Marcos Marinho

Jornalista, radialista, fundador do ‘Jornal da Paraíba’, ‘Gazeta do Sertão’ e ‘A Palavra’, exerceu a profissão em São Paulo e Brasília; Na Câmara Federal Chefiou o Gabinete de Raymundo Asfóra e em Campina Grande já exerceu o mandato de Vereador.

O “lombrigado” Lula e a LOMBRIGA da campinense 

Publicado em 27 de julho de 2022

Lula em Campina Grande na visita ao campus do IFET (Foto: Ricardo Stuckert)

Há uma diferença abissal entre Lula e Jair Bolsonaro. Dois homens – nem falo de políticos! – humanamente diferentes!

Um veio do mundo pobre, desse nosso Nordeste onde a miséria e a fome campeavam matando precocemente raça de lombrigados que nem ele; o outro no mundo rico, blindado em berço de ouro e aberto às delícias que a vida burguesa dá aos privilegiados.

A história de superação do pernambucano o Brasil inteiro, por conta da sua persistência, viu-se obrigado a conhecer. E o mundo todo, por conta dos seus atos na gestão do Brasil, passou a entender o que o americano Obama sintetizou com delicadas verdades, respeito e elegância: que o brasileiro realmente “é o cara!”

Não é intenção minha de modo algum fazer proselitismo político neste espaço, onde ao leitor devo sublime e permanente respeito, principalmente respeitando todas as suas opções políticas, eis que vivemos ainda em um regime pleno de Democracia.

E hoje, pesquisando os arquivos d’APALAVRA para instruir matéria que a redação pautou sobre a próxima vinda de Lula a Campina Grande, reli aquele memorável discurso em que ele, na qualidade de Presidente da República do Brasil já em fins do segundo mandato, proferiu DE IMPROVISO aqui (dia 28/07/2009) durante a inauguração do campus Campina Grande do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET) da Paraíba perante os anfitriões da cerimônia, prefeito Veneziano Vital do Rego e governador José Targino Maranhão.

Em cortesia ao amigo leitor passo a reproduzir a íntegra daquela inesquecível oração, lembrando mais uma vez que a fala de Lula foi de ‘peito aberto”, no maior IMPROVISO que o seu coração nordestino pode exprimir.

Das aspas pra frente, a fala é de Lula: 

“Eu quero cumprimentar o nosso querido companheiro José Maranhão, governador do estado da Paraíba. Quero cumprimentar os ministros Fernando Haddad, da Educação, e Alfredo Nascimento, dos Transportes. Quero cumprimentar o nosso vice, Luciano Cartaxo, vice-governador da Paraíba. Quero cumprimentar o senador Roberto Cavalcanti, a deputada federal mineira, nascida na Paraíba, Jô Moraes. Quero cumprimentar os deputados federais Armando Abílio, Luiz Couto, Manoel Junior, Major Fábio, Marcondes Gadelha, Vital do Rêgo Filho, Wilson Santiago e Wilson Braga. Quero cumprimentar o nosso querido companheiro Veneziano Vital,  prefeito de Campina Grande. Quero cumprimentar o nosso querido companheiro Ricardo Vieira Coutinho, prefeito de João Pessoa. Quero cumprimentar o companheiro Nelson Gomes Filho, presidente da Câmara de Vereadores de Campina Grande. Quero cumprimentar o magnífico reitor da Universidade Federal da Paraíba, João Batista de Oliveira Silva. Quero cumprimentar o companheiro Cícero Nicácio do Nascimento, diretor do campus Campina Grande do Instituto Federal da Paraíba. Quero cumprimentar os nossos queridos estudantes aqui, que falaram, Michel, Tainá e Brenda, por meio dos quais cumprimento todos os alunos do instituto.

Vocês viram que eu joguei fora o meu discurso, porque o meu discurso já foi falado pelo José Maranhão, pelo Veneziano, pelo Fernando Haddad, pelo Reitor e pelo estudante. Eu apenas queria dizer para vocês algumas palavras do que eu estou sentindo neste momento. Não seria possível nós estarmos vivendo o momento que estamos vivendo no Brasil, se nós não acreditássemos em nós mesmos.

