Júnior Gurgel

Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.

O INSUPERÁVEL NEY SUASSUNA (Parte III)

Publicado em 8 de novembro de 2023

Quando assumiu a Presidência da República, o pai do Real, Itamar Franco, se deparou com um dos piores períodos de secas ininterruptas no Nordeste. Criou o Ministério da Integração Regional – para atender exclusivamente a região – nomeou o ex-governador do RN Aluízio Alves, para comandar a pasta.

O saudoso líder Potiguar procurou na SUDENE soluções definitivas e não ações “paliativas”, para resolver o problema da região, com obras que garantissem às populações envolvidas conviverem com este fenômeno climático. Registros históricos datados desde 1670 já mencionavam períodos de grandes estiagens prolongadas.

Por outro lado, ainda estava viva na memória dos norte-rio-grandenses a tragédia de 1877, quando morreram mais de 100 mil pessoas em Mossoró (RN), cidade sede de um município com 5 mil habitantes, invadida por mais de 100 mil pessoas, que foram buscar alimentos enviados pelo Imperador, mas não chegou a cidade. O navio de alto “calado” não conseguiu atracar no porto de Areia Branca.

A SUDENE entregou-lhes estudos preliminares, realizados sob encomenda de Mário Andreazza, quando esteve no Ministro do Interior. O projeto consistia na transposição de bacias hidrográficas, ligando o Rio Tocantins ao São Francisco, que a partir de sua foz levaria águas para o semiárido (sertão) dos Estados de BA, SE, AL, PE, PB, RN e CE. Aluízio Alves mobilizou toda a região para lutar pela transposição. O movimento ganhou força com o “grito das secas”, movimento criado pela FIEP, tendo à frente o seu presidente, Buega Gadelha.

Criaram uma comissão itinerante para debater, discutir e convencer os Estados de SE, AL e Bahia, contrários à transposição. O poderoso ACM (Antônio Carlos Magalhães), presidente do Senado e líder absolutista da Bahia, estava determinado a pôr um fim no projeto. Mas, Aluízio Alves ainda conseguiu recursos para licitar a contratação do projeto de engenharia, em toda sua extensão. No final de sua gestão, após bons anos de invernos a partir de 1995, o novo presidente FHC suprimiu da sua lista de prioridades a transposição das águas do São Francisco.

No último ano de sua gestão (2001) assumiu o Ministério da Integração Nacional o senador paraibano Ney Suassuna. De origem sertaneja, conhecedor do flagelo provocado pelas secas, desengavetou o projeto da transposição, licitou e contratou as obras da estação de captação, e seu primeiro trecho, levando as águas até a cidade de Monteiro (PB). Obras iniciadas, caminhos sem volta.

Lula assumiu a Presidência da República (2003). Ney já estava fora do Ministério, mas ainda era Senador. Conseguiu assegurar a continuidade das obras, arrancando de Lula o compromisso de executá-la em sua gestão. O presidente “sindicalista” designou o seu vice-presidente, José de Alencar, para comandar o projeto para debelar a sede do Nordeste. Em jogo combinado, entrou o IBAMA, para inviabilizar a transposição. Faltou ação parlamentar. Ney em 2006 não renovou seu mandato. A transposição foi esquecida.

No propósito de complicar a redenção do Nordeste, refém das secas, os “gabinetes” de Brasília sugeriram e criaram o INSA – Instituto do Semiárido, como fonte de pesquisas e projetos destinados a preparar o agricultor com tecnologias adequadas, para o manejo da água e do solo, garantindo sua sobrevivência. Ney Suassuna pulou na frente. Enxergou a manobra, e trouxe para Campina Grande a sede do INSA. Venceu o Ceará, Pernambuco e Alagoas que brigavam pelo órgão.

No momento da instalação, surgiu um problema: onde será a sede (instalações físicas)? Arlindo Almeida, um “campinista” – brilhante tecnocrata – fruto da geração Edvaldo do Ò, procurou Buega Gadelha, presidente da FIEP e apoiador do “grito das secas”. “Vamos perder o INSA por falta de um espaço físico para sua instalação e funcionamento?” Buega imediatamente cedeu as antigas instalações da FIEP, na rua Maciel Pinheiro, edifício Palácio da Indústria e Comércio. O INSA foi instalado.

Ney Suassuna, como Júlio César, foi apunhalado por seus pares, em quem confiava como amigos. Vítima da inveja, não renovou seu mandato em 2006. Foi traído por todos, a partir do governador José Maranhão, que o lançou candidato a governador no propósito de tirá-lo do Ministério da Integração Nacional. O PMDB brilhava no cenário nacional com Ney. Mas, na província, Maranhão era seu chefe e se sentia ofuscado. Iríamos encerrar, como pretendíamos, a história de Ney, neste artigo. Mas, a memória não pode ser atrofiada. Postaremos a última parte amanhã. Economista, grande palestrante, escritor… Ney tem que escrever sua própria biografia.