Valberto José

Jornalista, habilitado pelo curso de Comunicação Social da Universidade Regional do Nordeste (URNE), hoje UEPB. Colunista esportivo da Gazeta do Sertão e d’A Palavra, passou pelo Diário da Borborema e Jornal da Paraíba; foi comerciante do setor de carnes, fazendo uma pausa de 18 anos no jornalismo.

O meu encanto pueril pelo Alto do Seixo

Publicado em 28 de junho de 2024

Uma distância de duas décadas separa no tempo o Alto do Seixo ou dos Seixos do adolescente Gonzaga Rodrigues e o Alto Seixo de minha infância feliz, rememorado em crônica no dia 10 de junho no jornal A União. Se a memória do cronista o deixa em dúvida entre o singular e o plural do nome, as minhas lembranças de 25 anos mais novo sugerem que todos suprimiam, no meu tempo de menino, o “do” ou o “dos”, mas concordo que a borracha implacável do tempo apagou a denominação do lugar.

O antigo Alto do Seixo, nomenclatura urbana que só os mais vividos lembram, continua, mestre Gonzaga, o ponto mais alto da movimentada Almirante Barroso. Nem tão alto como no seu tempo, como no meu tempo de criança, pois a altitude do trecho parece rebaixada pela atitude de Enivaldo, quando prefeito, de asfaltar toda a avenida. Com direito a uma pracinha construída depois por Ronaldo, na prefeitura, quando meu coração já começara e se encantar pela flor que viera do Pajeú e já habitava aquele chão de barro vermelho.

O Alto Seixo de minha infância, que se iniciava na Rua Alagoas e acabava numa lagoa onde hoje é o trailer do Gilsão, que ameniza a aridez etílica de muitos, há tempo comporta três casas de produção de derivados do trigo. Uma de porte industrial, gabando-se de sua nobreza; a outra, orgulhosa de sua condição de rainha; e a terceira, que se contenta em ser apenas casa do pão, é, na verdade, uma prodigiosa fábrica de sabores.

Essa “trilha de barro batido, mais estrada do que rua, donde se avistava a casa com história de Severino Procópio, seguida do hospital do pai de Babá, meu herói do vôlei, irmão do futuro prefeito Evaldo Cruz”, se desenvolveu rápido. Na minha infância de felicidade, já não avistava mais nada, além do seu próprio progresso.

Sediava a indústria do pai de Capilé, produzindo o Café Diamante, e a Incopresa dos Ribeiros, fábrica de pré-moldados que rivalizava na fabricação de postes com a Premol de Maurício Almeida. Além da mercearia de Severino Novo, mais supermercado do que bodega, que atendia aos bairros da Liberdade e adjacências, o Cruzeiro de meus tempos infantis; ainda moradores do Lucas, Estreito e Catolé de Boa Vista, que tinham parada obrigatória quando por lá passassem.

O “xerém servido em crônica pelo joffiliano Thomas Bruno” me despertou a lembrança do xerém que minha mãe cozinhara naquela tarde e eu a “ajudei”, colocando mais sal, ao ponto de ninguém aguentar comer. Servido aos inquilinos da pocilga paterna, desencadeou uma disenteria coletiva que quase desfalcava a pequena criação de Zé de Patrício.

A propósito, o “xerém de leite de manhã, no jantar, com sobremesa da aposta ou torcida das companheiras diárias de pilão no futuro alegre do cantor de banheiro (Bonequita linda!)”, me fez ruminar no meu íntimo mais recordações. Entre elas, de que o milho pilado grosso, salgado pelos meus dedos inocentes, foi comprado na mercearia que “ficava no Alto do Seixo ou dos Seixos que, com o tempo, deve ter perdido esse nome”.

O meu encanto infantil pelo Alto Seixo foi um vaticínio para o qual só encontrei explicação nos meus 30 anos. Justo quando subi, guiado pela Providência Divina, ao altar com aquela moça vinda de Itapetim e que já habitara a casa onde fomos morar, construída quando a especulação imobiliária tomou conta das terras do Dr. Álvaro tão falado pela boca de meu pai.

O LIVRO DE GEOVALDO

O convite me chegou por Marcos Marinho, que me acenou com um animado “Vamos lá? Vai ter uísque e petiscos”, mas não fui ao lançamento (foto) do livro ‘O Hilário da política’, de Geovaldo Carvalho. Até me arrumei, fiquei esperando que a mulher, que fora ver os netos na casa da filha, chegasse com o carro para poder ir. Quando ela chegou, imaginei a solenidade ter começado, mas foi a chuva que me fez desistir. Garanto, Geovaldo, que não vou desistir da leitura.