Durante muito tempo este país foi dirigido por um tipo de gente que tinha a mentalidade colonizada, pessoas que se achavam inferiores, pessoas que achavam que o destino do Brasil era eternamente ser um país subordinado aos países ricos, que nós não tínhamos que ter projeto de nação soberana e que nós tínhamos apenas que ver o que o mundo rico fazia, para que a gente pudesse ficar com as migalhas.

Na verdade, durante muito tempo se criou a concepção de que nós éramos como se fôssemos de segunda classe: aos outros, tudo; para nós, a sobra.

É por isso que este país não investiu em Educação quando deveria ter investido. Quando todos os países, que hoje são desenvolvidos, investiram em Educação, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, nós não fizemos o dever de casa. Então, nós somos um país de 190 milhões de habitantes, oito milhões e meio de quilômetros quadrados, 27 estados, e nós tínhamos apenas 54 universidades federais. Você vai olhar a história do Brasil desde 1808, como disse o ministro Fernando Haddad, e você tem presidentes que, em quatro anos, fizeram uma. Mas tem muitos presidentes que, em quatro anos, não fizeram nenhuma. Tem outros presidentes que conseguiram apenas aprovar algumas no Congresso Nacional, mas não conseguiram executar. E o presidente que mais conseguiu fazer foi Juscelino Kubitschek que, na época, parece que fez dez universidades no seu mandato.

A pergunta que eu me faço todos os dias… Se perguntarem em uma pesquisa de opinião pública, para qualquer pessoa no mundo, “o que vai mudar o Brasil?”, as pessoas falam: a Educação. O que precisa ser feito neste país com prioridade? A Educação. A pergunta que eu faço é a seguinte: se todo mundo sabia disso, e sobretudo os que estudaram, os que fizeram universidade tinham obrigação de saber muito mais, por que não fizeram? Por que não investiram na Educação? Porque hoje a gente estaria muito melhor do que estamos.

Sabem o que acontece, companheiros? Muitas vezes, as pessoas depois que se formam, depois que as pessoas se preparam, as pessoas vão cuidar da sua vida, e as pessoas não têm dimensão de como vive a grande maioria do País que não teve acesso a nada e que foi esquecida na periferia e no campo deste país. Tem gente, e não é pecado – eu gostaria que todos tivessem – tem gente que nasceu em uma situação econômica mais confortável, não precisou trabalhar antes de se formar, fez bom colégio no ensino fundamental, fez o 2º grau em bons colégios, fez universidade pública, e depois essa pessoa começou a trabalhar mais tarde e ela não se deu conta que perto dela existiam milhões de pessoas que não podiam sequer ter o mesmo sonho, ter a mesma oportunidade de cursar um curso superior. E o Brasil foi ficando para trás e, sobretudo, o Norte e o Nordeste brasileiros. Se a gente fizer uma pesquisa para ver a quantidade de mestres e doutores espalhados pelo Brasil nós vamos perceber que a grande maioria está na região Sul e na região Sudeste porque lá que é a parte rica do Brasil, é a parte mais rica do Brasil, e nós não temos que ter nenhuma mágoa, nenhuma inveja, e querer que eles continuem se desenvolvendo.

Mas o papel do governo federal é como se fosse o papel de uma mãe: a gente não pode dar a mesma comida sempre para o que já comeu e esquecer dos que estão com fome no pé da mesa pedindo comida. É preciso que se a gente tiver um único bife para comerem dez filhos, a gente não dê para o mais bonito ou para o mais chorão, a gente reparta um pedacinho para cada um.

Governar é exatamente isso, e o que nós estamos fazendo é tentar equiparar o Brasil ao Nordeste e o Nordeste ao Brasil, o Norte deste País, o Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará, ao Sul do País e ao Sudeste do País, para que a gente seja um País que, dentro do território, todos tenham igualdade de oportunidades.

