União e Diário Oficial, a CEHAP e o que restava do Escritório propriamente dito que também acolhia o pessoal da Emater sob as ordens do patoense Lenildo.

A Justiça não esperou os 15 dias e nova intimação nos chegou, agora dando-nos 72 horas para desocupar o prédio, que peritos avisaram poderia desabar a qualquer momento.

A turma da CEHAP conseguiu se alojar no prédio do IPEP, no Catolé. E eu consegui ao lado de João Pinto, que dirigia a sucursal d’A União, quatro salas na CDRM, que estava em liquidação judicial, onde pudemos colocar a turma toda desses órgãos que acima nominei, e sem interferência alguma do secretário e nem do governador, que mais tarde vim a saber que não fora comunicado de nada.

Foi a minha despedida do prédio. E também do cargo, que o devolvi para Luiz Torres barganhar um indicado de Veneziano que veio a me substituir, mas também saiu dias depois, e pela porta dos fundos da repartição.

Por isso, cabe reiterar a minha admiração e o meu agradecimento a João pela festa de devolver hoje a Campina Grande o Escritório com esse apelido garboso e justo que o povo da Rainha já lhe carimbou – de Palácio da Redenção número dois.

Edvaldo do Ó, disso não tenho dúvidas, revolveu-se de felicidade hoje no seu túmulo.