Marcos Marinho
Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.
O MONASTÉRIO DE BRUNO CUNHA LIMA
Publicado em 21 de janeiro de 2024Bruno Cunha Lima, prefeito da nossa amada Campina Grande, entre a cruz ferina e a espada cruel, vive hoje o seu monastério pessoal.
Penso que não necessariamente um calvário, como muitos possam assim imaginar, mas um tempo essencialmente monástico, necessário à conexão com o divino e ao aprofundamento do seu instante espiritual.
Bruno realmente deve saber – e tem inteligência comprovadamente atestada para isso – que os peixes ruins também vêm na rede…
Enquanto prefeito dessa urbe revolucionária, o neto do meu saudoso amigo Ivandro convive sabiamente com muitas pessoas realmente boas, que trabalham com dedicação e efetivamente o ajudam no suado mister. Mas, em organismo com muitas centenas de pessoas, é impossível que haja apenas os bons. É preciso admitir esse lado, com toda tristeza que isso acarreta, mas não se pode ignorar o outro – o do mal.
Bruno sofre pancada dentro e fora de Casa!
É imperioso reconhecer que na equipe que ele mesmo recrutou tem pessoas que o empurram para trás. De igual modo que o faz a mídia venal, formada por travecos vestidos de jornalistas que somente mal fazem – a ele e à sociedade. E que ele a remunera!
Penso que na cabeça do ora injustiçado alcaide campinense haja a certeza de que ele conhece tanto dos bons, que intimamente se confessa capaz de entender a necessidade de aguentar esse tipo de coisa.
Certamente conforta Bruno constatar quantas pessoas realmente boas, puras, tem encontrado pelo caminho, o que na verdade pode compensar o outro, aquilo que convencionalmente chamamos de MUNDO CÃO.
Os problemas em derredor do prefeito são inúmeros e imensos. E acredito que ele bem deve saber: ninguém pode fugir da tempestade, mas é necessário se manter firme.
Há reclamações contundentes, onde inclusive me incluo, sobre a lentidão exagerada do Governo, a demora na execução das obras, das tomadas de decisões, do acontecer!
Mas quero crer, agora que me decidi a refletir um pouco mais sobre o comportamento gerencial de Sua Excelência, que de fato problemas estruturais e pessoais entremeiam-se e com intervenções apressadas é mais provável causar destruição do que sanar o problema. Por isso – em estilo dele – é preciso avançar devagar e com prudência!
Bruno tem que começar com ele mesmo.
Eu disse COMEÇAR, e não ‘conversar’.
Tem pouco menos de um ano para isso, se quiser mesmo renovar o mandato para governar a amada terra por mais quatro lustros.
E nesse ‘começo’ podar a árvore, cortar os galhos secos, apodrecidos, fedorentos…
Na raiz, botar fertilizante do bom, esterco de boi, estrume de galinha…
É a receita da vida, para os bons frutos brotarem, com sabor.
Tenho repetido que adoro a juventude, aprender com ela, aplaudi-la. Foi por isso que vi em Bruno, lá atrás, quando a seu pedido subi a serra, vindo de Carapibus, para um encontro no escritório reluzente de história no prédio do Cartório do seu avô, a solução imediata para os problemas mais prementes de uma Campina que estava excepcionalmente bem tratada por Romero.
Foi maravilhosa, para mim obviamente, a nossa conversa. Aquele jovem ser, nascido e educado em berço de ouro, não mostrava incorporar nenhuma história de ontem, mas uma de amanhã – a que me interessava!
Explodia ele uma inteligência nova no reconhecimento e na declaração dos segredos da ansiedade para governar Campina e sua gente. Captei ser sua especialidade poder desembaraçar coisas complicadas, enxergar para além da superficialidade.
Discorremos sobre a intimidade da Borborema, os intestinos da nossa terra comum…
Invadimos a História, desde lá longe quando Félix foi trucidado em praça pública, e avançamos sobre Ciência, Religião, Física e Metafísica, Pensamento e Prece. Juntou essas coisas para realmente chegar ao cerne de uma questão, e na beleza da sua retórica elevava ainda mais a profundidade dos seus pensamentos.
E me confessou, como em um sopro: refletia tudo o que previamente dizia, pois a seu ver para aceitar livremente quaisquer interlocuções se fazia necessário também ser ele um ouvinte. Isto para não impressionar apenas as pessoas, mas também levá-las a acreditar que toda palavra carece de inspiração.
Entendi que o menino do BERÇO DE OURO era mais do que isso: um gigante antenado ao seu tempo e conhecedor de todas as agruras dos irmãos nascidos em berços de palha.
Mas, da decepção inicial de ontem para a reflexão maturada de hoje percebo que há evolução, embora erros crassos continuem a enodoar a gestão que Bruno comanda, isto em que pese o meu íntimo avisar-me do quanto seria difícil eu me decepcionar com mais alguém, uma vez que simplesmente aos 71 ‘janeiros’ de vida já conheço profundamente a realidade local e sei o que se pode esperar concretamente e o que não mais se pode.
O meu relacionamento com determinados políticos, notadamente alguns como Bruno, de famílias poderosas com poder hereditário, é muito diferente nos últimos anos.
Somos raças distintas!
Do mesmo modo os obstáculos para uma reaproximação são diferentes. No caso do prefeito – e de outros políticos fortes que dele se aproximaram por filiação familiar ou puro oportunismo – o grande problema permanece sendo a fragmentação interna, os seres que gravitam nos cochichos das manhãs, tardes, noites e madrugadas.
Bruno continua sendo o aluno sensível que faz poemas lembrando a verve do tio Ronaldo e as glosas do avô Ivandro, se entusiasma com a sinfonia de Mozart e permanece com o ardor do filho pródigo, ávido por conhecimento já que educado no pensamento progressista, de onde recolhe ensinamentos bíblicos para enxertar seu discurso com a força da fé que mostra ter em Deus. Mas também o aluno de pós-graduação arrasado, que de repente chega à beira do abismo em sua jovem carreira e ameaça fracassar.
Bruno Cunha Lima efetivamente não tem acertado em tudo. E sem dúvida o seu Governo não tem conseguido esgotar o seu potencial de homem público. Com frequência, o comportamento dos seus auxiliares e de boa parte do seu aparato político – vereadores que lhe davam sustentação e até mesmo parentes próximos – aparenta ser de recusa. Mas ele continua a aceitar tudo de modo estranhamente humilde, aguentando seus traidores fechando-se em copas nesse monastério que vem lhe ajudando a engolir todos esses sapos que lhe botam no caminho.
Até as bordoadas que recebe, vindas da irresponsabilidade de pseudos homens de imprensa – corriola daninha que envergonha quem de fato exerce labor como manda o figurino e a boa ética – que a todo custo desejam impor suas visões vesgas deformadas e interesseiramente amparadas no vil metal, nosso jovem alcaide emudece e tira tudo de letra.
E findo por aqui, na certeza de que os ainda poucos seguidores de Bruno Cunha Lima – dentro ou fora de Casa – sentem falta de seu discurso refrescante, da riqueza naturalmente verdadeira da sua fala honesta, da infinita paciência que costuma ter para escutar e principalmente de sua insistência na razão, a impedir que a gestão que comanda deslize mais ainda para o fantasioso, como está a ocorrer.
Particularmente continuo vendo em BCL um dos mais importantes políticos da atualidade, mas somente a história o julgará. Com urnas de outubro aí pelo meio a dificultar ou a facilitar o que os pósteros sobre ele escreverão.