E aí eu poderia pegar o meu caso, mas o meu caso já está manjado, já está velho de contar. Eu não seria o que eu sou hoje se eu não tivesse tido a oportunidade de tirar um diploma de torneiro mecânico, não seria. Lógico que para quem chegou na universidade e fez a USP, a Unicamp, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, um curso de torneiro mecânico é merreca, é quase nada, porque quando as pessoas se distanciam muito, elas parecem carro de Fórmula 1, correm demais, e não percebem que a sociedade tem mais fusquinhas do que carro de Fórmula 1. E ser torneiro mecânico me permitiu essa profissão, de eu ter acesso a emprego e ganhasse mais do que o salário mínimo, de ter acesso a uma televisão que eu não tinha, de ter acesso a um carro que eu não tinha, a uma casa própria. Mas não é da minha vida que eu vou falar, eu vou falar de uma menina que eu conheci aqui hoje, que falou comigo com lágrimas nos olhos. Eu queria pedir, minha companheira Isabela, que você viesse aqui em cima… (falha no áudio). Meu exemplo é o exemplo da aprovação de que todo ser humano precisa apenas de oportunidade. Não existe uma pessoa superinteligente e outra pessoa superburra. O que existe é uma pessoa que teve todas as oportunidades do mundo e uma outra pessoa que não teve nenhuma oportunidade.

O nosso querido Paulo Freire que foi, possivelmente, o educador mais importante deste país – por sinal, pernambucano -, o Paulo Freire dizia: “Eu descobri que eu era inteligente depois que eu comecei a comer”. Como é que a gente pode querer ou esperar que uma criança que não toma café de manhã, que uma criança que não come as calorias e as proteínas necessárias para sobreviver, seja inteligente? Se ela levanta e vai dormir com a lombriga maior querendo comer a menor? E o ronca-ronca dentro da sua barriga, como é que ela vai ser inteligente? Dê comida para essa criança, dê condições dessa criança chegar em uma escola, dê oportunidade de essa criança ter os mesmos professores que qualquer filho de rico teve, neste país, para ver se não é possível uma menina dessas, praticamente abandonada pelos pais, criada por uma tia, que recebe uma bolsa de R$ 180,00 para poder comer aqui, tenha uma bolsa para fazer Mineração. Vamos ver o que vai ser essa menina, que estava predestinada a ser mais uma menina sem futuro em Campina Grande, vai ser uma companheira formada em Mineração, vai ter uma profissão e vai poder construir a sua vida com independência.

Eu digo sempre, Isabela, que uma coisa que a mulher tem que ter cuidado é que ela também não pode ficar dependendo do salário do marido. Ela não pode. As mulheres precisam ter consciência que se elas não tiverem profissão, se elas não trabalharem, e elas ficarem em casa esperando que o marido dê dinheiro para comprar uma meia, para comprar um batom, para comprar um brinco, para comprar uma roupa íntima qualquer, e ela tiver que pedir, com o passar do tempo ela vai ficando subordinada, e vai vivendo com ele quase como por obrigação, e não é assim que a gente quer viver. Quando a mulher estiver formada, e tiver independência, ela vai viver com o seu marido porque ela quer viver com o seu marido. Mas se ele se meter a besta, ela vai dizer: “Meu caro, eu não preciso de você, você pode sair daqui”.

E a mesma coisa vale para os meninos. De que vale um menino sem profissão? O que vale um menino de vinte anos sem profissão? Ele vai procurar emprego no comércio, vão pedir experiência, ele não tem. Ele vai a uma fábrica, vão pedir experiência, ele não tem. Olha, se ele não tem profissão e não arruma emprego, o que vai acontecer? Ele começa a perder a esperança e aí começa a aparecer a bandidagem, o narcotráfico, o crime organizado a oferecer para ele as oportunidades de ganhar uns minguados centavos que o Estado brasileiro deveria oferecer.

É por isso que nós resolvemos fazer investimento na educação. Vão ser 500 creches por ano, 500 creches, porque nós achamos… e também uma desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos. Uma criança mais rica vai para a escola a partir de quatro anos de idade, três anos de idade. Então quando ela chega aos três anos de idade ela já conhece um lápis, uma caneta, uma borracha (falha no áudio), já conhece um monte de coisa. Aí entra uma criança mais pobre, sem saber nada, vem alguém e diz: “Aquela criancinha é burra, essa daqui é mais esperta”. Sem saber que uma tem dois anos ou três que freqüenta a escola mais do que a pobre. Essas creches que a gente está fazendo… Na verdade, as creches, deveria ser obrigação dos prefeitos e dos governadores. Mas nós sabemos que a grande maioria das prefeituras não tem condições e é por isso que o Ministro Fernando Haddad decidiu: o governo federal vai colocar o dinheiro, a obra vai ser construída e os prefeitos vão administrar, porque, se der certo, nós vamos faszer milhares de creches para que nenhuma mulher deixe de trabalhar por não ter onde colocar os seus filhos.

