Júnior Gurgel
Jornalista político, memorialista e Ghost writer. Ex- diretor de Jornais e Emissoras de Rádio na Paraíba, com atuações no Radiojornalismo.
O INSUPERÁVEL NEY SUASSUNA (Parte II)
Publicado em 7 de novembro de 2023A primeira tentativa de Ney Suassuna para chegar ao Senado Federal ocorreu nas eleições de 1982. Ao perceber que sua aspiração era um projeto natimorto, desistiu. Raciocínio lógico: os velhos “caciques” do Estado jamais lhes dariam espaço.
Conheciam – porém propositalmente ignoravam – sua trajetória e bem-sucedida carreira, festejada no mundo empresarial, respeitada pelas elites econômicas cariocas. Na leitura das lideranças políticas paraibanas, Ney poderia despontar como promissora liderança no Estado, criando uma terceira força, ameaçando as oligarquias estabelecidas desde 1945, afeitas e adaptadas à “gangorra” do revezamento pelo poder.
Nas eleições de 1986 – duas vagas para o Senado – o PMDB queimou seu nome no momento da formação da chapa. Esqueceram-no por completo. Humberto Lucena poderia tê-lo convidado para sua primeira suplência. Mas, preferiu continuar ao lado de outro milionário carioca, o industrial Klabin, então maior produtor de celulose do Brasil. Para a segunda vaga, atraíram o tesoureiro da ARENA (depois PDS), Raimundo Lira.
Elegendo 22 dos 23 governadores dos Estados, formando a maior bancada da história do Congresso Nacional (Câmara e Senado), o PMDB saiu das urnas de 1986 como o maior partido político das Américas. Disputou democraticamente, voto a voto – dentro de um sistema pluripartidário – e derrotou dezenas de legendas, representantes das mais diversas classes sociais, inclusive as inspiradas nas distintas correntes ideológicas.
A hiperinflação pós campanha – governo Sarney – começou a arruinar o PMDB. Mesmo apostando na nova Constituição, promulgada em 1988, Ulisses Guimarães, considerado o tetra presidente”, candidatou-se um ano depois (1989) à Presidência da República (PMDB), com apoio do governo Sarney e estimado como pai da Constituição Cidadã, ainda em vigor. Ficou entre os “lanternas” da disputa. Venceu o outsider Fernando Collor de Melo.
No ano seguinte (1990) o PMDB sobreviveu às eleições para governo dos estados, deputados estaduais, federais e senado. Na Paraíba,Ronaldo Cunha Lima teve a coragem de enfrentar a onda “Collor”, o fracasso do governo Sarney, a humilhante derrota de Ulisses e o esvaziamento galopante do PMDB. Lançou-se sem o apoio do governo do Estado (Burity), enfrentando o ex-governador Wilson Braga – nas pesquisas imbatível – e para o Senado Federal escolheu o deputado federal Antônio Mariz (PMDB mais à esquerda) que já havia sido derrotado por Wilson Braga em 1982. Quem bancaria sua campanha? Liso, sem confiança do empresariado, que na época a lei permitia doações, Mariz estava fadado a encerrar sua vida pública. Mas, lembrou-se de Ney Suassuna, que neste interregno, quando foi abominado pelo PMDB/PB, tornou-se milionário até no Iraque.
Quem comandou a campanha de Mariz foi Ney, que obstinadamente desconheceu por completo seus adversários. Mariz fazia um discurso pouco convincente, fora de época. Ney, chegava com a “estrutura”, arrancando o voto para Mariz e puxando Ronaldo Cunha Lima. Se não fosse o empenho de Ney, Ronaldo não teria chegado ao segundo turno. Na missão obsessiva de eleger Mariz, Ney “turbinou” também a campanha de João Agripino Neto, que surpreendeu o Estado, obtendo mais de 300 mil votos, fato que proporcionou o segundo turno. Braga saiu à frente, com mais de 30 mil votos de maioria.
Mariz eleito, Ney primeiro suplente, Burity que havia apoiado discretamente João Agripino Neto, mandou recado para Braga: procurar João Agripino Neto, antes que Ronaldo conquistasse seu apoio. Braga ignorou. Quem fez João Neto apoiar Ronaldo? Mariz. Como? “Respaldo” em Ney Suassuna. Ronaldo venceu. Governou, e Mariz brilhava no Senado, como presidente da CPMI que levou ao impeachment de Collor, setembro de 1982. Após o impeachment de Collor, Mariz foi surpreendido com uma comorbidade mortal: câncer. Ney só assumiu como suplente – alguns dias – forçado pela exigência do afastamento do titular, para tratamento de saúde (cirurgias). Vitória de Ronaldo, Mariz, Braga derrotado… Não faltaram “heróis” para serem condecorados por seus esforços na exitosa batalha. Todavia, mais uma vez, esqueceram a bravura do Ney.
Na sequência, último capítulo sobre a passagem de Ney na política paraibana. Antes que esqueçam.