Mais importante ainda: universidade. Nós estamos fazendo, já, 104 extensões universitárias, tentando levar a universidade para o interior do País. Porque é muito engraçado, 99% das universidades são nas capitais. Então os pobres do interior terminam o colegial e não têm o que fazer. Se a família tem um pouco de recurso, ele pode ir para a capital tentar a sorte. Se a família não tem recurso, ele para por ali mesmo e vai tentar arrumar um emprego na região.

Essa escola, que eu quero dar os parabéns ao projeto arquitetônico dela… eu em senti quase uma abelha rainha mãe aqui dentro. Essa escola tem como finalidade formar os nossos jovens a partir da disponibilidade e possibilidade do desenvolvimento regional. O que é possível extrair desta região como cadeia produtiva e formá-los aqui. Não é formá-los para ir para São Paulo, não. Não é formá-los para ir para o Rio Grande do Sul ou para o Rio de Janeiro, se quiser. Mas aqui tem mercado para eles poderem exercer a sua profissão, o seu aprendizado e constituir aqui a sua família.

Pois bem, meus companheiros e companheiras, esta menina é mais um exemplo daquilo que é a força motora que me faz fazer política. Eu, se tivesse que desistir da vida, Isabela, eu, se tivesse que desistir da vida, eu já teria desistido muitas vezes, porque não foram poucos os amigos que falaram assim para mim: “Lula…”. Primeiro, diziam para mim: “Não vá para o Sindicato, que a polícia vai te prender”. Eu fui para o Sindicato. “Não faz greve, que a polícia vai te prender”. Eu fiz as greves. “Não crie partido político, que você vai arrumar confusão”. Eu criei partido político. “Não crie uma central sindical, porque não é, legal”. Eu criei a central sindical. “Você não tem condições de ser presidente, rapaz. Você não tem diploma universitário, você não fala inglês, não fala francês, não fala espanhol”. Pois cá estou eu presidente da República deste país, por uma razão que você deve colocar na sua cabeça: perseverar, não desistir nunca. Não existe nada nesse mundo que faça um ser humano, com a sua inteligência, desistir. Só desistem os fracos. Eu não tenho tempo de reclamar da vida. Eu digo sempre para os meus companheiros: minha mãe, quando a gente vivia em Garanhuns e, depois, em Santos… até os sete anos de idade, o meu café da manhã, sabe o que era? Acocorado na beira de um fogão de lenha de uma boca só, o meu café era uma cuia de café preto com farinha de mandioca, não tinha outra coisa. Eu fui conhecer pão já quando eu estava em Santos, e comer arroz só quando a gente estava doente. E eu nunca vi a minha mãe reclamar. Nunca vi a minha mãe reclamar.

O pessoal do meu governo sabe: não tem reclamação comigo. Tem dificuldade? Tem. Vamos para cima, vamos vencer. Esse negócio de ficar chorando, lamentando, essa palavra para mim não existe. E não pode ter para você também. Não pode ter. Não pode ter, uma pessoa de 17 anos não pode ter dia para desânimo. Se um dia estiver namorando e o namorado largar, arruma outro. Aí você vai ver como ele vai ficar mais bonzinho e vai vir atrás de você, lhe oferecendo mais coisas.

Ou seja, não há tempo. Este país está precisando viver este momento que está vivendo, um momento em que a gente tem orgulho da nossa beleza, da nossa feiúra, do nosso tamanho, da nossa formação, da nossa língua, da nossa cor. Chega de olhar para os outros e achar que nós somos piores do que os outros. Chega!

E é por isso que o Nordeste precisa levantar a cabeça, porque eu ainda faço parte de uma geração que, quando a gente queria sobreviver ia para São Paulo, e agora a gente tem que sobreviver aqui, tem que produzir aqui, tem que trabalhar aqui, tem que ter Saúde aqui, tem que ter universidade aqui, tem que ter escolas técnicas aqui. Este país, (incompreensível) um presidente da República, ele não pode ser vesgo e só olhar para o lado. Ele tem que olhar para o território nacional e saber que um índio lá de Roraima ou um favelado do Rio de Janeiro ou um nordestino mais pobre que mora em uma palafita, são brasileiros e têm o mesmo direito. Portanto, essas pessoas têm que ser tratadas com decência e com dignidade, senão a gente nunca vai recuperar este país.

É por isso que a gente tem que ter orgulho de a gente ser o que a gente é. E é por isso que nós estamos investindo, só aqui na Paraíba, do PAC, R$ 9,5 bilhões. Eu duvido que já tenham feito um investimento desses aqui. Mas não é só na Paraíba, não. Eu duvido que tenha um prefeito deste país, do PFL, do PSDB, do PT, do PMDB, do PR, do PRB, do PTB, do “diabo a quatro”, eu duvido que tenha algum prefeito que ouse dizer que em outro governo ele recebeu mais dinheiro do que o nosso governo está dando para as cidades. Eu duvido. E vamos fazer mais, porque agora aprendemos, agora aprendemos.

Quando chegar o ano que vem, José Maranhão, em fevereiro estou lançando um outro PAC, 2011 a 2015, para deixar a coisa aprovada, para quem entrar depois de mim não começar do zero, já pegar as coisas andando.

Nós estamos fazendo 214 escolas técnicas. Quem vier depois de mim, tem que fazer mais 300. Nós estamos fazendo dez universidades novas, mas tem quatro no Congresso Nacional. Quem vier depois de mim, tem que fazer 20. Quando este país não ficar admirando apenas a grandeza do seu território, a grandeza da sua costa marítima, a grandeza e a riqueza mineral que nós temos, a nossa Amazônia, quando este país, além de admirar toda essa riqueza, começar a admirar a riqueza mais importante, que é o autoconhecimento do nosso povo, aí, sim, nós iremos nos transformar em uma nação altamente soberana, competitiva e em uma nação rica.

O Fernando Haddad falou da crise econômica. Vocês sabem que eu nunca… Eu tinha vontade de fazer Economia, se eu pudesse, porque Economia é uma coisa fantástica, é a ciência mais brilhante, é a coisa… Em Economia, quando a gente é oposição, a gente sabe tudo. Quando a gente vira situação, fica tudo difícil.

Mas eu, eu sempre achei que um governante deve ter extraordinários assessores economistas, deve ter tudo, mas ele tem que espelhar sua vida… Como é que sobrevivem os milhões de brasileiros que ganham pouco? Como é que faz a economia de uma dona-de-casa que vive com o Bolsa Família? Tem um certo milagre. Como é que a pessoa pega tão pouco dinheiro e consegue levar o que comer em casa?

Então, qual é o milagre que tem? É a gente fazer uma definição das prioridades, o que é prioritário e o que ajuda o maior número de pessoas. E eu acho que o Brasil entrou nessa fase. A minha oposição, coitada, ficava pedindo a Deus que a crise acabasse com o Brasil e eu dizia: o Brasil entrou por último e vai sair primeiro da crise. E, hoje, eu me encontro com o Obama, me encontro com Hu Jintao, me encontro com o primeiro-ministro Singh, me encontro com o Berlusconi, me encontro com o Sarkozy, com a Angela Merkel – queria estar falando da Paraíba, estou falando é do mundo – e nenhum deles, nenhum deles deixa de elogiar a situação de estabilidade neste país e os acertos da política econômica deste país, nenhum deles. E só tende a melhorar. Não pensem que há espaço para piorar, não pensem, só vai melhorar. Vocês vão ver o crescimento deste país no próximo ano.

Eu lembro que uma vez, companheiros, eu vou terminar dizendo isso: eu lembro que uma vez, quando em 2003, eu fui na Ford. Acho que era julho ou agosto de 2003 e eu utilizei as palavras “espetáculo do crescimento”. Por conta disso, eu fui achincalhado por alguns companheiros da imprensa, por alguns analistas econômicos, achincalhado. Fui achincalhado pela quantidade de (incompreensível) falando do milagre brasileiro. Isso, em julho de 2003. Sabem quanto cresceu a economia brasileira em 2004 e ninguém me pediu desculpa? 5,8%. Ou seja, a economia cresceu muito acima de qualquer outro período que o Brasil tenha crescido nos últimos anos e ninguém pediu desculpa para mim por ter avacalhado comigo porque eu falei do espetáculo do crescimento.

Então eu vou dizer outra vez: anotem, anotem. Eu não quero ser ufanista, não, não quero ser ufanista. Nós passamos por uma crise e uma parte dela foi de pânico, porque a indústria automobilística não poderia ter desativado a produção como desativou no mês de janeiro e no mês de dezembro. Não precisaria ter desativado, porque neste semestre está batendo todos os recordes de produção e de venda de carros. Máquina de lavar roupa está vendendo 30% a mais ao mês. Geladeira, televisão, material de construção civil, e tem mais coisas por aí. Anotem: o Brasil está saindo da crise e no ano que vem nós vamos ter um crescimento surpreendente. Então, em vez de a minha oposição ficar torcendo para que o Brasil não dê certo, para eles poderem ter chance eleitoral, eles têm que saber duas coisas: primeiro, que eu não sou mais candidato. Segundo, se o Brasil for mal, se o Brasil estiver mal, não é mal para o Lula, não é mal para o José Maranhão ou mal para a Dilma, não, para o Fernando Haddad. Se o Brasil estiver mal, é mal para a parte mais pobre deste país, é mal para o povo trabalhador deste país.

Então, as pessoas precisam trabalhar para este país dar certo. E aí vocês são testemunhas do que nós estamos fazendo para a agricultura familiar deste país, o que significa o PAA, a compra de alimentos neste país, o que significam os investimentos que estamos fazendo para a parte mais pobre desta população, porque são eles que precisam mais do Estado, do que a parte mais rica. São eles que precisam. Então, as pessoas sabem já que eu quero governar para todo mundo. Eu não faço distinção entre um empresário rico que precisa de dinheiro do governo e um pobre. Agora, na hora em que eu tiver que escolher, podem ficar certos de que o pobre vai ser a minha escolha pessoal porque é ele que nós precisamos ajudar.

Eu queria, querida Isabela, dizer para você e para a sua irmã que também recebe bolsa aqui nesta escola. Essa coisa que aconteceu com você, de sofrimento, de abandono, às vezes é uma provação de Deus para saber se você é fraca, para saber se você vai rastejar na vida e fraquejar, ou seja, essa é a provação. Você já deu demonstração de que não é de se deixar derrotar.

Você está aqui nesta escola, você e sua irmã. Eu queria te dizer, com o carinho de pai para um filho: faça todo o esforço que puder fazer. Não tenha preguiça. Seja sábado ou domingo, estude, estude. Mas, além de estudar, cuida da alma, porque se a gente combinar o saber com humanismo, com solidariedade, além de a gente fazer as coisas melhor, a gente se deita todas as noites com a cabeça no travesseiro, muito tranquilos, porque estamos fazendo o bem para a (incompreensível) O que você sofreu dentro de casa, o que você passou na sua infância é motivo de orgulho para você não permitir que outras pessoas passem o que você passou.

Por isso, eu quero pedir a todos os estudantes… A minha geração está acabando, a de vocês está começando, e eu peço a Deus que vocês tenham muito mais competência do que nós para dirigir este país muito melhor do que nós estamos dirigindo.

Um grande abraço. Até outro dia.

Veneziano, em novembro eu estarei aqui para inaugurar duas obras do PAC que você disse que são para inaugurar. Eu venho aqui para inaugurar, e vamos ver, com a minha segurança, se a gente consegue passar na creche, porque eu dependo muito do esquema de segurança. Senão a gente passa agora mesmo, ou na vinda de onde a gente vai.

Um abraço, gente. Obrigado por tudo”.

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Obs.: Findo o discurso, Lula foi visitar a creche que Veneziano construíra, com padrões de Primeiro Mundo. E se encantou com a obra.